EDVAC- Von Neumann

Mesmo quando o ENIAC foi a público, Mauchly e Eckert já trabalhavam planejando um sucessor para o Exército. A principal desvantagem do ENIAC era a dificuldade para mudar suas instruções ou programas. A máquina só continha memória interna suficiente para manipular os números envolvidos na computação que estava executando. Isso significava que os programas tinham de ser instalados com fios dentro do complexo conjunto de circuitos. Alguém que quisesse passar do cálculo de tabelas de tiro para o planejamento de um túnel de vento teria de correr de um lado para outro da sala, como um operador de painel de controle que tivesse enlouquecido, desligando e religando centenas de fios.

O sucessor do ENIAC - denominado EDVAC, sigla para Computador Eletrônico de Variáveis Discretas - foi planejado para acelerar o trabalho armazenando tanto programas quanto dados em sua expansão de memória interna. Em vez de serem instaladas no conjunto de circuitos por intermédio de fios, as instruções eram armazenadas eletronicamente num meio material que Eckert descobriu por acaso, quando trabalhava com radar: um tubo cheio de mercúrio, conhecido como linha de retardo. Cristais dentro do tubo geravam pulsos eletrônicos que se refletiam para frente e para trás, tão lentamente que podiam, de fato, reter a informação por um processo semelhante àquele pelo qual um desfiladeiro retém um eco. Outro avanço igualmente significativo: o EDVAC podia codificar as informações em forma binária em vez de decimal, o que reduzia substancialmente o número de válvulas necessárias.

No final de 1944, enquanto Mauchly e Eckert lutavam com o EDVAC e seu conceito de armazenamento de programa, um consultor especial apareceu na Escola Moore para ajudar no projeto. Era John von Neumann, então com 41 anos, gigante entre os matemáticos, e que exerceria uma profunda influência no desenvolvimento dos computadores do pós-guerra.

O interesse de Von Neumann por computadores surgiu, em parte, de seu envolvimento com o altamente secreto Projeto Manhattan, em Los Alamos, Novo México, onde demonstrou matematicamente a eficiência do assim chamado método implosivo de detonar a bomba atômica. Agora ele estava estudando a bomba de hidrogênio, muito mais poderosa, arma cujo planejamento e construção requeriam prodigiosa quantidade de cálculos.

Mas Von Neumann também percebeu que o computador podia ser muito mais que uma calculadora de alta velocidade. Percebeu que se tratava, pelo menos potencialmente, de um instrumento de pesquisa científica para todos os fins. Em junho de 1945, menos de um ano após juntar-se a Mauchly e Eckert, Von Neumann preparou um memorando de 101 páginas, onde sintetizava os planos da equipe para o EDVAC. Esse documento, intitulado Primeiro Esboço de um Relatório sobre o EDVAC, era uma descrição magistral da máquina e da lógica sobre a qual se apoiava. Herman Coldstine, o oficial do Exército que o recrutara para o projeto, ficou tão impressionado pela maneira como Von Neumann voltava das válvulas eletrônicas e diagramas de circuitos à descrição da organização lógica, formal, do computador, que mandou tirar cópias do memorando, enviando-as a cientistas dos Estados Unidos e da Inglaterra.

Graças a essa publicação informal, o Primeiro Esboço de Von Neumann tornou-se o primeiro documento sobre computadores digitais eletrônicos que veio a conhecer ampla circulação.

Os leitores do Primeiro Esboço tendiam a presumir que todas as idéias nele contidas, especialmente a proposta crítica para armazenar programas na memória do computador, foram concebidas pelo próprio Von Neumann. Poucos compreenderam que Mauchiy e Eckert já falavam a respeito de programas armazenados, no mínimo durante os seis meses que precederam a entrada de Von Neumann em cena. Tampouco perceberam que Alan Turing já incorporara, em 1936, uma memória interna em sua visão de uma máquina universal. (Von Neumann, de fato, conhecia Turing e lera seu artigo clássico quando Turing passou algum tempo em Princeton, pouco antes da guerra.)

Mauchly e Eckert sentiram-se ultrajados pela atenção excessiva dirigida a Von Neumann e a seu Primeiro Esboço. O segredo militar os impedira de publicar artigos sobre seu trabalho, e agora Goldstine violava a segurança e dava plataforma pública a um recém-chegado. O ressentimento de Eckert por Goidstine foi tão profundo que, mais de três décadas depois, ele não entrava numa sala onde seu antigo colega estivesse presente. Não era apenas uma questão de orgulho ferido. Mauchly e Eckert previam com clareza as possibilidades comerciais de seu trabalho, e temiam que a publicação do memorando de Von Neumann os impedisse de obterem patentes. Na verdade, acabaram desistindo das patentes após grandes discussões com os administradores da Escola Moore, os quais insistiam que os indivíduos não deveriam beneficiar-se da pesquisa ali realizada. Como resultado, a equipe da escola foi dissolvida.

John von Neumann juntou-se ao Instituto para Estudos Avançados, e colaborou para o desenvolvimento de vários computadores de concepção avançada. Havia, entre estes, uma máquina utilizada para resolver problemas relacionados ao desenvolvimento da bomba de hidrogênio; Von Neumann, por brincadeira, deu a ela o nome de MANIAC - Analisador, Numerador, lntegrador e Computador Matemático (Mathematical Analyser Numerator, lntegrator and Computer). Também participou como membro da Comissão de Energia Atômica e como presidente do comitê de consultaria da Força Aérea sobre mísseis balísticos. Ele sabia de tantas informações altamente confidenciais que, em 1957, quando se encontrava no hospital Walter Reed, em Washington, D. C., morrendo de um câncer ósseo aos 54 anos, a Força Aérea cercou-o de enfermeiros militares especialmente destacados para segurança. Sua mente brilhante estava entrando em colapso sob a tensão das dores torturantes, e o Pentágono receava que ele murmurasse segredos militares.

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