Capítulo 4

A Lella tentou e tentou, mas não conseguiu nos convencer, e ficou o resto da vida de mau humor. A mãe da Rosa não estava em casa. Íamos mesmo assim... Bom, de trouxa pronta, abrimos a porta da casa e saímos. Ficamos um tempo do lado de fora esperando o Miguel sair da garagem com o carro. Escutamos uma voz vinda lá de longe... "Ei, onde vocês vão ?". Olhamos pra trás e era a mãe da Rosa correndo rápido em nossa direção.

Joana > "Onde vocês vão ?"           

Lella > "Embora !"- disse de mau humor.

Joana > "Mas... Porque ?"

Bina > "Porque a gente tem certeza que não vai ver o Hanson em lugar nenhum, e é melhor a gente voltar."

Joana > "Vocês tem certeza ?"

Lynne > "Absoluta ! "

Joana > "Que pena... Logo agora que eu tinha feito uma coisa pra vocês..."

Sharon > "O que ?"

Bom... Você pode chamar de sorte ou do que quiser. Eu prefiro chamar de recompensa...

Joana > "Eu tinha conseguido esses ingressos aqui ‘prum show de uma banda chamada Hanson, que vai ter hoje de noite, sabe, mas eu acho que eu vou ter que vender, afinal, o que que eu vou fazer com cinco ingressos que eu nem vou usar ?" - disse chacoalhando os tickets na mão

Você provavelmente está se perguntando: "Como ela conseguiu ?". Cara amiga, a gente fez a mesmíssima pergunta:

Todas > "Como você consegiu ?" - os ingressos já estavam esgotados. Não havia meios.

Joana > "Eu conheço uma pessoa que trabalha dentro da arena em que o Hanson vai se apresentar. E resolvi pedir pra ele um favor, já que ele estava me devendo mesmo."

Nos olhamos... ai, que doce a sensação de alívio, e ao mesmo tempo, de vitória. De primeiro momento ficamos estáticas, sem expressão alguma no rosto. Mas, depois de um tempo, e bem lentamente, aquele sorrisão começou a se abrir. E ao mesmo tempo as lágrimas. Nossa, não sei como a gente não desidratou de tanto chorar nessa viagem, se a gente respirava, a gente chorava. Bom, deixa eu continuar... Sorrimos. E nos abraçamos bem forte, chorando muito também. A tia Joana (era assim que a gente chamava ela) ficou muito contente vendo a nossa alegria, e o Miguel, que tinha acabado de sair da garagem ficou sem entender nada.

Joana > "Bom, se vocês quiserem pegar um lugarzinho bom, sugiro que se arrumem logo pra ir pra esse show, porque ele começa às oito. E já são quase quatro horas..."

Nem pensamos duas vezes... Corremos pra dentro da casa, e enquanto a Rosa tomava banho, escolhiamos que roupas colocar. E conversavamos.

Lella > "Que roupa eu cocloco ?"

Sharon > "Ai Lella, pelo amor do Zac, escolhe logo essa roupa."

Lynne > "É capaz de quando ela escolher a roupa, o show já ter acabado."

Sharon > "Hehe..."

Lella > "Bestonas !!!"

Lynne > "Nossa, você magoou tanto a gente dizendo isso..."

Bina > "Sério Ariella !!!"- já disse irritada. A Bina se estressava muito fácil com algumas coisas. A Lella demorar para se arrumar quando tínhamos que fazer alguma coisa importante irritava, mas a Bina se irritava mais ainda.

Lella > "Ai, não precisa ser grossa... Grossa !!!"- disse brava também.

Lynne > "E lelê... Que horinha vocês resolveram brigar, hein ?"

Sharon > "Tá, vamos escolher logo que bendita roupa a gente vai colocar..."

Lynne > "E logo que a Rosa sair Sharon, você entra no banho, porque você é a que mais demora aqui."

Ela espremeu os olhos brava. Era sempre isso que ela fazia quando se irritava. Tá, resumo da ópera: Seis horas da tarde a gente já tava pronta (detalhe, tempo recorde) e saindo. E se você pensa que estávamos com as roupas mais lindas que podem existir, se enganou... A gente estava bem normal, todas de calça jeans e camiseta da seleção de futebol do Brasil (menos a Rosa). Lembre-se que a gente não podia trazer muita roupa, senão podiam desconfiar no Brasil que estávamos viajando.

Saímos. O lugar em que o Hanson se apresentaria ficava mais ou menos a meia hora da casa de Rosa. Ao chegar lá, o lugar estava lotado, como se esperava.

Sharon > "Putz... Que cocô..."

Bina > "A fila tá dando volta no quarteirão..." - e realmente estava.

Lella > "Eu que não vou ficar por último não... Me recuso a ficar no fim da fila !"

Lynne > "Hmmm... Será que você não conhece ninguém que possa dar lugar pra gente Rosa ?"

Rosa > "Eu posso ver. Mas, como não tá parando de chegar gente, fica alguém aí na fila que eu vou com alguém mais pra frente."

Lella > "Eu vou com você."

Lynne > "Eu, a Bina e a Sharon vamos ficar por aqui mesmo."

E elas começaram a andar por toda fila. Achar gente conhecida a Rosa até achou, mas não achou ninguém interessado em ceder um espacinho pra gente. Nem preciso falar o quanto a Lella voltou puta.

Lella > "Meu, que bando de egoísta !!! Não pode dar um mísero espaço pra gente ! Credo, bem que dizem que argentino é uma raça que devia ser extinta !!!" - bom, a Lella tem uma mania querida de falar o que pensa na hora que quer. E na hora da raiva esqueceu que estava na Argentina. E você sabe que brasileiro e argentino não se adoram aquelas maravilhas. Pra falar a verdade eu não sei o que é pior. Argentino ou carioca. Hehe, brincadeira pessoas cariocas. É que tem uns cariocas por aí meio folgados sabe ? Mas eu sei que você que está lendo, se for carioca, não é folgada. Hehe, não leva a mal a brincadeira não, viu ? Eu também sei que carioca não gosta de paulista. Rixa meio boba essa, né ? Mas que todo caiçara é folgado isso não se discute. Hahaha, deixa eu ficar quieta senão eu vou acabar apanhando. Eu sei que paulista é chato também. Blah, chega de falar de diferenças entre países e estados. Vamos voltar ao que interessa.
Então, a Lella tem a mania de falar o que vem na cabeça dela, e só depois pensar no que falou. Ela falou em português, mas as meninas argentinas que estavam por ali ouviram e entenderam. A Bina deu a típica risada alta dela, a Rosa riu pra cacete também e eu e a Sharon começamos a dar umas broncas na Lella.

Sharon > "Porra Ariella, sua mú !!!! ‘Cê bebe ?"

Lynne > "Meu, ‘cê esqueceu que onde você está tá cheio de argentina ?"

Lella > "Foi sem querer, saiu..."

As argentinas que estavam por ali começaram a olhar de um jeito que nos dava até medo. A fila já estava grande atrás da gente, porque não parava de chegar menina, e todas argentinas. Foi quando uma mais folgada (não disse que argentino era folgado ?) chegou encarando.

Folgada > "Como é que é o negócio aí ?"

Rosa > "Sabe o que é ? É que minha amiga aqui tá muito nervosa e..."

Folgada > "Eu tô falando com as brasileiras aqui."- disse nos olhando. Nossa, a menina devia ser campeã nacional de jiu-jitsu de tão grande. Nem preciso falar o cagaço que a gente sentiu na hora. A Lella já tava se preparando pra falar um monte pra menina, e a Bina repetia sem parar: "Meu, ‘bora daqui vai...". É claro que a gente tava bem a fim de sair dali. Como ninguém se manifestou, euzinha aqui tive que amenizar as coisas com a folgadona. A Lella até se ofereceu pra falar, mas se ela fizesse isso, com certeza a gente ia apanhar.

Lynne > "Não, filha, sabe... É que é a nossa primeira vez na Argentina, e a minha amiga aqui tá meio nervosa com alguns acontecimentos , e ela resolveu xingar uma menina ali que fez umas coisinhas que ela não gostou. Se a gente tivesse no Canadá ela xingaria os canadenses... Hehe..."

Sharon > "É... mas a gente tem que ir agora... Vamos."- e nos puxou pela mão, lá pra frente.

Lella > "Porra Sharon, agora a gente perdeu o lugar !!!"

Sharon > "Ah... Se achou... Eu salvei tua vida e você fica ai me xingando. Mú..."

Bina > "Flor, ‘cê não percebeu que se a gente continuasse ali a gorila ia estourar a nossa cara..."

A Lella ficou em silêncio. Ela estava errada, mas não gostava muito de admitir isso.

Rosa > "Tá, mas agora a gente perdeu o lugar e a fila já está bem maior do que estava antes."

Lynne > "Bom, só nos resta apelar para as mais desatentas."

Lella > "Como assim ?"

Lynne > "Assim, ó..." - me aproximei de uma menina com cara de tonta no começo da fila. Comecei a conversar com ela.

Lynne > "E aí ? É a primeira vez que você vê o Hanson ?"

Menina > "Ai ! É !!!"- disse toda empolgada. Ela me disse o nome, mas eu não me lembro. Mentira... Acho que era Carla... É, era Carla mesmo.

Carla > "Nem acredito... isso é tão legal. Estou tão empolgada !"

Lynne > "Que bom, fico muito feliz. Não é a minha primeira vez vendo o Hanson, mas é o primeiro show que eu vou deles."

Carla > "Sério ? Você já viu eles onde ?"

Lynne > "No Brasil. A gente é de lá. A propósito, essas aqui são minhas amigas Lella, Sharon, Bina e Rosa."- a Carla irritou muuuuuuito a Sharon, porque ela tinha uma cara de idiota muito grande e falava de um jeito muito irritante. Mas ela fez o possível para não xingar a menina.

Carla > "Ai, o Tay não tá uma gracinha com esse cabelinho mais curto ? Ai, eu achei uma graça. Ele ficou com uma carinha tão de bebê... E eu adoro menino com carinha de bebê."

Lynne > "É, é..."- eu concordei. Na verdade eu tinha acahado o cabelo do Tay meio estranho e não tinha gostado nem um pouco, mas, como estávamos ali por interesse, resolvemos todas concordar. A Sharon então... Quis enforcar a menina. Ela achava que o Taylor tava parecendo um ovo, hehe...

Carla > "Ah, mas eu não gosto do Zac não, pra mim o Hanson podia ser feito só de Taylor. Esse Zac se acha muito gostoso pro meu gosto. E o Isaac também. Ele se acha o bonzão com aquele sorriso dele, mas ele não é nada disso."

Ai, agora EU quis matar a menina. Como ela falava do Zac daquele jeito ? Quem ela achava que era ? Ela não tinha esse direito. E a Rosa então, que amava o Ike. Nossa, ela teve que se controlar muito, muito e muito. A Sharon sentiu muita raiva mesmo, ela ama o Zac como eu. A Lella e a Bina se irritaram muito também. Puta mina folgada. A gente fez muita força pra continuar perto da menina. Não entrava na nossa cabeça ela gostar só do Taylor e odiar o Zac e o Ike. Ela não parou de falar mal dos dois um minuto sequer. Grrr... Bom, mas ela acabou se entretendo tanto com a gente, que nem se ligou que passamos a sua frente. Finalmente abriram a ‘dita da casa de shows. A gente nem acreditou. Saímos correndo e fomos logo lá pra frente. Não ficamos na primeira fila enconstadas na grade, mas ficamos bem próximas. Graças a Deus aquela Carla chata sumiu, e não a vimos durante o show. Para nós, aquele lugar tava muito bom. Confortável... mas o povo foi começando a entrar e apertar lá dentro, e começou aquele empurra-empurra básico antes do show.

Pra você ter idéia de como a coisa já estava crítica, não entrava nem um átomo ali onde estávamos. E a Bina começou a passar mal. Era incrível como ela só passava mal nas horas inadequadas. Ela começou a gritar que a pressão estava caindo, que ali estava muito quente e que ela queria ir embora. Nossa, como isso irritava. E em especial, a Sharon ficava muito brava. Mas a gente gritou tanto com a Bina que o mal estar dela acabou sumindo. Não era cú doce não, ela sempre passava mal de verdade em lugares assim, mas eu acho que o organismo dela acabou se ligando que era melhor ele voltar a funcionar normalmente.

Rosa > "Saco, esse show já tá atrasado um hora, merda..."

Lella > "E a gente morrendo aqui, puta, como eu queria colocar esses infelizes que atrasam o show aqui no meio pra eles verem como é gostoso. Saco."

Lynne > "E ainda tem M2M para abrir o show... Que demora do cacete !"

Sharon > "Putz... É mesmo, que saco !!!!"

As luzes se apagaram... Nossa, ficamos geladas... mas era só as M2M. A gente já quase morreu amassadas ali no show das M2M, imagina no show do Hanson. Já estávamos suadas, mortas, cansadas e doloridas. As cortinas fecharam. Mais meia hora para arrumarem os instrumentos do Hanson. Ai, que demora mais irritante. Você já reparou que quando você mais quer que o tempo passe ele demora e quando é pra ele demorar ele passa voando. Que raiva disso!

As luzes apagaram de novo. E não era mais pras M2M. Só podia ser o Hanson agora. Eu senti, mas eu sei que a Lella, a Sharon, a Bina e a Rosa sentiram o mesmo... Um frio na espinha, que subia e descia, vontade de chorar, de gritar o mais alto (isso todas aquelas meninas sentiam também), tontura, sensações estranhas e muitos arrepios. A cortina abriu. O lugar ainda estava com as luzes apagadas. Só conseguiamos ver três vultos em cima do palco, iluminados pelos flashes ininterruptos das máquinas fotográficas. Apenas as luzes do placo se acendem. E sobre ele estão Tay, Zac e Ike, sorrindo e acenando, a visão mais perfeita do mundo. E, NOSSA, como estavam lindos. O Tay estava com uma camisa azul e uma calça branca, o Ike estava meio social, com uma camisa cinza e uma calça jeans preta e o Zac estava com uma camiseta bem folgada preta e com uma calça amarela. (Argh ! Odeio amarelo !!!! Mas o Zac pode vai...). O Tay e o Ike sorriam muito fofos, e acenavam. O Zac só olhava e vez ou outra dava um tcahuzinho acompanhado de um sorrisinho. O Tay pronunciou alguma coisas no microfone. Todo mundo começou a gritar muito. Eu nem conseguia ouvir meus pensamentos. Quanto mais o Tay falando. O Ike e o Zac perceberam que todas estavam se empolgando com as palavras do irmão do meio e resolveram falar um monte também. Os gritos aumentaram. Eu não sei porque eles faziam tanta questão e ficar falando tanta coisa. Será que eles já experimentaram tirar aquele ponto eletrônico do ouvido e escutar o show como ele realmente é ? Talvez eles percebessem que ninguém entendia uma única palavra que eles falavam. Eles ficaram lá uns cinco minutos falando. E de repente começaram a tocar. A Sharon quase desmaiou. Ela ama essa música. Eles tocaram quase todas as músicas do This Time Around. Mas as que mais ficaram marcadas no coração (no meu pelo menos) foi "Sure about it", que além de ser minha música preferida, foi acústico e, "A song to sing". Eu estava lembrando de alguma coisa, mas não sabia o que. De repente veio na minha cabeça: Eu tinha sonhado isso no ônibus. Eles no palco cantando "A song to sing" a capella, e um monte de gente em volta, com uma luz azul só neles. Achei melhor não contar pra ninguém... Mas, na hora eu começei a chorar muito. a Bina até achou que eu tava passando mal. Aquele show foi uma experiência maravilhosa ! Foi um momento muito mágico de nossas vidas, momentos esses em que segundos demoravam horas. (Que bom !). Nem a gente morrendo de calor, ou sendo amassadas, ou apanhando de um monte de mão fez com que deixássemos de aproveitar esses show... Ah, como nos sentíamos bem melhor. Tínhamos aproveitado aquele show muito bem, curtindo sempre o presente e não nos preocupando com o que viria depois. Durante o show não trocamos uma palavra sequer. E mesmo que quiséssemos não conseguiríamos. Eles se despediram. Sabíamos que eles não iriam embora, porque eles nunca se despedem e simplesmente vão sem voltar para tocar a música de saideira. A música foi MMMBop. Nossa, foi muito bom ouvir MMMBop ao vivo. Eu sei que parece bobeira, mas eu gostei muito. Eles tocaram algumas músicas do Middle of Nowhere, do Live from Albertane e do Three car, e esses momentos foram aqueles que eu mais amei.

E lá estávamos no nosso primeiro show do Hanson. MMMBop acabou. Sabíamos que o show acabaria também, mas não ficamos tristes. Quer dizer, ficamos sim, mas não aquela tristeza insuportável e incomoda, mas aquela tristeza de quem aproveitou e não se arrependeu e sabe que vai sentir saudades de tudo. Você entendeu o que eu tentei explicar ? Se não entendeu, tudo bem, porque essa sensação é inexplicável. Só sentindo para saber.

Eles deixaram o placo e um monte de menina foi pra porta do backstage.

Capítulo 5 Índice 1
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