Escola Secundária do Fundão
Ano Lectivo de 2000-2001
11º ANO
4 de Junho de 2001 |
Duração
da Prova: 90 minutos |
I
Classifique as afirmações que se
seguem conforme as considere verdadeiras ou falsas. Utilize V para Verdadeiro e
F para Falso. [10X02=20 pontos]
A
capacidade simbólica é comum a todos os seres vivos.
Quanto
maior é a extensão de um conceito menor é a sua compreensão.
O
discurso argumentativo pressupõe a existência de um interlocutor com quem
se interage e, frequentemente, se convence a acatar raciocínios.
A
percepção fornece-nos uma visão absoluta da realidade.
Analogia
é o raciocínio que, de certas semelhanças, infere novas semelhanças.
Na
perspectiva fenomenológica, o objecto modifica-se ao ser captado pelo
sujeito.
Para
Platão o mundo sensível representa um obstáculo para alcançar o
conhecimento verdadeiro.
A
interdisciplinaridade deve ser um procedimento normal em ciência.
Após
o Renascimento, o Homem manteve um atitude contemplativa face à natureza.
Um
dos contributos para a revolução científica do século XX foi dado por
Heisenberg.
1.
Atente na seguinte proposição e considere-a falsa:
1.1.“Alguns
Portugueses são adeptos do Euro.”
a)
Identifique a proposição contraditória. [02
pontos]
b)
Refira-se ao seu valor lógico. [03
pontos]
1.1.1.
Converta a proposição inicial de forma válida. [06
pontos]
2.
Atente na seguinte proposição e considere-a verdadeira:
2.1.
“Todos os Fundanenses apreciam cerejas”.
a)
Identifique a sua subalterna. [02
pontos]
b)
Refira-se ao seu valor lógico. [03
pontos]
2.1.1.
Poder-se-ia converter a proposição inicial numa proposição de tipo A?
Justifique. [08
pontos]
3.
Considere o seguinte silogismo:
Alguns
Portugueses não são adeptos do Euro.
Nenhum
Madrileno é Português.
Todos
os Madrilenos são adeptos do Euro.
3.1.
Identifique o tipo de silogismo. [02
pontos]
3.2.
Avalie o silogismo do ponto de vista formal e, se ilegítimo, justifique a sua
resposta enunciando a(s) regra(s) violada(s). [09
pontos]
4.
Considere um silogismo determinado pelo modo AIA.
4.1.
Avalie, justificando, a legitimidade do silogismo. [10
pontos]
5.
Tenha em consideração que:
Ou
os Portugueses são adeptos do Euro, ou terão de emigrar para a Mongólia.
5.1.
Usando a regra do “Ponendo Tollens”, acrescente a premissa e a
conclusão em falta na proposição considerada, de forma a transformá-la num
silogismo disjuntivo.
5.2.
Justifique o raciocínio anterior. [05
pontos]
6.
Leia o seguinte argumento:
-«Eu
reconheço que não cumpri a Lei ao recusar-me a pagar os salários na nova
moeda., doutor! Mas, por favor, não me condene ao exílio na Mongólia porque
sofro de reumatismo e hipertensão! O clima e a altitude desse país
acabar-me-iam com a vida. Por isso, doutor, tem de repensar a sua sentença!»
6.1.
Identifique o tipo de argumento descrito em 6. [02
pontos]
6.2.
Explique-o. [08 pontos]
Preste
atenção ao seguinte texto:
(...) É a teoria das ideias inatas. (...) Segundo ela, são-nos inatos certo números de conceitos, justamente os mais importantes (...) representam um património originário da razão.”
O texto refere-se a uma teoria sobre a origem do conhecimento. Qual? [05 pontos]
Explique,
considerando apenas dois aspectos, a solução de Jean Piaget para o
problema da origem do conhecimento. [20
pontos]
Leia
atentamente o texto que se segue:
“A revolução mental desenvolvida a partir do século XVI traduziu-se numa ruptura progressiva entre a visão cristã (aristotélico-escolástica) e a visão científica do mundo.
Mais
tarde, os cientistas do século XX, vieram a protagonizar mais um processo de
revisão opondo-se à “rigidez positivista”.
Epistemólogos contemporâneos dedicaram-se ao estudo do desenvolvimento do conhecimento científico tendo, por exemplo G. Bachelard, defendido uma solução descontinuísta.”
[Texto Adaptado]
Caracterize,
considerando dois aspectos, “a visão científica do mundo”
referida no texto. [20
pontos]
No
século XX é ainda possível encontrar vestígios da “rigidez
positivista”. Explique dois deles. [15
pontos]
Fundamente,
considerando dois aspectos, a parte sublinhada do texto. [20
pontos]
Explique,
tendo em conta dois aspectos, a perspectiva epistemológica de
Bachelard. [20
pontos]
Explique como na teoria de T. Kuhn se compreendem os seguintes conceitos: ciência normal, crise e ciência extraordinária. [15 pontos]
PROPOSTA DE CORRECÇÃO
I
1-
F, V, V, F, V, F, V, V, F, V.
II
1 .
a) Nenhum Português é adepto do Euro.
b) Verdadeira.
1. 1 . 1. Alguns adeptos do Euro são Portugueses.
2.
a) Alguns Fundanenses apreciam cerejas.
b) Verdadeira.
2. l . 1 Não. Uma proposição de tipo A só pode converter-se numa A se for definição - se o predicado for essencial ao sujeito).
3.
3. l . Silogismo categórico.
3.2. Inválido. Porque: a) viola a regra que sustenta que de duas premissas negativas nada se pode concluir; b) viola a regra que sustenta que se for negativa e/ou particular uma das premissas, a conclusão terá de ser negativa e/ou particular. ( A conclusão segue sempre a parte mais fraca).
4.
4. 1. É inválido pelo facto de a conclusão não seguir a parte mais fraca; neste caso a conclusão não poderia ser afirmativa.
5.
5.1.
Ou os portugueses são adeptos do Euro, ou terão de emigrar para a Mongólia.
Os Portugueses são adeptos do Euro. Logo não terão de emigrar para a Mongólia.
5.2. Aplicar a regra - modus ponendo-tollens ( modo assertório-negativo) - significa que a premissa menor é afirmativa e a conclusão é negativa.
6.
6. l .Argumentos ad Misercordam.
6.2.Consiste em apelar aos sentimentos, à compaixão o de outrém para obter favores, benesses, tratamentos especiais.
III
1. Racionalismo.
2. O conhecimento resulta do processo mental pelo qual se incorporam os dados da
experiência aos esquemas de acção e aos esquemas operatórios existentes; as estruturas
cognitivas não são inatas mas construídas; as estruturas cognitivas resultam da interacção entre o sujeito e o mundo dos objectos; o desenvolvimento intelectual passa por estádios, onde cada novo estádio é caracterizado pelo aparecimento de estruturas novas; o conhecimento traduz a adaptação progressiva do indivíduo ao mundo exterior; mecanismos de assimilação. acomodação e equilibração.
IV
l . Passa a ser considerado cientifico sé o conhecimento que resultar da utilização do método experimental; o método experimental serve de modelo e inspiração a todas as ciências; só o que é mensurável é susceptível de estudo exacto; os processos da natureza consistem num rigoroso encadeamento de causas e consequências; não interacção do homem que investiga com o fenómeno investigado; utilização de instrumentos científicos, binómio matemática/experimentação; espírito crítico; progressiva autonomização das ciências.
2. Mitos decorrentes do positivismo: mito da cientificidade, segundo o qual o único
conhecimento perfeito é o conhecimento cientifico; mito do especialista, segundo o qual cabe aos especialistas o papel de comando sobre a prática dos homens; a mito da tecnocracia, segundo o qual se justifica o poder da técnica e dos tecnocratas, mito do progresso, segundo o qual se crê que, através das ciências e das técnicas a sociedade se encaminharia para uma situação ideal.
3. As certezas absolutas deram lugar à incerteza; em vários domínios não é possível separar o observador do fenómeno observado; revisibilidade das teorias cientificas; o objecto da ciência moderna determina o modo de construção científica; principio da incerteza de Heisenberg; teoria probabilística; papel criativo do cientista; real velado.
4. O conhecimento cientifico é sempre um conhecimento aproximado; as teorias cientificas podem ser rectificadas; o erro pode constituir um motor para o desenvolvimento científico; o senso comum e a linguagem em constante mutação funcionam como obstáculos epistemológicos; o conhecimento científico resulta de uma dialéctica entre a razão e a experiência; recusa de dogmas.
5. Ciência normal: corpo de conhecimentos que explica os problemas num dado momento da história; paradigmas que os cientistas se esforçam por divulgar. Crise: passagem à ciência extraordinária, verifica-se quando o paradigma dominante se torna inadequado para explicar a realidade. Ciência extraordinária: conjunto de teorias construídas a partir de uma crise.