Voltar ao início do site


O texto abaixo foi extraído do site:

http://www.editorasaraiva.com.br/eddid/ciencias/biblioteca/artigos/leite.html


Leite recebe sinal de alerta

A contaminação de alimentos por agrotóxicos não é novidade no Brasil. Por excesso de dosagem ou desrespeito ao prazo de efeito residual (período de resguardo necessário para que o período ativo perca seu efeito), o brasileiro acaba consumindo frutas, legumes, verduras e grãos impregnados de agentes tóxicos. Uma pesquisa realizada pelo toxicologista Igor Vassilieff, supervisor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, campus de Botucatu, e as farmacêuticas Denise Bissacot e Cristiane de Oliveira, acaba de colocar mais um produto nesta lista: o leite.

No estudo, os pesquisadores comprovaram que os piretróides, grupo de inseticidas sintéticos usados no controle de parasitas externos de bovinos, podem contaminar o leite de vaca. "Até hoje acreditava-se que esses produtos não eram absorvidos pelo organismo do animal", revela Vassilieff. "Isso descartaria a possibilidade de contaminação do leite, mas ocorre exatamente o contrário."

Aplicado sobre o corpo do animal para combater pragas, como carrapato e mosca-dos-chifres, o piretróide consegue ultrapassar a barreira do couro animal e entrar na corrente sangüínea. Embora seja eliminado do organismo, através dos rins e das glândulas mamárias, o processo é demorado. Leva cerca de 35 dias. "Nos primeiros 14 dias, a quantidade de resíduos encontrada é suficiente para causar uma possível intoxicação em quem beber certa quantidade de leite", afirma o professor.

Segundo Vassilieff, os piretróides interferem no sistema nervoso central do ser humano, causando irritabilidade, insônia, dor de cabeça, redução de saliva, coceira ou vermelhão na pele e, convulsão, sintomas parecidos com resfriado e bronquite. "A longo prazo, se a pessoa continuar ingerindo o leite contaminado, poderá apresentar um quadro crônico de alguns desses sintomas", explica. "Não é uma possibilidade pequena, pois esse tipo de inseticida é muito utilizado no rebanho brasileiro sem qualquer controle."

Leite materno

A idéia de avaliar o grau de resíduos no leite de vaca surgiu depois que Vassilieff atendeu alguns casos de intoxicação por piretróides em mulheres provenientes da zona rural, que foram contaminadas durante a aplicação dos produtos em animais ou em plantações. O filho de uma das pacientes, que estava sendo amamentado, apresentava sintomas parecidos com um resfriado. Como o Ceatox costuma atender vários casos de crianças com problemas pulmonares causados por intoxicação por inseticidas domésticos, o pesquisador resolveu analisar o leite materno.

O resultado de teste confirmou a contaminação e incentivou a equipe do Ceatox a realizar a pesquisa em animais para verificar o grau de absorção e a ação residual no leite de vaca. Foram pesquisados os grupos de piretróides mais usados nas fórmulas dos produtos Flumetrina, Deltametrina, Cipermetrina e Lambda-cihalotrina. Dez vacas receberam o tratamento, conforme dosagem indicada pela bula dos medicamentos. No prazo de 35 dias, tempo em que o inseticida protege o animal contra os parasitas, a equipe do professor Vassilieff monitorou a quantidade de resíduos no leite.

Nos primeiros 14 dias, a quantidade de piretróide estava acima do que o corpo humano pode tolerar que é, no máximo, 50 microgramas por litro de leite. Foram constatados, em média, 437 microgramas por litro no décimo quarto dia. "Isso demonstra que a ingestão de 1 litro de leite contaminado já é suficiente para causar alguns sintomas de intoxicação", afirma o pesquisador. "Isso é grave, porque essa quantidade é facilmente consumida por uma criança."

Artigo de autoria de Angela Trabbold,
extraído do
Jornal da Unesp
, outubro de 1998, número 129,
e selecionado pelos professores César, Sezar e Bedaque..







1