A Deriva Dos Continentes:

O Contexto Na Nova Geologia Global

 

1. Introdu��o: A Estrutura Da Terra

Atrav�s do estudo da velocidade de propaga��o das ondas s�smicas no interior das camadas mais profundas durante os terremotos, cientistas e ge�logos do mundo inteiro chegaram a um consenso sobre a estrutura interna da terra. Admite-se hoje que a Terra seja formada por uma crosta (com cerca de 30 a 40 Km de espessura em m�dia) e um manto superior (que vai at� aos 100 metros de profundidade) que juntos formam a Litosfera r�gida e pl�stica. Abaixo desta camada encontra-se o manto inferior (que vai at� aos 2.890 Km), que atrav�s de fus�es parciais, mant�m suas rochas num estado constante de alta viscosidade, que provoca corrente de convec��o em dire��o � Litosfera. O manto inferior cont�m ainda a ZBV (Zona de baixa Velocidade), a qual o separa do manto superior, formando o que se denomina por Astenosfera.

Em seguida, encontra-se um n�cleo externo (que chega aos 5100 Km de profundidade) no estado l�quido formado por ligas de Ferro e N�quel principalmente. Por fim, o n�cleo interno encontra-se no estado s�lido com constitui��o semelhante ao n�cleo externo.

A crosta � dividida do manto pela descontinuidade de Mohorovicic ou Moho; enquanto que o manto se separa do n�cleo pela descontinuidade de Guttemberg.

A crosta ainda � dividida em duas partes fundamentais: a Crosta Continental (formada por rochas com densidade em torno de 2,8 e constitu�da essencialmente por Sil�cio e Alum�nio - SIAL) e a Crosta Oce�nica (de rochas mais pesadas com cerca de 3,3 de densidade e formadas por Sil�cio e Magn�sio - SIMA).

 

Estrutura interna da Terra

 

2. Origem

Durante o jur�ssico, que se iniciou h� cerca de 180 milh�es de anos, a Pang�ia come�ou a se dividir e a formar os atuais continentes.

A deriva continental est� entre as for�as mais poderosas que afetam as mudan�as evolucion�rias.

A tect�nica das placas tem estado em funcionamento desde os primeiros est�gios da Terra e tem desempenhado um papel de destaque na hist�ria da vida. As mudan�as na configura��o relativas dos continentes e dos oceanos t�m influenciado o ambiente, os padr�es clim�ticos e a composi��o e distribui��o das esp�cies. As cont�nuas mudan�as na ecologia do mundo t�m exercido um profundo efeito no curso da evolu��o e, conseq�entemente sobre a diversidade dos organismos vivos.

Durante per�odos de r�pidas convec��es do manto os supercontinentes foram divididos. Essa separa��o levou � compreens�o das bacias oce�nicas, � eleva��o do n�vel do mar e as transgress�es marinhas sobre a terra. A r�pida convec��o do manto aumenta o vulcanismo, o que eleva a quantidade de di�xido de carbono na atmosfera resultando num forte efeito estufa, com condi��es de calor em todo o mundo. Esses epis�dios ocorreram de aproximadamente 200 h� 50 milh�es de anos atr�s.

Quando a convec��o do manto era baixa, as massas da terra juntaram-se num supercontinente. Essa conex�o levou ao alargamento das bacias oce�nicas, diminuindo os n�veis globais do mar e provocando um recuo das �guas, da terra para o mar. Al�m disso, o CO2 atmosf�rico foi reduzido em conseq��ncia dos baixos n�veis de vulcanismo e de desenvolvimento de um "efeito geleira", o qual produz temperaturas mais frias em todo o mundo.

Essas condi��es prevaleceram de aproximadamente 700 a 500 milh�es de anos atr�s, e durante a �ltima parte do per�odo Cenoz�ico.

 

Correntes de convec��o

 

3. Provas Documentais

Uma evid�ncia � que algumas cadeias de montanhas antigas de um continente t�m a sua continua��o em outro.

Forma��es geol�gicas iguais, com rochas e estruturas id�nticas s�o encontradas nos continentes dos dois lados do atl�ntico.

O registro f�ssil do Carbon�fero e do Permiano � semelhante entre a Am�rica do Norte e Europa e entre os continentes do hemisf�rio Sul e �ndia.

A concord�ncia entre os litorais da �frica e Am�rica do Sul tem sido admirada uns 350 anos.

 

4. Evid�ncias

 

4.1. Paleoclima

Se os continentes ocupam posi��es diferentes na superf�cie da Terra, a distribui��o das zonas clim�ticas deve ter mudado no passado e essa mudan�a � diferente em cada continente.

As glacia��es Permocarbon�feras mostraram que os continentes do Hemisf�rio Sul e �ndia estavam unidos sobre a regi�o ant�rtica durante esse tempo e, depois sa�ram da�.

Dunas antigas e dire��o do paleovento.

Distribui��o de Evaporitos. Para haver acumula��o de sal em dep�sitos espessos � necess�rio um clima quente e �rido. Os dep�sitos modernos est�o se formando nestas condi��es, por evapora��o da �gua do mar ou lago salgado. Evaporitos encontrados nas plataformas continentais atl�nticas da �frica e da Am�rica do Sul s�o uma das evid�ncias do movimento de separa��o entre os continentes.

Antigos recifes de algas coral�neas foram achados no Paleoz�ico inferior do c�rculo �rtico, estes corais s�o caracter�sticos do equador, donde se conclui que, no paleoz�ico inferior, o equador passava por estas regi�es.

 

4.2. Paleomagnetismo

Isso fez com que se criasse a teoria de que o p�lo magn�tico se moveu e ocupou posi��es distintas atrav�s da hist�ria da Terra. Mas se isso fosse verdade, todos os continentes tinham que ter suas rochas magn�ticas orientadas para a mesma dire��o em um dado per�odo de tempo. Ao ser feita a curva do movimento do p�lo ao longo dos per�odos geol�gicos, verifique-se que cada continente tem sua curva, que � distinta dos outros continentes. Somente uma explica��o � poss�vel diante deste resultado: os continentes se moveram independentemente uns dos outros. Ao juntar dois continentes que estariam unidos no passado, pela teoria de Deriva continental, as curvas eram as mesmas.

 

Paleomagnetismo

 

5. De Onde Surgiu A Id�ia?

A id�ia dos continentes � deriva � muito antiga e surgiu algum tempo depois que os cart�grafos europeus come�aram a mostrar o contorno das costas do novo mundo. Em 1596, quase cem anos ap�s as viagens de Colombo e Cabral, o cart�grafo alem�o Abraham Ortelius, de tanto fazer mapas, notou a similaridade no contorno das Am�ricas, Europa e �frica e concluiu no seu trabalho Thesaurus Geographicus que estes continentes estavam juntos e depois se desmembraram devido �s press�es causadas por terremotos e inunda��es (floods). Um pouco mais tarde, Sir Francis Bacon, no seu trabalho Novanun Organum, publicado em 1620, comentou que as similaridades entre os continentes eram fortes demais para representarem uma simples coincid�ncia. Em 1658 R.P. Fran�ois Placet escreveu um memorando: La corruption du grand ete petit monde, ou il este montr� que devant le d�luge, l'Amerique n'�tait point separ�e des autre parties du monde no qual sugere que o Novo Mundo se separou do Velho Mundo ocasionando a inunda��o do Oceano Atl�ntico. Alexander von Humboldt em 1800 retorna esta id�ia e afirma que o Atl�ntico �, essencialmente, um imenso vale de rio que foi se separando aos poucos por um grande volume de �gua.

Em 1858 surgem os primeiros argumentos puramente geol�gicos com Ant�nio Snider - Pellegrini. No seu trabalho: La Cr�ation et Ses Myst�rs D�voiles � mostrado a semelhan�a existente entre a flora f�ssil de uma camada carv�o de 300 milh�es de anos aflorante nos Estados unidos e Europa. Para ilustrar a sua explica��o para o fato, Snider - Pellegrini criou o primeiro diagrama com a reconstitui��o dos continentes.

Em 1880 Eduard Suess defendeu a id�ia que a �frica, Am�rica do Sul, Austr�lia e �ndia faziam parte de um mesmo continente, o qual denominou de Gondwanaland (terra do antigo reino dos Gonds na �ndia). Neste mesmo ano Osmond Fisher e George Darwin desenvolveram a hip�tese que a Lua se desprendeu da regi�o do Oceano Pac�fico, ocasionando o desequil�brio e movimento dos continentes. Entre 1908 e 1922 dois americanos, Frank B. Taylor e Howard B. Backer, independente e quase simultaneamente publicaram diversos artigos sobre a deriva dos continentes tendo como base a continuidade das cadeias de montanhas modernas nos diversos continentes. Baker, em 1908, acreditava que h� 200 milh�es de anos atr�s havia uma s� massa de terra situada na regi�o da Ant�rtida e, dois anos mais tarde, Taylor defendeu que, ap�s o rompimento deste supercontinente, os fragmentos continentais resultantes se movimentaram em dire��o a regi�o do Equador.

Portanto, quando Alfred Lothar Wegener em 1912 publicou o seu primeiro trabalho a id�ia de deriva dos continentes j� tinha mais de 300 anos. Mas este astr�nomo, geof�sico e meteorologista alem�o construiu uma teoria consubstanciada em argumentos s�lidos e dados levantados por diversas �reas do conhecimento cient�fico: geografia, geologia, biologia e climatologia.

 

5.1. Evid�ncias Geom�tricas

Como se pode perceber os atuais fragmentos continentais ainda se encaixam como um quebra-cabe�a gigante. As imperfei��es verificadas na montagem s�o causadas pela din�mica da superf�cie do planeta que, devido � descida subida do n�vel do mar ou � eros�o, alarga ou diminui a costa dos continentes. Como o n�vel do mar varia bastante ao longo do tempo, fica dif�cil determinar qual �, o formato dos continentes utilizando-se somente os dados das plantas cartogr�ficas, como havia feito Wegener. Para contornar o problema, os cientistas modernos se utilizam tamb�m de dados batim�tricos, magnetom�tricos e gravim�tricos, os quais com a ajuda de programas de computador, permitem reconstruir com fidelidade o contorno continental representado pelo in�cio da plataforma.

 

6. Continentes � Deriva E As Id�ias De Wegener

 

6.1. Evid�ncias Paleol�gicas.

Os f�sseis considerados por Wegener foram:

  1.  Glossopteris - esp�cie vegetal t�pica de climas frios existentes no Carbon�fero - Permiano - Tri�ssico (350-200 M.a), encontrada na Am�rica do Sul, �frica, Madagascar, �ndia Ant�rtida e Austr�lia.

  2. Mesosaurus - r�ptil existente no Permiano (245-2866 M.aa) encontrado no Brasil, Argentina e �frica do Sul.

  3. Lystosaurus - r�ptil existente no Tri�ssico (248-211333 M..a) encontrado �frica Central, Madagascar, �ndia e Ant�rtida.

  4. Cynognathus - r�ptil existente no Tri�ssico (248-211333 M..a) encontrado na Am�rica do Sul e �frica Central.

 

6.2. Evid�ncias Geol�gicas

Wegener argumentava que algumas cadeias que se encontravam bruscamente interrompidas, como seria o caso de cadeias na Argentina e �frica do Sul, adquiriam perfeita continuidade quando se juntavam a Am�rica e �frica. Entretanto, o argumento geol�gico mais forte que Wegener apresentou est� relacionado com o empilhamento estratigr�fico de rochas que ocorre no nordeste da �ndia, Ant�rtida, sudeste da Am�rica do Sul, leste da �frica e Austr�lia, as quais possuem idades variando entre 300 e 135 M.a atr�s. Esta sucess�o de rochas (chamadas de seq��ncia Gondwana), sendo resultante dos mesmos processos tect�nicos e deposicionais, mas est�o distribu�das em diferentes �reas, o que refor�a a id�ia da jun��o dos continentes no hemisf�rio sul em �pocas anteriores a 135 M.a.

 

6.3. As causas da deriva

Inspirados na id�ia de Wegener muitos outros geocientistas aprimoraram a reconstitui��o do movimento dos continentes, organizando a seguinte seq��ncia de eventos.

Tempo anterior a 300 M.a: Outras formas continentais em movimento;

Entre 300 a 225 M.a: Forma��o de um s� continente - Pang�ia - cercado por um s� oceano - Pantalassa;

Entre 200 a 180 M.a: In�cio de separa��o dos blocos Gondwana e Laur�sia e rompimento do Gondwana em dois sub-blocos: (1) �frica - Am�rica do Sul e (2) Ant�rtida � �ndia - Austr�lia. Avan�o do Mar de T�tis entre os blocos sub-divididos;

135 M.a: In�cio do rompimento do Am�rica do Sul da �frica e separa��o da �ndia do sub-bloco 2;

65 M.a aos dias de hoje: Movimento de rota��o da �frica para norte, indo de encontro a Eur�sia, choque da �ndia com a �sia; separa��o Am�rica do Norte da Eur�sia; separa��o da Austr�lia da Ant�rtida.

 

O "Baile" dos continentes

 

7. A Teoria De Suess

As id�ias admitidas at� meados do s�culo XIX sobre a origem do relevo da Terra eram as propostas por Edward Suess, ge�logo austr�aco, no final do resfriamento da crosta atrav�s de um processo de contra��o, tal como uma ma�� que vai ressecando sua casca e ent�o enruga. Com isso, Suess explicava como surgiram as altas cadeias montanhosas do mundo. Para explicar a semelhan�a de faunas e floras f�sseis em diferentes partes do mundo, Suess propunha a exist�ncia de passarelas de terra entre aos continentes que afundaram posteriormente com os processos do mar. As regress�es e as transgress�es marinhas eram explicadas pelo processo de isostasia (uma esp�cie de lei de compensa��o de volume). Isso explicaria os dep�sitos marinhos de sedimentos sobre os continentes, pois atrav�s das transgress�es marinhas (causadas pelo dep�sito de sedimentos no fundo dos oceanos) teriam levado estes para cima dos plat�s continentais. As regress�es seriam causadas devido a rebaixamentos e depress�es do fundo oce�nico.

 

8. Conclus�o

A deriva continental causou um profundo efeito sobre a vida deste Planeta desde o seu in�cio. Os continentes e as bacias oce�nicas est�o continuamente sendo remodeladas pelas diversas placas da crosta que est�o constantemente em desenvolvimento.

A moderna e jovem teoria de tect�nica de placas, al�m de oferecer um modelo completo e elegante sobre o movimento dos continentes, levanta outras quest�es sobre a Din�mica da Terra que at� ent�o a humanidade desconhecida.

Os rumos tomados pela geologia, a partir da segunda metade do s�culo XX apesar de ter comprovado a maioria das evid�ncias de Suess, demonstrou a inviabilidade da teoria das passarelas submersas.

Entretanto, alguns problemas de encaixe ainda persistem, principalmente nas costa Leste da �frica e na regi�o do Caribe, nas quais os dados dispon�veis ainda n�o permitem uma reconstitui��o exata.

 

"...� como que se tudo passasse ao recortarmos uma folha de jornal. Basta apenas juntarmos os peda�os para encontramos os segredos da Terra..."     (Alfred Lothar Wegener)

 

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