“Estas
parábolas ressaltam a necessidade de utilizarmos os dons que possuímos
em nosso benefício e no das pessoas a nossa volta. Trata-se de um
alerta para a necessidade de todos cumprirem seus deveres, ficando
clara, também, a existência do livre-arbítrio, já que cada um pode
utilizar os bens recebidos como lhe aprouver. Afinal, o senhor se
ausentou para longe... Os diferentes talentos recebidos, se utilizados
convenientemente, significarão bem estar para a humanidade. Todavia, a
relutância em cooperar com os outros, o egoísmo e o orgulho, acabam
implicando em elevadas cargas de sofrimento para todos aqueles que
insistem em “esconder seus talentos”.
O homem a que Jesus se refere na parábola escrita por Mateus pode ser
interpretado como Deus (ou Seu representante, Jesus), porém a expressão
homem de nobre origem descrita por Lucas não deixa dúvida: é Jesus.
Os servos somos nós, a humanidade.
Os talentos e minas distribuídos eram moedas comuns na antiguidade, e
foram utilizadas por gregos e romanos. Um talento equivalia a 60 minas.
Um talento, hoje em dia, corresponderia a aproximadamente 50g de ouro.
No contexto da parábola, eles representam bens e recursos que podem ser
utilizados em benefício próprio ou da coletividade, que nos são
outorgados por ocasião da nossa encarnação. Não se tratam de
conquistas espirituais (talentos ou minas não são virtudes), e sim de
empréstimos que nos acompanharão por determinado período na carne
para que possamos, então, alcançar as conquistas espirituais latentes
em todos nós. Alguns exemplos seriam: riqueza, poder, beleza, saúde,
cultura (lembrar que cultura é muito diferente de sabedoria), e, porque
não dizer, conhecimento espírita e mediunidade. Estes bens são dados,
segundo Mateus, a todos, ainda que em quantidades variadas, de acordo
com a capacidade de cada um, capacidade esta que vem sendo desenvolvida
ao longo das encarnações. Os que mais receberam terão maiores
responsabilidades, pois como dizia Jesus, muito será cobrado daquele
que muito recebeu. Poderíamos fazer o seguinte escalonamento com relação
aos talentos distribuídos: os que receberam cinco talentos são Espíritos
mais experimentados e possuem missões de repercussão mais ampla,
auxiliando a sociedade em geral.; já os que receberam dois talentos têm
tarefas restritas ao âmbito familiar; e os de um talento, tarefas
relativas ao progresso espiritual próprio, adquirindo virtudes que
ainda lhe faltam.
Lucas considera que as minas são divididas igualmente, embora o
resultado de cada servo seja diferenciado, mostrando as diferentes
capacidades de cada um daqueles que receberam estes bens (minas). O
termo negociar, em Lucas, representa a necessidade de se colocar em prática
os bens recebidos. Já em Mateus, tem-se o mesmo significado para o
termo trabalhar com o talento.
No Evangelho de Lucas, os concidadãos odiavam o senhor e não queriam
que ele reinasse. Na imagem dos inimigos, percebe-se a relutância da
humanidade em aceitar a Lei que Jesus trouxe. Ele, após ter recebido a
sua realeza, ou seja, obtido o reconhecimento pelo cumprimento de sua
missão na Terra durante sua encarnação, voltou, como forma de chamar
a atenção sobre a importância de se avaliar a boa ou má utilização
dos talentos recebidos. A região longínqua a que ele se refere pode
ser interpretado como o mundo espiritual. Na parábola, os que não
aceitam este reino são trucidados na presença do senhor. Trata-se de
um alerta a todos os que não desejam a implantação de um mundo de
Paz, para as consequências dolorosas que experimentarão se
perseverarem no egoísmo e no orgulho. A execução está associada ao
banimento para planetas inferiores à Terra.
Mateus ressalta que o senhor voltou depois de muito tempo. O tempo
representa a existência terrestre durante a qual devemos colocar em prática
os talentos que recebemos. O termo muito mostra que diversas
oportunidades surgem no nosso caminho antes da prestação de contas. O
acerto de contas é feito, na verdade, no tribunal de nossas próprias
consciências, que avalia os talentos recebidos e o que foi produzido.
Temos de dar conta do que nos foi emprestado na mesma proporção. Se
recebemos muito, muito temos que fazer.
A multiplicação dos talentos ou minas mostra a possibilidade de
utilizarmos os bens recebidos, transformando, por exemplo: a riqueza em
prosperidade, e o conhecimento para extinguir a ignorância. O Senhor não
deseja o impossível. Ele sabe que precisamos construir, com os dons
ofertados, a base para nosso crescimento espiritual. Os que assim
procedem entram no gozo do Senhor, ou seja, conseguem encontrar a Paz
face a consciência tranquila pelo dever realizado. A expressão sobre o
muito te colocarei retrata o aumento da influência da pessoa no mundo,
e, em consequência, o aumento de sua capacidade de conquistar as
virtudes, e a responsabilidade decorrente dessa influência. Na parábola
de Lucas, esta abrangência de influência está simbolizada no número
de cidades.
Na figura do servo que enterrou o talento no chão, ou depositou a mina
num lenço, encontram-se aqueles que não utilizam seus talentos em
benefício de ninguém. É o caso do talento da riqueza transformado em
avareza, fome ou miséria, da saúde transformada em doenças ou dores.
O servo justifica sua atitude na severidade do Senhor, afirmando temê-lo.
Este temor busca esconder a sua indolência. A forma de agir deste servo
reflete a situação de todos aqueles que preferem atribuir erros aos
outros do que enfrentarem a realidade. Quanto à percepção do servo
acerca da severidade do Senhor, podemos ver aí a conhecimento de Deus,
da imortalidade da alma, e da Lei de Causa e Efeito, inatas no homem. Já
a figura ceifas onde não semeastes refere-se ao fato de Deus conseguir
extrair do “Mal” que criamos o Bem que almejamos. O pranto e ranger
de dentes representam o remorso e o sofrimento decorrentes do não
aproveitamento das oportunidades que recebemos ao longo da nossa existência.
Mateus fala da possibilidade do talento ser depositado com os
banqueiros, e Lucas, na de confiar a mina recebida ao banco. Nesta
passagem, os banqueiros representam aqueles que já estão capacitados
para multiplicar os talentos. Quando temos dificuldade para colocar em
prática os dons recebidos é importante buscarmos a companhia daqueles
que já estão mais à frente na estrada. Esta companhia nos ajuda a
desenvolver nossas virtudes latentes.
No caso daqueles que foram bem sucedidos, a parábola diz que receberão
ainda mais. Podemos interpretar esta colocação do seguinte modo:
aqueles que desejam progredir receberão proteção cada vez maior, a
fim de expandir seu raio de atuação, espalhando o Bem. Existe aí uma
semelhança com a parábola do semeador. Aquele que não foi bem
sucedido perderá até aquilo que tem, segundo algumas traduções. No
caso de Mateus, a versão latina utiliza a expressão: até aquilo que
parece ter. É sempre importante ressaltar que o dom (talento/mina) não
representa a virtude. Aqueles que conquistam virtudes obterão mais
talentos nas próximas encarnações, porém os que não utilizam bem os
dons para obter a Virtude, perderão, até, a oportunidade de receber o
empréstimo de novos talentos. Um exemplo seria uma pessoa que faz um
empréstimo no banco para comprar um automóvel, sem ter o dinheiro para
tal. Ao comprar o bem e sair nas ruas, aparentará ser o proprietário
do veículo. Caso não consiga obter meios para pagar o empréstimo
contraído no banco, perderá o automóvel.
A conclusão é sempre a mesma, receberemos da Vida aquilo que
oferecermos a ela.
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