"Diante do Juiz"

Comentários de Frei Paulus ([email protected])

 

1) Quem são os nossos adversários?

Nossos adversários podem ser aquelas pessoas que tenham alguma coisa contra nós, mas, a julgar pelo sentido profundo dos ensinamentos de Jesus, que sempre buscava nos indicar caminhos para a nossa auto-iluminação, o nosso crescimento espiritual, imaginamos que ele estava se referindo a outra classe de adversários.

De acordo com o Espírito Hammed, no livro Os Prazeres da Alma, pág. 63, "nossos piores inimigos ou adversários estão dentro de nós, não fora. É imprescindível nos reconciliarmos com os opositores íntimos, ou seja, enxergar com bastante nitidez nosso lado escuro, para atingir paz e tranqüilidade de espírito."

Continuemos com Hammed, na mesma obra. pág. 59, quando nos explica a concepção junguiana de sombra, como sendo o modelo ou representação de tudo aquilo que não admitimos ser e que nos esforçamos por ocultar e/ou valores inconscientes e qualidades em potencial esquecidas nas profundezas de nossa intimidade que precisamos despertar dentro de nós.

Bom, nessa sombra jogamos todos os nossos adversários: as nossas inclinações inferiores, os apegos, os vícios e as paixões. Temos consciência de alguns deles, mas só de alguns. Esses adversários (os conhecidos e os desconhecidos) funcionam como tendências, impulsos, emoções, sentimentos e atributos, que acabam por nos "conduzir" em nossas escolhas, geralmente de forma a nos fazer enveredar por caminhos menos felizes.

Eles, paralelamente, servem para nos enrijecer os padrões de julgamento. A Psicologia explica satisfatoriamente a razão de condenarmos no outro o que escondemos em nós mesmos. Observemos as pessoas extremamente críticas. Elas escondem "monstros" horrendos dentro de si e, ao condenarem o outro, condenam-se a si mesmas. Aqui o ensinamento do "não julgueis" de Jesus ganha novos contornos, principalmente quando observamos sua conduta diante da mulher adúltera.

A reconciliação com os nossos "adversários" somente pode se dar pelo autodescobrimento, pela viagem interior, que devemos realizar sem desculpismos, sem justificativas, sem querer ser os melhores, sem encontrar razão para nos auto-elogiarmos. Na verdade, quando a criatura se decide por "mergulhar a sonda da investigação em seu interior", nos dizeres de Joanna de Ângelis, em sua série psicológica, ela deve estar preparada para encontrar bastante "entulho", coisas imprestáveis, recalques, traumas e outros "bichos". Mas, também aqui, Jesus vem nos explicar: "não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz" (Lucas 8:17).

Santo Agostinho, na questão 919 de O Livro dos Espíritos, nos ensina a iniciar esse mergulho interior, através do "conhece-te a ti mesmo". Enquanto "acalentarmos" a sombra em nosso interior, não faremos "brilhar a nossa luz".  

2) O que significa a frase: enquanto estás com ele no caminho?

O caminho aqui é a oportunidade da existência atual. Recebemos o corpo físico, os parentes, o trabalho atual, a escola, os vizinhos, como uma valiosa oportunidade de expiarmos, resgatarmos erros do passado e repararmos o mal praticado. Além disso, essa oportunidade nos será contada como uma provação, isto é, um "teste" com o objetivo de ascendermos um (ou mais de um) degrau na escala da evolução intelectual e moral.

Reconciliar com o adversário enquanto estamos com ele no caminho, significa eliminarmos a nossa sombra, nos iluminarmos ainda nesta existência, porque já perdemos muito tempo, já adiamos em demasia o nosso adiantamento.

3) Quem são o juiz e o oficial de justiça (ou executor)?

O juiz e o oficial de justiça, de acordo com nossa interpretação, serão a nossa própria consciência, quando nos depararmos no "tribunal" íntimo que nos acusará pelo mal que pratiquemos e, também, pelo bem que deixamos de fazer.

4) O que significa a prisão?

O que será a prisão senão o fato de habitarmos um planeta de provas e expiações como o  que habitamos? Ou será que habitaremos planetas ainda mais primitivos?

Será que aqui não ganha colorido especial o "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará?"

5) O que se pode entender da afirmativa: não sairás de lá (prisão) enquanto não pagares o último centavo?

Enquanto não nos quitarmos com as leis divinas que regem o Universo, não poderemos sair da roda das encarnações ou samsara, no conceito dos orientais. 

Aqui na Terra, principalmente no Brasil, sempre damos um "jeitinho". Imaginamos, ingenuamente, que também daremos um jeitinho com as leis divinas. Se não somos pegos na malha fina da Receita Federal, já nos consideramos salvos da sonegação ou da declaração incorreta dos gastos com saúde e educação; se cometemos adultério e nosso cônjuge não descobriu, já respiramos aliviados porque fizemos tudo "direito"; se apresentamos uma nota fiscal fria ou adulterada e embolsamos o dinheiro e não somos descobertos, nos vangloriamos da nossa "esperteza", etc. 

As Leis Divinas não são enganadas, todavia. Ficaremos espantados com o grau de acusações que a nossa consciência nos arremeterá no "dia". Cada pensamento infeliz, cada palavra indevida, cada mentira, cada maledicência, cada imagem mental menos digna, cada gesto inferior nos serão cobrados. E, até que façamos a devida expiação e reparação, não nos desvencilharemos dos efeitos de nossa própria atividade. 

Se nos resolvermos por quitar todos esses débitos antigos (e não adquirir novos) ainda nesta existência, estaremos nos reconciliando com os nossos adversários enquanto estamos com eles no caminho.

Outra Interpretação

(Comentário publicado no Geema, em 27 ago 03, no estudo do Evangelho)

 

Evangelho Segundo o Espiritismo

Cap. X, 5 e 6

Reconciliação com os adversários

Comentários

  

Meus queridos irmãos do GEEMA,

Que Jesus nos abençoe hoje, agora e sempre!

Tem-se, normalmente, uma idéia negativa da palavra adversário, como se fosse reservada a uma pessoa contra quem devemos realizar todos os esforços para afastar de nossa vida. Esse afastar, que se pode traduzir por separação, mudança de cidade, emprego, etc., nada mais faz que simplesmente adiar a reconciliação, que se dará em condições mais difíceis.

O nosso querido Chico Xavier tinha uma expressão toda especial para aqueles a quem consideramos adversários. Ele os chamava de “amigos estimulantes”. Nada pode ser mais próximo da verdade.

Analisemos mais detidamente a expressão do nosso querido amigo:

“Amigos” – palavra mais adequada ao sentimento de fraternidade universal que devemos desenvolver com relação a todas as pessoas, inclusive aquelas de outros países, de outras religiões, etc.

Ainda que a pessoa pareça se situar em franca oposição aos nossos sinceros desejos de felicidade, ela não deixará de ser um irmão nosso que merece o nosso carinho e a nossa atenção. O que acontece, muitas vezes, é que nós mesmos não estamos em condições de oferecer esse carinho e essa atenção e, por isso, as relações costumam ser turbulentas.

A idéia, comuníssima, de se considerar os adversários como inimigos mortais, atinge frontalmente o ideal de amor que Jesus veio nos ensinar. E, considerando que todas as lições que ele veio nos trazer são voltadas para a prática do amor incondicional, não se poderá conceber a idéia de consciência tranqüila quando se cultivam desafetos.

“Estimulantes” - oferece uma idéia do valor desses “ammigos” para o nosso crescimento espiritual. Os amigos que temos, em sua maioria, não se dignam apontar-nos os defeitos, para não nos ferir, entretanto os “adversários” são fiscais impiedosos da nossa conduta e, por isso, prestam um grande serviço de auxílio à nossa vigilância.

Os “amigos estimulantes” colocam nossas fraquezas à mostra, o que nos obriga a enfrentá-las, única forma possível para sua superação.

Os “amigos estimulantes” nos convidam incessantemente à prática da humildade e ao exercício da simplicidade.

Enquanto não nos reconciliarmos com eles, não poderemos nos desvincular da roda das encarnações, ou seja, não nos tornaremos espíritos puros alimentando mágoas e ressentimentos contra nossos irmãos.

Sabemos que não se trata de tarefa fácil, essa reconciliação com os “amigos estimulantes”, mas, se não nos esforçarmos, serão inúteis as nossas pregações e os nossos exemplos.

Que Jesus nos abençoe e ilumine. Que os Bons Amigos nos estimulem a reconciliação, o perdão incondicional e, principalmente, o amor aos nossos irmãos que vêm colocar à prova a evolução que já conquistamos.

Que assim seja!

Fiquem na paz!

Frei Paulus.

 

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