"A Geração de Hoje"

Explicação Inicial

Alguns podem se questionar sobre o porquê de colocarmos esta e outras passagens do Evangelho sob o título de parábola. Reconhecemos que muitos até hoje trataram como tais apenas aquelas passagens em que os Evangelistas decididamente afirmavam que Jesus propunha aos ouvintes uma parábola. No entanto, consideramos que toda comparação, figura ou alegoria que Jesus utilizou deve merecer nossa reflexão, pois, atrás de seu fundo de simplicidade, escondem-se grandes verdades espirituais.

 

Contexto da Parábola

Para entendermos a comparação que Jesus utilizou sobre  a "geração", são necessárias algumas considerações:

O "poema" inicial do Evangelho segundo João explica como a geração que deveria ter recebido Jesus não o fez: "O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam" (Jo 1:10-11).

Os hebreus eram o povo mais preparado, à época, para receberam a mensagem do Cristo. Monoteístas, disciplinados na obediência à lei trazida por Moisés, eles eram o melhor terreno para receber a semente do Evangelho.

No entanto, a despeito dessas características favoráveis ao acolhimento da Boa Nova de Jesus, eles não o receberam.

Assim como Moisés e os profetas do Velho Testamento, João Batista era o precursor de Jesus, isto é, ele veio preparar o terreno. Malaquias e Isaías, dotados de belíssimas faculdades mediúnicas, já haviam previsto a vinda de João Batista: "Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim" (Ml 3:1). "Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo a vereda de Deus (Is 40:3).

O primeiro capítulo do Evangelho segundo Lucas é dedicado, integralmente, ao advento de João Batista. João era filho de Zacarias e Isabel, que, por sua vez, era prima de Maria, a mãe de Jesus.

No livro Boa Nova, do espírito Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier, vamos encontrar, no capítulo 2, um episódio em que Isabel e João visitam Maria e Jesus. Ali as mães conjeturam sobre o futuro dos filhos e se preocupam, como é normal por parte dos corações maternos. Ouçamos as palavras de Humberto de Campos: "...O Mestre dos mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no limiar de seus gloriosos ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um dos mais belos de todos os símbolos imortais do Cristianismo..."

João Batista, reencarnação do profeta Elias, era a austeridade em pessoa. Mateus (3:4) afirma que ele "usava vestes de pêlos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre."

Os fariseus não o aceitaram, todavia. João Batista foi decapitado por ordem de Herodes, o tetrarca.

Respostas às Questões para Reflexão

1) Por que Jesus questiona "esta geração"?

Esta passagem se refere a um testemunho que Jesus dá de João Batista. Jesus pergunta ao povo: "que saístes a ver no deserto?... Para ver um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta...Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele...E se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir... quem tem ouvidos para ouvir, ouça... mas a quem hei de comparar esta geração?"

Jesus questiona esta geração porque as evidências do Messias que os Judeus esperavam estavam muito claras e a geração não via.

Estava escrito que, antes do Messias, o profeta Elias retornaria para "pregar no deserto", isto é, tentar preparar o terreno árido e arenoso do coração humano.

Jesus afirma abertamente que João Batista era Elias, que deveria vir. Ou seja, ele era a reencarnação do profeta Elias, mas o povo não compreende.

Se João Batista era austero e intransigente com os erros e os errados (o que levou à sua decapitação, já que condenava abertamente o fato de Herodes ter subtraído a mulher de seu irmão Felipe), Jesus era flexível e não fugia a uma oportunidade sequer de estar entre os pecadores ("os sãos não têm necessidade de médicos"). No entanto, os judeus não aceitavam nem um nem outro.

E, por isso, até com certo ar de perplexidade, Jesus se pergunta: "a que hei de comparar esta geração?" João Batista, cheio de qualidades, era acusado de "estar com o demônio" e ele, o rei dos reis, era menosprezado por viver à volta de pecadores.

2) Por que Jesus compara a geração a meninos?

Jesus não utilizava símbolos vazios, sem significados.  Ouçamos a opinião de Antônio Luiz Sayão, em Elucidações Evangélicas, pág. 260: "usando, mais uma vez, de linguagem apropriada à capacidade intelectual dos que o ouviam, Jesus, por meio dessas palavras, mostrava aos homens que suas inteligências rebeldes recusavam todos os testemunhos da verdade, quaisquer que fossem, propensos sempre a procurarem, no que observavam, uma razão de ser estranha à bondade de Deus, não se rendendo nem mesmo à evidência."

Jesus se vale da figura dos meninos porque, intelectual e moralmente, aquela geração (que ainda vagueia pela Terra e pouco "cresceu") era como crianças ainda aguardando o seu próprio desenvolvimento. Além do mais, é muito comum encontrarmos nas crianças a indecisão sobre o que realmente querem. Aquela "geração" não sabia o que queria do Messias: nem a "austeridade" de João Batista, nem a "flexibilidade" de Jesus.

3) O que podemos entender da conclusão de Jesus: entretanto a sabedoria é justificada pelos seus filhos (obras)?

Jesus, com essa afirmativa, vem, mais uma vez, testemunhar da Justiça e da Sabedoria das Leis Divinas. Independentemente do julgamento dos judeus, do que eles acham certo ou errado, as Leis de Deus seguem o seu curso. E, conforme já sabemos, ninguém se salvará por ter adotado esta ou aquela religião, por ter acreditado nesse ou naquele fenômeno, mas, exclusivamente pelas obras que cada um venha a realizar.

Sábio não é o que adota esta ou outra filosofia, o que "reza" nesta ou naquela cartilha. Sábio é o que pratica a caridade na sua mais ampla acepção. Ainda que o lema do Espiritismo seja "Fora da Caridade não há Salvação", há muitos espíritas que ainda não entenderam esse estandarte e continuam preocupados com a posse de mais e mais bens materiais, se esquecendo dos verdadeiros objetivos da encarnação. Ao mesmo passo, há irmãos de outros credos religiosos que, apesar de seguirem religiosamente os dogmas humanos ou se prenderem à letra da Bíblia, exclusivamente, praticam a caridade em casa e fora de casa; são bons naturalmente; produzem boas obras.

Não é preciso dizer quem está cumprindo a "vontade do Pai que está nos céus", ou é?

Que Jesus nos ilumine e nos proteja e que possamos continuar merecendo a companhia dos irmãos da Espiritualidade Maior.

Fiquem na paz,

Frei Paulus

 

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