PÉROLAS da "Boa língua" 

UM PAÍS DE SALTEADORES? 

 

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Um país de salteadores?

Editorial do Expresso de 27/5/00

OS EPISÓDIOS ocorridos nos últimos meses envolvendo Mário Soares e Angola, por um lado, e Rocha Vieira e Macau, por outro, têm algum paralelismo.

Num e noutro caso, duas figuras nacionais foram alvo de ataques vindos de parcelas do antigo império.

Soares foi acusado de ser beneficiário do marfim e dos diamantes de Angola - e Rocha Vieira é criticado pelos 50 milhões de patacas que utilizou para constituir a Fundação Jorge Álvares.

No que respeita a Soares, a acusação é ridícula, pelo que não merece comentários; no que toca a Rocha Vieira, sendo verdadeira, soa estranhamente a falso.

Num território em que o jogo gera quase 20 biliões de patacas por ano, que sentido faz uma polémica pública em torno de 50 milhões, que correspondem às receitas de um único dia de jogo?

As acusações a Soares e a Rocha Vieira parecem, pois, ter um fundo político.

Parece existir a intenção de ferir o antigo colonizador, de o magoar, de o levar a ter má consciência da acção que desenvolveu.

Ora esta é uma razão suplementar para que as autoridades portuguesas se mantenham firmes.

Firmes, primeiro, na defesa do princípio de que os interesses dos cidadãos não devem confundir-se com os interesses do Estado - e, por isso, estes episódios não devem prejudicar as relações entre Portugal e Angola e entre Portugal e a China.

Mas firmes, também, na defesa da honra de personalidades portuguesas que desempenharam altos cargos e merecem o respeito do país.

É inadmissível, na verdade, que Soares seja tratado como um «traficante».

Ou que Rocha Vieira seja visto como um «oportunista».

A política desenvolvida por Portugal nos últimos anos de presença em Macau, fortalecendo as instituições, apostando no desenvolvimento, construindo grandes obras como o aeroporto e o centro cultural, mostra que não estivemos no Oriente só para abanar a árvore das patacas: procurámos criar riqueza de que os habitantes de Macau possam beneficiar no futuro.

Seria injusto que, depois desse esforço, ficasse no Oriente a imagem de um país de salteadores - ou que o último governador fosse visto como um «pirata» fardado.

É natural que a China se queira demarcar da administração portuguesa.

Compete a Portugal não ser cúmplice dessa intenção.



 

 

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