Sr. Presidente da República:
Sou uma simples portuguesa; uma cidadã anónima; nunca desempenhei
qualquer cargo de relevo;não sou funcionária pública; não sou
professora; não sou advogada; não sou magistrada; não sou jornalista; não
sou agente da P.J.; não pertenço a nenhuma seita.
Porém, sou uma eleitora. Sempre simpatizei consigo. Dei-lhe o meu voto.
Aprecio o seu lado humanista. Muitas vezes, tomei o seu partido nas
discussões desenroladas a propósito da insistência da sua parte em
manter o General Rocha Vieira como governador de Macau. Dizia sempre:
"o Jorge Sampaio não tira daqui o General porque não encontra ninguém
que o queira substituir". E isto porque nunca pude acreditar que o
Sr. Presidente tivesse pessoalmente qualquer coisa a ver com o General
Rocha Vieira: um homem cheio de complexos; um homem mau; vingativo;
mentiroso; cínico e sem qualquer formação democrática, não poderia
gozar do apoio pessoal de outro Homem com características tão antagónicas
(pelo menos aos meus olhos e creio que aos olhos de muita gente).
O general Rocha Vieira fez o que quis em Macau. Tratou mal os
portugueses, administrou mal o Território. Instituiu um regime de terror
entre os funcionários públicos, perseguindo todos aqueles de quem ele próprio
não gostava e aqueles de quem os que o bajulavam e o serviam servilmente
também não gostavam. A classe mais perseguida, por exemplo, foi a classe
dos professores - quero aqui abrir um parentesis para reafirmar que não
sou professora nem nunca fui. Porquê? porque tinha como secretário-adjunto
para a Educação um homem (o único macaeense - para além da Drª. Perez
que em boa hora abandonou o governo de Macau)sinistro. Mau, mal-formado em
termos pessoais que, por sua vez, se fez rodear de uma mulher sem escrúpulos
(má, como só ela) a Drª. Albina dos Santos Silva.
.
Sr. Presidente, o General Rocha Vieira tratou muito mal os portugueses e não
permitiu que o nome de PORTUGAL tivesse ficado inscrito com letras de ouro
neste pequenino Território que tem o mundo com os olhos postos nele por
ser - tal como HongKong - o exemplo de uma situação política diferente
de tudo quanto existe na TERRA. Macau é uma região administrativa
especial da República Popular da China. Uma das maiores potências do
Mundo que descobriu esta fórmula - "UM PAÍS - DOIS SISTEMAS" e
que tem que mostrar à comunidade Internacional que não é um simples
slogan. Veja, Sr. Presidente qual a importância e a responsabilidade que
Portugal tinha que ter na formação desta Região Especial. Tem razão o
Sr. José Fontana quando diz que Macau permanecerá indissoluvelmente
ligado a Portugal.
Sr. Presidente, o General Rocha Vieira não permitiu que grande número de
portugueses se mantivessem nos lugares na administração pública,
fazendo, consequentemente, engrossar o número de portugueses em Macau,
pois muitos da Privada acabaram por sair de Macau ao sentirem que um dia
Macau seria tão-só um prolongamento da vizinha ZHU-HAI.
Sr. Presidente da República não diga que o General prestou grandes serviços
e que teve um papel importante nos assuntos da transição. Os assuntos
importantes (os políticos) eram resolvidos a nível do Grupo de Ligação.
Poupe-nos a este sologan. Demarque-se de vez do General (essa figura
sinistra) que - precisamente porque não tinha que se preocupar com os
grandes assuntos - se preocupou em perseguir e amordaçar jornalistas
(quem não se lembra da força que o Homem teve em contribuir para fechar
a Gazeta Macaense que estava a ter um papel importante na crítica feroz
ao sistema judicial que estava a ser desenhado para Macau - com um
figurino nunca visto em que era ele - o Senhor General - a nomear os Juízes),
a perseguir e a tentar impedir a permanência da representante da
Aministia Internacional em Macau (quem não se lembra de toda a perseguição
de que foi vítima a Drª. Isabel Morais);a perseguir o advogado Pedro
Redinha (quem não se lembra do papel preponderante que teve nos casos de
extradição e que começou a ser conhecido como o advogado que lutava
pelos Direitos do Homem e que era procurado por todos aqueles que se
sentiam espezinhados e feridos nos seus direitos mais elementares) que
chegou a sentar-se no banco dos Réus (como se fosse um criminoso) tudo
por uma farsa em que teve como protagonista o sinistro Marques Baptista
(director da Polícia Judiciária); que acolheu um plano para combater as
seitas de forma totalmente descoordenada pois limitou-se a ouvir
assessores que não tinham a mínima experiência nestas lides e fazendo
descaso das pessoas com conhecimentos profundos, o que provocou o caos em
Macau - então um território com problemas de segurança controlados -com
mortes diárias em plena luz do dia e no centro da cidade em que passaram
a ser vítimas portugueses (coisa nunca vista!). Que mandou publicar mais
de 8 códigos novos para entrarem em vigor no dia 1 de Novembro de 1999 (a
transferência dar-se.ia em 19 de Dezembro) e depois deu-se ao luxo de
mandar um ex-secretário-adjunto (um brilhante professor de direito que um
dia quis fazer de político - que disparate!) dizer que as alterações ao
Código Comercial - determinadas pela grande pressão dos agentes económicos
e não só - constituíam uma violação à Declaração Conjunta. Brada
aos Céus, Sr, Presidente! Que legitimidade têm os ex-governantes de
Macau para falarem em alterações às leis que apressadamente prepararam
e fizeram publicar? Que legitimidade têm para vir falar em violação da
Declração conjunta se publicaram códigos sem os experimentarem? Há
alguma parte do mundo onde os grandes códigos não sofram alterações se
neles estiverem contidas normas absolutamente diferentes das contidas nos
códigos anteriores? Nunca o Sr. General ouviu falar na "vacacio
legis"!
Que política económica séria deixou o General Rocha Vieira em Macau?
Que fiscalização fez à STDM? Não me falem em crise económica em
Macau. Tudo se ficou a dever ao desastre da situação criada com a não
fiscalização do contrato de jogos, pois não podemos esquecer que a
maior parte das receitas do Território provinham das salas dos casinos de
Macau. O General Rocha Vieira deixou de fazer uma fiscalização séria; o
Sr. Stanley Ho (compreendo a sua posição) começou a fazer subconcessões
(facto provado nos Tribunais) e de repente, porque houve uma política de
combate às seitas (diga-se à seita 14 kilates) as receitas vieram por aí
abaixo. Então, pode ser considerada uma atitude correcta o ter-se
permitido uma situação e de repente, quando o Território estava prestes
a ser entregue à República Popular da China, haja um "volte-face"
e fique tudo desestabilizado? Não, Sr. Presidente, o General Rocha Vieira
não prestou altos serviços a Portugal. Para além de não ter deixado um
só rasto, um só cheiro, do que seja democracia (veja-se o exemplo de
HongKong), para além de ter feito mal aos seus compatriotas, para além
de não ter contribuido minimamente para uma situação económica razoável,
o Senhor General Rocha Vieira ainda manchou o nome de PORTUGAL porque
aceitou criar uma fundação em Portugal com dinheiros de uma fundação pública
de Macau e com dinheiros provenientes do patrão da STDM (como bem disse o
Dr. Rui Afonso foi imoral receber dinheiro das mãos da entidade que
fiscalizava).
Sr. Presidente da República:
Os seus adversários políticos na corrida ao lugar de Presidente pensavam
que estavam a ajudar o General Rocha Vieira quando diziam que o Sr. teria
que falar no assunto da Fundação JA. Porém, mais uma vez os supostos
amigos do general contribuíram para a sua morte política. O Sr.
Presidente fez bem ter dito aos portugueses que havia aconselhado o Sr.
General Rocha Vieira a não criar tal fundação. Agora vem o General -
veja a força que tem esse homem de formação diminuta que não tem
quaqluer sentido da razão de Estado (pois dispara contra tudo e contra
todos, desde si até ao Chefe do Executivo da RAEM) -dizer que é mentira.
Fá-lo usando o "Expresso" um jornal que se está a tornar cada
vez mais num jornal faccioso e que corre o risco de se tornar num jornal
com falta de credibilidade. Se foi uma conversa entre o General e o Sr.
Presidente como pode dizer-se no jornal "que uma fonte do Conselho de
Curadores" desmete as suas palavras? Claro, que todos nós
acreditamos em si Sr. Presidente. A palavra do General Rocha Vieira não
tem acolhimento.
Assim, Sr. Presidente da República, diga a todos os portugueses que
realmente pensou, quis, fez tudo para tirar o General Rocha Vieira de
Macau mas não soube como fazê-lo! Conte aos portugueses (a todos os que
viveram em Macau e aos que ainda vivem) que sofria quando recebia todas as
cartas a denunciar todas as situações graves em que o general as
colocava. Demarque-se deste Homem que nunca teve escrúpulos em esmagar
desde o português mais humilde até o português que desempenhe o mais
alto cargo.
Sr. Presidente, diga aos jornalistas, aos advogados, aos professores, aos
funcionários da Polícia Judiciária (vítimas do ódio do Marques
Baptista),aos portugueses que desempenhavam qualquer lugar na adminsitração
pública que sempre acreditou neles mas lhe faltou qualquer
"coisa" para alterar a situação.Diga-lhes que mais do que
nunca compreende qual a formação do General Rocha Vieira. Diga-lhes que
em nome do sofrimento a que foram submetidos - e porque o sofrimento de
alguns também serve para o bem estar de outros - vai, publicamente
mostrar que nunca apoiou o desempenho do general Rocha Vieira, aliás uma
herança que lhe foi deixada pelo anterior Presidente Dr. Mário Soares
que, embora sempre se autoclassificando de humanista, sabia que estava a
colocar em Macau um militar que iria tratar todos os portugueses como
soldados num campo de batalha: disciplina rígida e castigos severos a
quem não a cumprir.
Os melhores cumprimentos e votos de uma clara vitória sobre os seus
adversários na corrida ao mais alto cargo de Portugal.
Maria Inês Antunes
24/6/2000
in comentários ao artigo "Sampaio não disse toda a verdade",
Expresso, 24/6/00