ROCHA VIEIRA ERROU E PREJUDICOU
in comentários ao artigo do Expresso "A minha Verdade sobre
Macau"
O semanário EXPRESSO é indubitavelmente o melhor jornal português.
Leio-o há mais de 25 anos e sempre promovi junto de amigos a sua independência,
ética e deontologia. Contudo, nunca faria a mínima ideia que o EXPRESSO
pudesse enveredar por caminhos dúbios, cinzentos e revoltantes ao ler as
tomadas de posição expressas no jornal a propósito da Fundação Jorge
Álvares, uma instituição que não existe e que apenas veio criar
dissabores a todos os portugueses nascidos ou radicados em Macau. O
EXPRESSO através do senhor Fernando Madrinha, senhor José António Lima
e seu director (presumo) que escreveu o editorial da última edição deu
o pior exemplo de falta de independência, melhor de dependência total de
quem o financiou escandalosamente. A defesa do general Rocha Vieira é
infame. Todos os jornalistas portugueses sérios sabem que o general
cometeu um erro. Um erro grave. Embriagado com o narcisismo adquirido ao
longo dos anos que esteve em Macau como secretário-adjunto das Obras Públicas
de Garcia Leandro (onde aprendeu a escola oriental dos financiamentos
sombrios) e com os anos de governador tentou criar uma fundação à sua
semelhança e despotismo. A fundação chamar-se-ia "Rocha
Vieira", mas os amigos conseguiram convencer o general para que o
nome fosse mudado para "Jorge Álvares".
O EXPRESSO veio em defesa de Rocha Vieira por uma razão fundamental e é
importante que todos os leitores do EXPRESSO, e todos aqueles que preferem
semanalmente este jornal, saibam que toda esta posição dos senhores
Madrinha, Lima, Castanheira e Saraiva se deve simplesmente ao facto de
Francisco Pinto Balsemão ser o presidente do Grupo Editorial ao qual
EXPRESSO pertence. O senhor Balsemão recebeu de Rocha Vieira uma quantia
tão avultada que ao ser do conhecimento público nos envergonharia a
todos. Aconteceu que durante o Congresso realizado em Macau da Imprensa
Regional Portuguesa, o senhor Balsemão apenas se deslocou a Macau para
que essa quantia lhe fosse entregue em troca de um discurso
vergonhosamente favorável a Rocha Vieira, precisamente na altura em que
alguns jornais de Macau eram prejudicados pela administração portuguesa.
O EXPRESSO cumpriu mal a sua missão e se ainda algum destaque concedeu ao
problema de Macau, única e exclusivamente se ficou a dever à questão de
Rocha Vieira não ter cumprido o que prometeu a José Pedro Castanheira,
ou seja, o financiamento total do livro que o referido jornalista andou a
redigir em Macau, por sinal sempre bem (?) acompanhado de Rocha Vieira.
Livro que está emperrado (vá lá saber-se porquê?) enquanto o de Dinis
de Abreu já foi lançado com pompa e circunstância.
Os leitores do EXPRESSO têm de saber que 50 milhões de patacas para
Macau ou para Edmund Ho têm o mesmo valor que um amendoim dado a um
macaco do Zoo de Lisboa. Não está nem nunca esteve em causa os 50 milhões.
Está em causa a atitude. Um governador e simultaneamente presidente do
conselho de curadores de uma fundação pública nunca poderia dar ordens
verbais à presidente do conselho de administração da mesma fundação
para transferir determinada verba sem conhecimento e aprovação dos
demais curadores e membros do conselho de administração e do conselho
fiscal. Pior ainda, se o governador e presidente da fundação macaense
seria o presidente de uma outra fundação em Portugal. Isto é um acto
obsceno em qualquer parte do mundo. Para não lhe chamarmos abuso de poder
e de pirataria política.
Não é justo que o respeitável EXPRESSO, tente limpar o Sol com uma
peneira e venha a terreiro editorial tentar limpar a imagem de um homem
que deixou as maiores dúvidas de seriedade em Macau. A título de
exemplo, refira-se apenas que toda esta polémica já provocou a maior
vergonha em termos de boatos pela cidade de Macau, onde alguns círculos
chineses deixaram ontem cair a informação falsa ou verdadeira de que
Rocha Vieira é o português mais rico do mundo porque conseguiu
transferir para fora de Macau cerca de 100 milhões de dólares
americanos. É isto bonito? Esta situação será agradável para quantos
portugueses optaram por ficar como residentes em Macau? É este embróglio
que o EXPRESSO aceita como uma simples defesa de um "homem ferido e só",
como diz o senhor Madrinha? O senhor Madrinha quando esteve em Macau nunca
foi capaz de conversar com pessoas que lhe diriam certas verdades
vergonhosas relativas à administração portuguesa. Pelo contrário,
preferiu a companhia e os conselhos dos assessores de imprensa do
governador e as mordomias que o governo de Macau sempre dispensou a certos
jornalistas que trabalhavam para publicações afectas aos grupos
financiados por Macau. Tal como o escândalo Lusomundo. Por que será que
nenhum jornalista investiga profundamente a que se teria ficado a dever a
subida dos lucros da Lusomundo? Talvez tivessem grandes surpresas e ao
coronel Silva lhe acontecesse o mesmo que agora sucedeu ao Presidente de
Israel.
É importante que os leitores do EXPRESSO que têm intervido nestes comentários
comecem a concluir um facto verdadeiro e lamentável. Nem todos os
portugueses que trabalharam ou trabalham em Macau foram ou são corruptos.
Nem todos conseguiram adquirir casa própria, monte no Alentejo, quinta em
Sintra e vivenda no Algarve ou na Quinta do Patino. Nem todos foram
contemplados com Ferraris e Mercedes. Toda esta polémica da Fundação
Jorge Álvares deve resumir-se a um único pormenor. A quantia de 50 milhões
de patacas deve ser devolvida à fundação macaense porque a transferência
foi ilegal e o senhor Rocha Vieira não precisava nada desse dinheiro para
criar uma fundação. O que está em causa é a moral e a verticalidade de
uma presença secular portuguesa que se gostaria de ver continuadamente
dignificada. Por outro lado, os 100 milhões dados pela STDM-Stanley Ho,
constituiu um facto muito mais grave e muito mais imoral, sobre o qual
pouca gente tomou posição. Não existe entendimento possível para o escândalo
do fiscalizador pedir, em jeito de esmola, ao fiscalizado 100 milhões de
patacas. Isso foi um gesto que destruiu completamente Rocha Vieira na cena
internacional. Só para manifestar uma comparação simples, nunca o
ex-governador de Macau seria convidado para um cargo tão importante e
prestigiante como aquele que é ocupado pelo ex-governador de Hong Kong,
Chris Patten, no âmbito da Comunidade Europeia. E as razões negativas
estão bem à vista, infelizmente para todos nós.
Apenas um pedido de desculpas a quantos tiveram a paciência de ler estas
linhas prolongadas, mas penso que seria da máxima importância falar de
factos relevantes e deixar cair em saco roto as banalidades acerca de um
território como o de Macau onde o tempo das vacas gordas para os
portugueses já terminou. Para quantos optaram pela permanência em Macau
o futuro poderá não ser brilhante. Muito por culpa do passado. Apelamos
que no futuro o EXPRESSO não obedeça mais a ordens do seu patrão. O
dinheiro na vida não é o mais importante e um jornal com a carteira de
publicidade do EXPRESSO já não precisa de vender a sua alma ao diabo...
Um Macaense Farto de Mentiras
(Carta de leitor enviada ao diário MACAU HOJE)