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TRANSFERÊNCIA DE MACAU CUSTOU 244 MILHÕES,
  Público, 28/6/00
 

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Nova ameaça sobre Rocha Vieira
Transferência de Macau Custou 244 Milhões de Patacas

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES
Público, Quarta-feira, 28 de Junho de 2000

Paira uma nova ameaça sobre o general Rocha Vieira, último governador português de Macau. Agora estão em causa os custos das cerimónias da transição do território para a administração chinesa, em Dezembro passado. O jornal português "Macau Hoje" noticiou ontem, citando uma "fonte governamental chinesa", que as cerimónias custaram 244 milhões de patacas (6,3 milhões de contos, ao câmbio actual).

Agora, segundo o mesmo jornal, a Direcção dos Serviços de Finanças de Macau (equivalente no território ao ministério das Finanças em Portugal) está a fazer uma "investigação detalhada" dos "números muito elevados" das contas. E "no caso de se confirmarem métodos pouco limpos no procedimento do dispêndio de verbas, a investigação passará para a responsabilidade do Comissariado contra a Corrupção". Já na semana passada o mesmo jornal tinha noticiado que se encontravam no território vários jornalistas chineses de Hong Kong a investigar os últimos tempos da administração portuguesa, com um particular interesse em eventuais casos de corrupção.

De acordo com o "Macau Hoje", a verba de 244 milhões de patacas é quase 2,5 vezes o que Portugal e a China tinham acordado para a cerimónia - ou seja, 100 milhões de patacas (actualmente 2,6 milhões de contos). No entanto, esta informação foi ontem desmentida ao PÚBLICO por Rui Isidro, jornalista português que orientou a área de comunicação social do Gabinete de Coordenação da Cerimónia de Transferência, entidade criada em Macau em Novembro de 1998 e extinta em Março deste ano, mês em que fechou as suas contas.

O jornalista confirma a tal verba dos 244 milhões de patacas. Mas nega que Portugal e a China tenham acordado em qualquer limite máximo de despesas. Segundo acrescenta, todo o cerimonial foi acertado entre Portugal e a China, num grupo criado dentro do Grupo de Ligação Luso-Chinês, cuja delegação portuguesa era chefiada pelo embaixador Santana Carlos. A discussão foi de tal forma detalhada que, por exemplo, se consumiram cinco longas horas a discutir o tamanho das cadeiras usadas nas cerimónias.

Outra informação do "Macau Hoje" que Rui Isidro desmente é aquela segundo a qual o "handover" de Macau custou o dobro do de Hong Kong, em 1997. É falso, afirma o jornalista. Custou mais cem milhões de patacas - o que não é exactamente metade mas, em rigor, 40 por cento. E os custos foram maiores por uma razão muito simples: enquanto no antigo território português se criaram de raiz muitas infraestruturas para a cerimónia, no antigo território britânico essas infraestruturas já existiam. Um exemplo: em Macau espalharam-se quilómetros de cabos de fibra óptica, para as transmissões televisivas; em Hong Kong, uma das principais praças financeiras mundiais, tudo isso já existia.

Segundo garante, os principais custos foram para a construção do edifício onde se realizou a cerimónia de transferência (60 milhões de patacas) e para as infraestruturas de apoio à comunicação social (quase 70 milhões de patacas). Uma sessão cultural realizada a 18 de Dezembro (antevespéspera da transferência) custou à volta de 30 milhões de patacas. E um banquete rondou os 12 milhões.

Na notícia do "Macau Hoje" a tal "fonte governamental chinesa" refere que foram gastas "somas inacreditáveis" - que não quantificou - em duas empresas portuguesas, uma de "catering" e outra de segurança. Segundo Rui Isidro, a empresa de segurança foi a REDISLOGAR (que também operou para a Cimeira Ibero-Americana realizada no Porto). Quanto ao "catering", foi fornecido por um consórcio dos quatro principais hoteis de luxo de Macau. O Grupo Silva Carvalho também trabalhou para os banquetes, fornecendo os serviços de talheres e loiças.

João Pedro Henriques

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