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UM MAU PASSO,  Expresso, 22/1/00

 

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Um mau passo

in Expresso 22/1/00

por Fernando Madrinha

 

«Rocha Vieira, enquanto governador e presidente do Conselho de Curadores de uma fundação em Macau, promoveu ou aprovou a transferência de verbas destinadas a essa fundação para uma outra de que ele mesmo acabaria por se tornar o presidente, em Lisboa. Custa a crer que o ex-governador não tenha avaliado os riscos deste mau passo.»


UM mês depois de ter emocionado o país com um gesto que haveria de resumir para a História a despedida dos portugueses de Macau - o abraço à bandeira nacional arriada no palácio da Praia Grande - o último governador vê o seu nome envolvido num inquérito determinado pela nova administração do território. O sucessor de Rocha Vieira, ou alguém por ele no primeiro governo debaixo da soberania chinesa, quer explicações sobre o financiamento da novíssima Fundação Jorge Álvares, que foi instituída em Lisboa já depois da transferência de Macau para a China, mas com meios financeiros provenientes do território. Uma parte deles (1,2 milhões de contos) vem de uma fundação pré-existente e à qual o então governador - que vai presidir à nova fundação, com sede em Lisboa - também já presidia.

Diz-se que Edmund Ho, o novo homem-forte de Macau, estava ao corrente de todo o processo, concordou com ele e se determina agora um inquérito é só para dar satisfação à linha dura pró-chinesa que quer romper todos os laços com Portugal. É possível. É até muito provável que outros factores e outras personagens tenham exacerbado a polémica em torno da Jorge Álvares só para atingir Rocha Vieira. Por causa de outra fundação criada com dinheiro de Macau - a Fundação Oriente - tiveram o governador e o Estado português um conflito interminável com a China, que acusava a FO de ser um instrumento para desviar capitais macaenses para Portugal. Há quem não perca uma boa oportunidade de vingança se ela lhe for oferecida.

Mas os factos são os factos: Rocha Vieira, enquanto governador e presidente do Conselho de Curadores de uma fundação em Macau, promoveu ou aprovou a transferência de verbas destinadas a essa fundação para uma outra de que ele mesmo acabaria por se tornar o presidente, em Lisboa. Custa a crer que o ex-governador não tenha avaliado os riscos deste mau passo em que aparece como parte interessada. E a propósito do qual haveria de se colocar sempre a velha questão do ser e do parecer, independentemente de todo o respeito por leis e formalidades.

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