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O DIFÍCIL "PUZZLE" MACAENSE,
  Público, 20/6/00

 

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Lançamento do livro "Macau, os Últimos 100 Dias do Império"
O Difícil "Puzzle" Macaense
Por FRANCISCA GORJÃO HENRIQUES
Público, Terça-feira, 20 de Junho de 2000

"Não é um diário dos últimos 100 dias de Portugal em Macau, muito menos da administração portuguesa" no território. O livro de José Pedro Castanheira, intitulado "Macau, os Últimos 100 Dias do Império" - que hoje é lançado no Museu da Electricidade, em Lisboa, às 18 horas -, é um registo das "muitas Macaus que existem" em 23 quilómetros quadrados de terra, disse Castanheira ao PÚBLICO.

Ao longo de 334 páginas, são registados os vários episódios que marcaram a última colónia portuguesa, ou o próprio autor, antes de o território passar para as mãos de Beijing, com alguns recuos no tempo. "É uma viagem guiada sobre a história de Macau, dos 442 anos que Portugal oficialmente esteve na península." Aborda temas como a religião, a mestiçagem, o jogo, as seitas, a imprensa, o ensino.

Foram necessários dois anos para a preparação do projecto e quatro meses vividos no território para tentar desconstruir as múltiplas realidades macaenses. "A ideia que as pessoas têm [de Macau] é muito redutora. Era minha obrigação combater isso. Mas fazer o 'puzzle' de Macau é muito complexo, tem muitas peças difíceis de encaixar." O "puzzle" ficou completo? "Não. É o trabalho de um jornalista português [do semanário 'Expresso'], que sempre viveu em Portugal. É uma visão exterior."

Depois do prefácio de José Eduardo Garcia Leandro, o primeiro governador de Macau nomeado após o 25 de Abril, dá-se o ponto de partida: 11 de Setembro de 1999. "Macau entra na recta final, com a linha da meta à vista. Hoje, começa a contagem decrescente dos cem dias para a entrega de Macau à China. Portugal vai deixar de mandar neste minúsculo território (...) Deixar de 'mandar' ou de 'administrar'? Não seria melhor falar de 'gerir'? Ou mesmo de 'co-gerir'?"

Para Castanheira, a transferência da administração de Macau foi um marco que não poderia deixar de ser assinalado. Chegou a propor um trabalho semelhante à RTP, mas acabaram por ser as publicações D. Quixote e os Livros do Oriente a avançar com o projecto. Ao contrário do que aconteceu com o "hand-over" de Hong Kong para a Grã-Bretanha, cujos mercados "foram invadidos com publicações, filmes, livros, etc.", a transferência do enclave português passou quase em branco no que se refere a este tipo de iniciativas.

Incompreensivelmente, lamenta o autor. "Macau foi o fim de um ciclo de meio milénio de expansão e de domínio colonial. Era uma oportunidade única descrever esse virar de página." E uma página com uma história diferente da das outras ex-colónias. "Encontrámos na China o que não encontrámos em mais lado nenhum. Já havia uma língua escrita, houve dificuldade de diálogo e de interpenetração de culturas."

Apesar da organização dos textos, que funciona como um diário, o tom geral não é particularmente intimista. Poucas vezes utiliza a primeira pessoa e, no fim, é difícil aferir se estamos na presença de uma crónica ou de um trabalho jornalístico. Talvez algo entre os dois. "Vou alterando os registos. Há capítulos que são reportagens que eu seria capaz de publicar num jornal diário. Depois, há coisas mais na área da crónica. Mas acho que o livro tem uma marca jornalística muito forte. Procuro fazer sempre uma marcha atrás, porque é necessário fornecer aos leitores um conjunto mínimo de dados históricos para que eles percebam", explica Castanheira. "Acaba por ter registos diferentes, que não são antagónicos, mas complementares. Achei que deveria fazer um trabalho variado."

Escreveu todos os dias, disciplinadamente, mesmo quando faltavam assuntos. O resultado foram 100 mais uma crónicas. Para não passar ao lado do primeiro dia de administração chinesa. "O título até está errado!"

Francisca Gorjão Henriques

 

 

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