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FUNDAÇÃO DE MACAU NO MNE,  Público 26/5/00

 

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Ministério dos Negócios Estrangeiros deferiu parecer sobre Fundação Stanley Ho
Fundações de Macau no MNE
Por ISABEL BRAGA
Público,
Sexta-feira, 26 de Maio de 2000

 

Antes de ser chamado a dar um parecer sobre a Fundação Jorge Álvares, o Ministério dos Negócios Estrangeiros tinha recebido um pedido idêntico, mas relativo à Fundação Stanley Ho, criada em 1999 pelo dono dos casinos de Macau. As duas fundações têm objectivos idênticos, aprofundar os laços culturais e científicos com Macau, e financiamentos da mesma proveniência, o jogo.

FotoO secretário de Estado da Administração Interna, Luís Patrão, ao solicitar, na semana passada, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) para que se pronunciasse sobre o pedido de reconhecimento da Fundação Jorge Álvares (FJA), presidida por Rocha Vieira, fez o mesmo que, em fins de 1999, o secretário da Presidência do Conselho de Ministros, com a tutela do Gabinete de Macau, Vitalino Canas, fizera em relação à Fundação Stanley Ho.

Os dois secretários de Estado recorreram ao MNE por uma questão de cautela: queriam saber se um eventual reconhecimento oficial das fundações, envoltas em polémica à nascença, poderia prejudicar as relações de Portugal com outros países.

No caso da Fundação Stanley Ho, o parecer do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi favorável. Santana Carlos, o diplomata que teve o assunto a seu cargo, explicou: "A Fundação Stanley Ho tinha como objectivos promover as relações culturais, científicas, académicas e filantrópicas entre Portugal e Macau. Objectivos louváveis, portanto."

O PÚBLICO argumentou que os objectivos das fundações são, em geral, louváveis, até porque elas procuram - e conseguem - obter o estatuto de utilidade pública que as isenta de impostos. Santana Carlos lembrou então o perfil de Stanley Ho. "É uma pessoa bem cotada na nomenclatura chinesa, membro da comissão consultiva da República Popular da China."

Até hoje, a Fundação Stanley Ho funciona em instalações da Fundação Oriente, na Rua do Salitre, e não tem qualquer actividade conhecida. Carlos Monjardino, vice-presidente da Fundação Stanley Ho, garantiu que há "uma sede formal" da Fundação "em Cascais" e que "foram assinados" uma série de protocolos na área social e educativa, nos concelhos de Cascais, Vendas Novas e outros. Quanto ao capital da fundação, ele é formado "pelo património pessoal de Stanley Ho em Portugal". "Nada tem que ver com o jogo", declarou, antes de dizer que não percebia qual o "paralelo" entre a Fundação Stanley Ho e a FJA. A primeira é, referiu, "clarinha como água".

"Num mundo onde há outras influências..."

O pedido de parecer sobre a Fundação Jorge Álvares, remetido pelo Ministério da Administração Interna ao Ministério dos Negócios Estrangeiros na semana passada foi justificado da seguinte maneira: "Num mundo onde há outras influências, quis saber se [a FJA] podia ter interferência nas nossas relações com países terceiros."

O MNE concorda com a delicadeza da situação, tanto assim que solicitou opiniões a outras entidades sobre a forma de a resolver. "Pedimos vários pareceres e vamos fundamentar neles as nossas ideias. Temos que fazer uma reflexão, uma vez que da nossa posição resultarão implicações nas relações com a Região Administrativa Especial de Macau [RAEM]", admitiu ao PÚBLICO Santana Carlos.

O parecer do MNE deixará, pois, de lado quaisquer considerações de ordem moral que possa suscitar a FJA, uma fundação privada criada pelo último governador de Macau, mas financiada por uma fundação pública da RAEM, a Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau (FCDM). Isto por decisão de Rocha Vieira enquanto governador do território e presidente do Conselho de Curadores da FCDM e, simultaneamente, presidente da FJA.

Edmundo Ho, chefe da RAEM, na sua recente visita a Lisboa deixou claro que a existência da FJA não afecta as relações bilaterais. Aliás, o assunto nem sequer foi abordado no encontro de Ho com Jaime Gama, no Palácio das Necessidades [ver PÚBLICO de 18/5/00).

Tudo indica, portanto, que a FJA entrou num compasso de espera. Enquanto não obtém o estatuto de fundação, pode, como explicou o secretário de Estado da Administração Interna, funcionar legalmente. "Uma fundação não reconhecida é uma associação", declarou o membro do Governo.

 

 

"Não Sei Nada Disso. Nem Soube", Diz Jorge Coelho
Sexta-feira, 26 de Maio de 2000

A Fundação Jorge Álvares foi um dos assuntos sobre os quais o PÚBLICO questionou o ministro Jorge Coelho, porta-voz do Governo, numa entrevista que publicaremos amanhã na íntegra. Como se vê pelo teor das respostas - ou melhor: das não respostas - o tema é muito delicado dentro do Executivo. Macau, note-se, é um assunto que Jorge Coelho domina. O agora ministro do Equipamento Social foi em tempos secretário-adjunto do governador Carlos Melancia.

PÚBLICO - Quando soube que Rocha Vieira estava a pensar criar a Fundação Jorge Álvares?

JORGE COELHO - Não sei nada disso. Nem soube, nem sei.

P. - Leu o relatório da comissão...

R. - Não tenho o que quer que seja a dizer sobre essa matéria.

P. - Há um processo de reconhecimento em curso por parte do Governo...

R. - Houve declarações feitas no vosso jornal sobre essa matéria por um colega meu [Luís Patrão, secretário de Estado da Administração Interna, responsável pelo processo de reconhecimento] e o que está dito está dito. Essa é uma área do Ministério da Administração Interna que, segundo eu li no vosso jornal, solicitou um parecer ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. É a única informação que eu tenho. Como eu acredito piamente no que leio no vosso jornal presumo que seja verdade.

P. - Acha que faltava uma nova entidade...

R. - Não vão lá...

P. - Esta controvérsia era dispensável ao Estado português?

R. - Não tenho nada a dizer sobre essa matéria.

A.S.L./J.P.H.

 

 

 

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