Macau:
Os últimos cem dias do Império
Crónicas da Cidade do
Nome de Deus
Francisco Mota Ferreira
in Diário Digital, 20/6/00
Seis meses após a passagem de Macau à
soberania chinesa, as Publicações Dom Quixote e a Livros do Oriente
apresentaram na terça-feira a obra Macau: Os últimos cem dias do Império.
Um livro da autoria do jornalista José Pedro Castanheira, que conta em
101 crónicas os últimos dias da antiga região administrada por Portugal
durante 442 anos.
José Pedro Castanheira não será
propriamente um desconhecido dos assuntos da Cidade do Nome de Deus. Antes
de Macau: Os últimos cem dias do Império, já o jornalista do Expresso
tinha lançado Os 58 dias que abalaram Macau, um livro que conta o
período incómodo dos reflexos da Revolução Cultural chinesa no território
administrado por Portugal.
No entanto, o conhecimento do autor sobre o território estaria longe da
vivência diária de um habitante local. José Pedro Castanheira nunca
esteve a viver durante largos anos no território e possivelmente
consciente deste handicap transferiu-se de armas e bagagens durante
cerca de quatro meses para Macau.
Ao longo de cerca de 120 dias (que, na prática, se traduziram em 101 crónicas
porque o autor não resistiu a sentir os primeiros momentos sob administração
chinesa), o jornalista falou com numerosas pessoas, sentiu as suas
preocupações, os seus medos, os seus anseios e as suas angústias. Não
apenas macaenses ou portugueses, mas igualmente chineses e europeus, num
relato que se traduziram nas crónicas que agora vêm a luz do dia.
Mas este é também um relato cheio de imagens e de recordações. «Do
velho que chegou a nado da China e que perdeu a sua fortuna no casino
flutuante», do «encontro com jovens macaenses que se agarravam a
Fernando Pessoa e a Florbela Espanca para mostrar que não tinham alma
chinesa», da «imagem de Rocha Vieira na cerimónia de despedida» ou do
fogo-de artifício no dia 20 de Dezembro (já sob administração
chinesa). Momentos recordados na cerimónia de apresentação por José
Pedro Castanheira. Momentos que, de uma maneira ou outra, deixaram a sua
marca muito pessoal no autor.
Em declarações ao Diário Digital, o jornalista manifestou a esperança
de que o seu mais recente trabalho «ajude as pessoas a conhecer Macau».
Não o território que, lamentavelmente, hoje já deixou de se ouvir - «ou
do qual apenas se fala por más razões», realça – mas o espaço de
culturas onde a presença portuguesa marcou várias gerações.
«Gostaria muito que o livro fosse também lido pelos chineses, de forma a
terem a visão de que os portugueses sentem de Macau», desabafa. Um
desejo que neste momento faz com que José Pedro Castanheira se sinta «parcialmente
realizado».
Durante 442 anos, Portugal foi uma presença constante em Macau. Foi o
primeiro Estado europeu a chegar ao Oriente e o último a partir. Como
referiu o General Garcia Leandro (Governador de Macau entre 1974 e 1979)
no prefácio do livro, fica a imagem do Farol da Guia, «o primeiro farol
do Oriente que depois de algumas centenas de anos a jorrar luz ao lado da
Bandeira de Portugal e que agora terá de o continuar a fazer com rotina e
rigor ao lado da Bandeira Chinesa, embora com alguma lágrima a escorrer
pelas paredes centenárias»...
[20-06-2000
21:29:37]
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