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O "CONDUTOR" DAS INVESTIGAÇÕES,
  Expresso, 29/1/00

 

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O "condutor" das investigações
in Expresso, 29/1/00

VONG Hin Fai, um dos três membros da Comissão de Inquérito à Fundação Jorge Álvares (FJA), foi um dos motoristas do governador Carlos Melancia. Nascido em Macau em Junho de 1958, foi dos primeiros chineses a inscrever-se na Faculdade de Direito da Universidade de Macau, com autorização de Melancia, com quem trabalhava.

A Comissão de Inquérito, nomeada pelo chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau, Edmond Ho, logo que estalou a polémica sobre o financiamento da Fundação presidida pelo ex-governador Rocha Vieira, é composta por três inquiridores. Um deles é Vong Hin Fai, que além de advogado domina perfeitamente o português. Aliás, Vong participou no domingo no programa TDM-Entrevista, no canal português da televisão de Macau. Sobre o inquérito, porém, Vong remeteu-se ao silêncio.

A comissão inclui ainda o juiz Fong Man Chong, formado igualmente em Macau e que pertence ao Tribunal Administrativo. O terceiro «inquiridor» é a contabilista Ho Mei Va, proprietária de uma das mais conhecidas firmas de auditoria do território.

«Lembro-me perfeitamente do Vong Hin Fai», disse ao EXPRESSO o ex-governador Carlos Melancia. «Era um rapaz muito inteligente, um dos melhores funcionários que tinha no palácio».

Concluído o curso de Direito, deixou o palácio da Praia Grande e o funcionalismo público e pediu a António Correia para trabalhar no seu escritório de advogados. «Foi meu estagiário e mantivemos uma boa relação de amizade», conta o advogado e ex-deputado à Assembleia Legislativa de Macau. Correia ainda chegou a propor a Vong a entrada na sociedade de advogados, mas não chegaram a acordo quanto à repartição das quotas. O advogado chinês acabou por se associar a outra firma, a de Gonçalves Pereira e Frederico Rato. Muito ligado a Edmond Ho, foi por este nomeado deputado à Assembleia Legislativa.

A instauração do inquérito à FJA foi justificada por declarações públicas de Edmond Ho, no sentido de que não fora informado de que iria ser co-financiada pela congénere Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau (FCDM). Esta é uma instituição de direito público instalada em Macau, enquanto a Jorge Álvares é um organismo de direito privado com sede em Lisboa. Nos meios políticos de Macau, considera-se que a nomeação da comissão foi uma manobra de antecipação do chefe do executivo, por forma a evitar uma iniciativa semelhante por parte da Assembleia Legislativa, onde estão fortemente representados os sectores mais ortodoxos e tradicionais. A presidente da Assembleia, Susana Chou, escreveu uma carta aos responsáveis da FJA, comunicando a não aceitação do lugar no conselho de curadores. Igual posição foi tomada pela sua antecessora, a macaense Anabela Ritchie.

Jogada de antecipação

No passado dia 17, antes mesmo da instauração do inquérito, a administração da FCDM entregou a Edmond Ho um relatório sobre o assunto. Até 19 de Dezembro, o Conselho de Curadores desta Fundação - subsidiada pelas receitas do jogo - era presidido por Rocha Vieira e dele faziam parte Edmond Ho (que se demitiu quando foi indigitado para chefe do executivo), Stanley Ho, Anabela Ritchie e Jorge Rangel, entre outros.

No plano de actividades da FCDM para 1999, aprovado em Fevereiro, não constava qualquer financiamento de uma nova fundação. Constava, sim, o apoio à criação de um Instituto Luso-Chinês, ligado à Universidade Católica, e que deverá arrancar dentro em breve. Segundo o EXPRESSO apurou junto de fontes ligadas ao processo, foi só em finais de Novembro que a administração da FCDM recebeu uma ordem do governador e presidente do Conselho de Curadores no sentido de financiar a futura fundação com 50 milhões de patacas (1,2 milhões de contos). A instrução foi dada verbalmente. Já em Janeiro, a FCDM recebeu um ofício da FJA, solicitando o financiamento. O ofício era assinado por Alexandra Costa Gomes (directora do Centro Científico e Cultural de Macau, um organismo dependente do Ministério da Ciência e Tecnologia) e Manuel Coelho da Silva (ex-director dos Serviços de Educação de Macau). Uma das principais finalidades da FJA é, justamente, apoiar aquele centro científico, instalado em Lisboa.

A FJA - segundo a escritura notarial divulgada pelo «Público» - foi formalizada no dia 14 de Dezembro. No entanto, em Macau nada transpirou. Nem os órgãos de comunicação social, nem a maioria dos deputados, nem o Grupo de Ligação Conjunto Luso-Chinês, nem sequer alguns secretários-adjuntos do Governo tiveram conhecimento da novel fundação. Mesmo a Presidência da República - conforme confirmou ao EXPRESSO um dos assessores de Jorge Sampaio - só tivera «uma informação muito vaga», sem indicação precisa sobre os apoios financeiros.

A primeira reunião de curadores teve lugar às 16 horas do dia 18 de Dezembro, numa sala do hotel Mandarim. Presentes todos os ex-governadores de Macau e o proprietário do hotel, o magnata do jogo Stanley Ho, cuja contribuição para a Fundação foi de cem milhões de patacas (e não de 50 milhões, como foi inicialmente anunciado). Ausentes a ainda presidente da Assembleia Legislativa, Anabela Ritchie, e a sua sucessora no cargo, Susana Chou.

Lopes dos Santos propõe Rocha Vieira

A reunião começou com uma intervenção de Rocha Vieira, que expôs os objectivos da fundação e explicou o sistema de financiamento. Segundo alguns dos presentes confidenciaram ao EXPRESSO, à exposição do Governador estava subjacente a ideia de que Edmond Ho não só fora informado, como dera a sua aquiescência. Já na ausência de Rocha Vieira - que teve de se ausentar para participar na cerimónia oficial de condecorações, no Centro Cultural -, procedeu-se à eleição do futuro presidente do Conselho de Curadores. O nome de Rocha Vieira colheu a unanimidade dos presentes. A proposta partiu do general Lopes dos Santos, o mais antigo e o mais velho dos ex-governadores. De passagem, foi abordado o vencimento do futuro presidente, tendo sido referido que não poderia ultrapassar os 1700 contos mensais.

Os vários ex-governadores com que o EXPRESSO contactou remeteram-se a um total silêncio. «Há um entendimento tácito de que qualquer esclarecimento deve ser prestado pelo general Rocha Vieira» - explicou um dos ex-titulares, que não deixou de revelar «algum embaraço» com a situação. Um outro preferiu falar de «incomodidade», enquanto um terceiro confessou «uma certa preocupação». Até agora, Rocha Vieira tem preferido o silêncio.  

 

JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA e JOÃO GUEDES, correspondente em Macau

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