ARTIGOS O
"CONDUTOR" DAS INVESTIGAÇÕES,
|
|
Home | Documentos | Ler comentários | Forum | Links |
|
O "condutor" das
investigações VONG Hin Fai, um dos três membros da Comissão de Inquérito à Fundação Jorge Álvares (FJA), foi um dos motoristas do governador Carlos Melancia. Nascido em Macau em Junho de 1958, foi dos primeiros chineses a inscrever-se na Faculdade de Direito da Universidade de Macau, com autorização de Melancia, com quem trabalhava. A Comissão de Inquérito, nomeada pelo chefe do
executivo da Região Administrativa Especial de Macau, Edmond Ho, logo que
estalou a polémica sobre o financiamento da Fundação presidida pelo
ex-governador Rocha Vieira, é composta por três inquiridores. Um deles
é Vong Hin Fai, que além de advogado domina perfeitamente o português.
Aliás, Vong participou no domingo no programa TDM-Entrevista, no canal
português da televisão de Macau. Sobre o inquérito, porém, Vong
remeteu-se ao silêncio. A comissão inclui ainda o juiz Fong Man Chong,
formado igualmente em Macau e que pertence ao Tribunal Administrativo. O
terceiro «inquiridor» é a contabilista Ho Mei Va, proprietária de uma
das mais conhecidas firmas de auditoria do território. «Lembro-me perfeitamente do Vong Hin
Fai», disse ao EXPRESSO o ex-governador
Carlos Melancia. «Era um rapaz muito inteligente, um dos melhores
funcionários que tinha no palácio». Concluído o curso de Direito, deixou o palácio da
Praia Grande e o funcionalismo público e pediu a António Correia para
trabalhar no seu escritório de advogados. «Foi meu estagiário e
mantivemos uma boa relação de amizade», conta o advogado e
ex-deputado à Assembleia Legislativa de Macau. Correia ainda chegou a
propor a Vong a entrada na sociedade de advogados, mas não chegaram a
acordo quanto à repartição das quotas. O advogado chinês acabou por se
associar a outra firma, a de Gonçalves Pereira e Frederico Rato. Muito
ligado a Edmond Ho, foi por este nomeado deputado à Assembleia
Legislativa. A instauração do inquérito à FJA foi justificada
por declarações públicas de Edmond Ho, no sentido de que não fora
informado de que iria ser co-financiada pela congénere Fundação para a
Cooperação e Desenvolvimento de Macau (FCDM). Esta é uma instituição
de direito público instalada em Macau, enquanto a Jorge Álvares é um
organismo de direito privado com sede em Lisboa. Nos meios políticos de
Macau, considera-se que a nomeação da comissão foi uma manobra de
antecipação do chefe do executivo, por forma a evitar uma iniciativa
semelhante por parte da Assembleia Legislativa, onde estão fortemente
representados os sectores mais ortodoxos e tradicionais. A presidente da
Assembleia, Susana Chou, escreveu uma carta aos responsáveis da FJA,
comunicando a não aceitação do lugar no conselho de curadores. Igual
posição foi tomada pela sua antecessora, a macaense Anabela Ritchie. Jogada de antecipação
No
passado dia 17, antes mesmo da instauração do inquérito, a administração
da FCDM entregou a Edmond Ho um relatório sobre o assunto. Até 19 de
Dezembro, o Conselho de Curadores desta Fundação - subsidiada pelas
receitas do jogo - era presidido por Rocha Vieira e dele faziam parte
Edmond Ho (que se demitiu quando foi indigitado para chefe do executivo),
Stanley Ho, Anabela Ritchie e Jorge Rangel, entre outros. No
plano de actividades da FCDM para 1999, aprovado em Fevereiro, não
constava qualquer financiamento de uma nova fundação. Constava, sim, o
apoio à criação de um Instituto Luso-Chinês, ligado à Universidade
Católica, e que deverá arrancar dentro em breve. Segundo o EXPRESSO
apurou junto de fontes ligadas ao processo, foi só em finais de Novembro
que a administração da FCDM recebeu uma ordem do governador e presidente
do Conselho de Curadores no sentido de financiar a futura fundação com
50 milhões de patacas (1,2 milhões de contos). A instrução foi dada
verbalmente. Já em Janeiro, a FCDM recebeu um ofício da FJA, solicitando
o financiamento. O ofício era assinado por Alexandra Costa Gomes
(directora do Centro Científico e Cultural de Macau, um organismo
dependente do Ministério da Ciência e Tecnologia) e Manuel Coelho da
Silva (ex-director dos Serviços de Educação de Macau). Uma das
principais finalidades da FJA é, justamente, apoiar aquele centro científico,
instalado em Lisboa. A FJA -
segundo a escritura notarial divulgada pelo «Público» - foi formalizada
no dia 14 de Dezembro. No entanto, em Macau nada transpirou. Nem os órgãos
de comunicação social, nem a maioria dos deputados, nem o Grupo de Ligação
Conjunto Luso-Chinês, nem sequer alguns secretários-adjuntos do Governo
tiveram conhecimento da novel fundação. Mesmo a Presidência da República
- conforme confirmou ao EXPRESSO um dos assessores de Jorge Sampaio - só
tivera «uma informação muito vaga», sem indicação precisa
sobre os apoios financeiros. A
primeira reunião de curadores teve lugar às 16 horas do dia 18 de
Dezembro, numa sala do hotel Mandarim. Presentes todos os ex-governadores
de Macau e o proprietário do hotel, o magnata do jogo Stanley Ho, cuja
contribuição para a Fundação foi de cem milhões de patacas (e não de
50 milhões, como foi inicialmente anunciado). Ausentes a ainda presidente
da Assembleia Legislativa, Anabela Ritchie, e a sua sucessora no cargo,
Susana Chou. Lopes dos Santos propõe Rocha Vieira
A reunião começou com uma intervenção de Rocha
Vieira, que expôs os objectivos da fundação e explicou o sistema de
financiamento. Segundo alguns dos presentes confidenciaram ao EXPRESSO, à
exposição do Governador estava subjacente a ideia de que Edmond Ho não
só fora informado, como dera a sua aquiescência. Já na ausência de
Rocha Vieira - que teve de se ausentar para participar na cerimónia
oficial de condecorações, no Centro Cultural -, procedeu-se à eleição
do futuro presidente do Conselho de Curadores. O nome de Rocha Vieira
colheu a unanimidade dos presentes. A proposta partiu do general Lopes dos
Santos, o mais antigo e o mais velho dos ex-governadores. De passagem, foi
abordado o vencimento do futuro presidente, tendo sido referido que não
poderia ultrapassar os 1700 contos mensais. Os vários
ex-governadores com que o EXPRESSO contactou remeteram-se a um total silêncio.
«Há um entendimento tácito de que qualquer esclarecimento deve ser
prestado pelo general Rocha Vieira» - explicou um dos ex-titulares,
que não deixou de revelar «algum embaraço» com a situação. Um
outro preferiu falar de «incomodidade», enquanto um terceiro
confessou «uma certa preocupação». Até agora, Rocha Vieira tem
preferido o silêncio.
JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA e JOÃO GUEDES, correspondente em Macau [ Ler comentários ]
|
|
[ Home ] [ Documentos ] [ Fórum ] [ Links ] Forum Macau - Lisboa, Macau - Maio 2000 |