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SAMPAIO ADIA CONDECORAÇÃO,
 
Expresso, 10/6/00

 

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Sampaio adia condecoração
in Expresso, 10/6/00

JORGE Sampaio não quis condecorar Rocha Vieira no pico da polémica sobre a Fundação Jorge Álvares mas tenciona medalhar o último governador de Macau numa cerimónia à parte, juntamente com os mais altos responsáveis políticos e diplomáticos pela transferência da administração do território para a China. Fontes de Belém garantiram ao EXPRESSO que «nã o há nenhuma razão para abandonar a ideia de condecorar o general pelos relevantes serviços prestados ao país enquanto governador». Mas, acrescenta m, «valerá a pena ter o sentido da oportunidade».

O momento oportuno para Sampaio poderá chegar ainda antes de Agosto ou no começo do Outono, tudo dependendo da forma como evoluir a polémica à volta da Fundação Jorge Álvares. «O Presidente gostava de ver esta polémica encerrada», afirmam fontes da Presidência, sublinhando que «ela só prejudicaria as condecorações, até do ponto de vista dos visados». O entendimento em Belém é de que é fundamental «d eixar passar algum tempo» para que o Presidente possa então agraciar o homem que muitos o acusam de não só não ter ajudado a defender como de ter contribuído para o prejudicar.

 

Que medalha?

A decisão de condecorar Rocha Vieira vem de longe. Em Dezembro passado, quando se deslocou a Macau nas vésperas da transferência do território para a China, Sampaio condecorou um numeroso grupo de funcionários da administração portuguesa e ficou tacitamente acordado que, posteriormente, consumada a transferência, haveria uma nova sessão de condecorações para os mais altos responsáveis pelo processo. Rocha Vieira estaria à cabeça desse grupo de medalhados e isso justifica a expectativa quanto à inclusão do nome do ex-governador na lista deste 10 de Junho.

A Presidência garante que nunca foi intenção de Sampaio incluir os medalhados de Macau na lista do Dia de Portugal. E o nome de Rocha Vieira não chegou a ser proposto. A intenção de condecorar o homem que trouxe de volta a última bandeira portuguesa, essa sim, continua de pé. Faltando definir qual a medalha a atribuir ao general, que já acumula as duas mais altas condecorações possíveis (excepção feita, naturalmente à Torre e Espada) - a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Esta alegada dificuldade terá sido constatada quando Sampaio começou a pensar em condecorar Rocha Vieira. Mas a verdade é que ninguém encontra na sobrecarga medalhística do general um incontornável impedimento para que o Presidente o possa agraciar.

Mário Soares atribuiu-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Cristo antes de abandonar Belém, numa altura em que Rocha Vieira já era governador de Macau; e anos antes tinha cabido a Ramalho Eanes condecorá-lo com a Grã-Cruz do Infante, pelos serviços prestados como chefe de Estado-Maior do Exército. Das condecorações de topo, Rocha Vieira ainda poderia receber a Grã-Cruz da Ordem Militar de Aviz, uma insígnia privativa dos militares, mas o facto de se ter afastado das funções militares há mais de 10 anos pode inviabilizá-la nesta altura. E a Torre Espada - uma condecoração rara, destinada a figuras que se destaquem por relevantíssimos e excepcionais serviços prestados à pátria - é considerada desadequada.

Esta aparente dificuldade é um dos argumentos avançados por Belém e pelos Negócios Estrangeiros para justificar parte do compasso de espera registado nesta matéria. Mas a verdadeira razão para a demora prende-se, em parte, com o facto de nunca ter sido intenção de Sampaio condecorar o general no 10 de Junho, e, decisivamente, com a inconveniência de o fazer no meio da polémica que entretanto estalou em seu redor.

 

Proteger o governador

Uma vez pousada a poeira, não será por falta de medalhas que Sampaio deixará de dar a condecoração. «C om certeza que se encontrará uma solução adequada», afiança fonte do Palácio de Belém, acrescentando que «na caixinha das comendas arranja-se sempre mais uma». Além da Ordem de Aviz, Rocha Vieira também nunca recebeu a da Liberdade. E ainda há a d o Mérito ou a de Santiago da Espada ... Aparentemente não há razão para que quem recebeu o mais não receba o menos. A menos que o general não queira ser medalhado por um Presidente que não o terá defendido da forma mais adequada, como entendem os seus mais acérrimos defensores.

Fontes da Presidência sublinham que, ao pedir silêncio sobre a polémica da Fundação Jorge Álvares, Sampaio teve um único objectivo: conter o processo e proteger o ex-governador. Mas Rocha Vieira não lhe terá perdoado as notícias que deram conta da irritação do PR por ele ter avançado, contra os seus conselhos, com uma Fundação financiada com dinheiros de Macau; a gota de água terão sido os elogios públicos do Presidente ao seu «grande amigo» Edmund Ho, o homem que acabou por determinar que Rocha Vieira se visse obrigado a abandonar a presidência da Fundação.

ÂNGELA SILVA

 

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