ARTIGOS 

Rocha Vieira continua na Fundação,
 
Expresso, 3/6/00

 

 Home Documentos  |  Forum  |  Links

 

Rocha Vieira continua na Fundação,
 
Expresso, 3/6/00

O GENERAL Rocha Vieira continua a integrar a Fundação Jorge Álvares (FJA), como membro do conselho de curadores. Na reunião deste órgão, que se realizou na terça-feira, o último governador de Macau renunciou aos cargos e funções que exercia - a saber, presidente dos conselhos de Curadores e de Administração. Continua, porém, a pertencer à fundação - não obstante a sua afirmação, em artigo publicado no último EXPRESSO, de que «perdeu sentido para mim a existência» da FJA.

Rocha Vieira explicou ao EXPRESSO que «os estatutos da fundação atribuem automaticamente a qualidade de curador a todos os ex-governadores» . Adiantou, contudo, que não ocupará «nenhum cargo» , nem exercerá «qualquer actividade no âmbito da Fundação» .

À reunião, que se prolongou por várias horas incluindo um jantar, compareceram os curadores da FJA, excepção feita a Stanley Ho e à sua filha Pansy. A tese da extinção, defendida por Rocha Vieira, não fez vencimento. Com efeito, o general vinha sustentando em privado que a melhor solução seria o fim da FJA, com a entrega do capital à Fundação Casa de Macau.

Assim, o conselho pronunciou-se pela continuação da FJA, com os mesmos objectivos de origem: a cooperação entre Portugal e Macau. Posto isto, o consenso foi a nota dominante. Por unanimidade, foi escolhido para novo presidente o general Lopes dos Santos - o mais velho e o mais antigo dos sete ex-governadores ainda vivos. Com 80 anos, Lopes dos Santos esteve à frente de Macau entre 1962 e 1966, antes ainda da Revolução Cultural. Fora Lopes dos Santos quem, na primeira reunião da FJA (realizada em Macau nas vésperas da transferência da soberania), propusera Rocha Vieira para presidente do conselho de curadores - que por inerência preside ao conselho de administração. De acordo com os estatutos, Lopes dos Santos propôs os restantes quatro administradores: os ex-governadores Carlos Melancia e Melo Egídio, o advogado Coelho da Silva e o editor Guilherme Valente. Melancia irá coordenar um grupo de trabalho encarregue de lançar iniciativas «a curto prazo» .

Em declarações ao EXPRESSO, o general Lopes dos Santos manifestou o desejo «de tudo fazer para concertar as coisas com Macau e restabelecer o ambiente de confiança e cordialidade» , afectado pelo que designou de «muitos mal-entendidos» .

 

Sampaio ao lado de Ho e contra Vieira

Ainda consensual foi a decisão de não devolver a verba de 1,25 milhões de contos doada pela Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau - e que está na origem de todo a controvérsia. «Não há razão nenhuma para devolver o dinheiro» , acentuou ao EXPRESSO o ex-governador Pinto Machado; «se tivesse alguma dúvida sobre a legitimidade da verba, eu não estaria na Fundação» .

A devolução fora sugerida por Edmund Ho, o chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau. Reagindo ao artigo de Vieira, Edmund Ho disse aos jornalistas que estava «um pouco desapontado» com o general. Rocha Vieira, recorde-se, escrevera que Ho fora «consultado previamente» sobre o projecto da fundação e que lhe dera «o seu assentimento expresso» . Manifestamente agastado, Ho afirmou que o dinheiro «seria recebido de bom grado» . Quanto à reunião tida em Lisboa com os sete ex-governadores, esclareceu que «o general queria não apenas uma declaração pública, mas também que eu rejeitasse as conclusões da comissão independente» . Como se sabe, o inquérito, instaurado por Ho, concluiu que o subsídio fora ilegal e anulável.

Já Jorge Sampaio recusou fazer qualquer comentário sobre o dinheiro. Na primeira reacção ao artigo de Vieira, o presidente colocou-se ao lado de Edmund Ho. Não só lhe chamou «meu particular amigo» como fez questão de o citar: «Este assunto está morto, não mexam muito mais nele» . Posteriormente, disse ao «Público» que a FJA fora uma «iniciativa pessoal» do general.

A reunião de curadores não mereceu comentários a Edmund Ho. No seu gabinete limitaram-se a repetir que o assunto está encerrado. O mesmo não aconteceu com o deputado Ng Kuok Cheong, que se insurgiu no semanário macaense «Ponto Final» contra a «teimosia» da FJA, que «revela um claro desdém pela população de Macau» . O deputado, que lidera o sector pró-democracia de Macau, anunciou uma campanha de recolha de assinaturas, visando reaver o dinheiro.

JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA

 

[ Home ] [ Documentos ] [ Forum ] [ Links ]

  Forum Macau - Lisboa, Macau - Maio 2000

Hosted by www.Geocities.ws

!--mstheme-->
Hosted by www.Geocities.ws

1