Rocha Vieira é alvo de muitas críticas
Macau
Hoje, 30/5/2000
Nunca
antes acontecera. A homepage do EXPRESSO encontra-se superlotada com
mensagens sobre a polémica à volta da Fundação Jorge Álvares. Um
artigo publicado no semanário EXPRESSO provocava a reacção de quatro ou
cinco leitores cibernautas. Desde sábado a situação alterou-se
surpreendentemente. Após a publicação do artigo "A Minha Verdade
Sobre Macau", da autoria do general Rocha Vieira; do teor do
Editorial; do artigo do jornalista Fernando Madrinha; e de outro artigo do
repórter José Pedro Castanheira, abordando a posição do ex-governador
Rocha Vieira, eis que a recepção de mensagens através da Internet é
quase interminável. São dezenas de mensagens de todos os quadrantes e
locais do mundo. Se um cibernauta envia uma mensagem favorável a Rocha
Vieira, de imediato chegam várias a criticar o seu procedimento sobre a
polémica Fundação Jorge Álvares e sobre a sua governação em Macau.
Noventa por cento das mensagens são desfavoráveis a Rocha Vieira e,
naturalmente, a esta hora, os seus "consultores" para uma
eventual candidatura à Presidência da República já fugiram para o
Brasil... O HOJE apurou tratar-se do maior recorde de mensagens enviadas
para o EXPRESSO através da Net referentes a um único tema. E esse tema
é Macau. Aqui deixamos alguns dos exemplos que a nossa Redacção captou
da homepage do EXPRESSO.
ILEGAL
Ora essa, o que tem de ver o cu e as calças? Com o (in) justificável ter
avisado ao seu sucessor Edmundo Ho, o antigo Governador vem tentar tornal
legal o ilegal. Sempre partiu de si, a iniciativa, de concretização da
Fundação Jorge Álvares. Sempre foi de si a ordem para conceder os subsídios
de uma Fundação para a nova. Sempre foi de si os contactos com Stanley
Ho para obter outros subsídios. Sempre foi seu desejo ser o Presidente e
mandatário exclusivo dos destinos da Fundação. Sempre ficou com os
altos salários.
Agora que o feitiço virou contra o feiticeiro, bate com a porta. Olha
devia bater com a cabeça.
José S.S. 27.5.2000
TRISTEZA
É com enorme tristeza que tenho acompanhado, como Português, esta
"fogueira" nacional em que se transformou o Caso Fundação
Jorge Álvares.
Este caso é um dos mais lamentáveis a que temos assistido e que vem
tentar manchar um processo que, e por oposição aos demais, não tendo
sido perfeito, foi perfeitamente exemplar: PORTUGAL transferiu os poderes
de administração de Macau para a RPC com DIGNIDADE! Ora e o que aqui se
trata é tão só e apenas de DIGNIDADE, quer seja do ESTADO, quer seja de
uma pessoa, quer se goste quer não, que foi o último mais alto
representante do Estado Português naquele minúsculo, mas admirável,
território do Extremo Oriente... tantos anos esquecido. Macau.Há que
perguntar: O que tem motivado que uns quantos jornalistas, sublinhe-se que
sempre os mesmos, tenham conduzido esta operação de guerrilha que tem
vilipendiado a honorabilidade de um valoroso cidadão que teve a corajem
de assumir o cargo de Governador de Macau, numa altura em que ninguém
queria?
Para que conste, e porque ainda ninguém o disse: os jormalistas,
putativos investigadores, têm uma proveniência conhecida... o próprio
território de Macau!
Conhecendo eles a realidade, e tendo assinado noutros tempos crónicas de
escárnio e mal dizer no jornal "Ponto Final", de Macau, sempre
em contraponto com a Administração Portuguesa, que nunca lhes deu
oportunidade de ter "carro e motorista" como no fundo todo o
Português ansiava!
São pois um punhado de "ressabiados", que investidos na nobre
função de informar... têm vindo a montar esta fogueira que tem
consumido em lume brando a DIGNIDADE NACIONAL.
Questionável pode ser a proveniência dos fundos, como também o pode ser
a gestão e politica de atribuição de verbas de qualquer instituição
para uma Fundação.
INQUESTIONÁVEIS são os fins consagrados nos Estatutos da Fundação
Jorge Álvares que, caso venha a ser reconhecida pelo Estado Português,
poderá desenvolver uma meritória actividade em benefício dos Macaenses
e dos chineses de Macau, sobretudo aqueles que não gozam do benefício de
ser funcionário da RAEM.
Para finalizar 50 milhões de patacas são um montante perfeitamente ridículo
e que a Fundação Jorge Álvares, na primeira reunião do seu conselho de
curadores deveria DEVOLVER, com toda a pompa e circunstância, à entidade
doadora, através do Senhor Edmund Ho. A dignidade NÃO TEM PREÇO!
Este acto será, provavelmente mais do que a renuncia do General Rocha
Vieira, o meio idónio de encerrar de vez com a polémica... a BEM de
PORTUGAL E DE MACAU
Cordialmente Manuel Gonçalves 27.5.2000
O MESMO GONÇALVES?
Gostaria de saber (por mera curiosidade) se este sr Manuel Gonçalves que
se intitula Português, é o mesmo MACAENSE que preside ao conselho de
administração da TDM (TV de Macau) nomeado pelo amigo Rocha Vieira e que
para manter o tacho + um cargo político na Região Administrativa de
Macau se apressou a renunciar à nacionalidade portuguesa optando pela
chinesa. AH! Gostaria de acrecentar que a tal TDM no canal português só
continua a dar notícias favoráveis sobre o RV.
Se for o mesmo estamos perfeitamente elucidados e mais: realmente o que são
uns milhõezitos quando a TDM está completamente falida e tem um passivo
de biliões? "That's peanuts" como diria um ex-secretário-adjunto
do Vieira. Que o digam os milhares de desempregados chineses que se têm
manifestado nas ruas de Macau contra o desemprego e falta de subsídios e
os portugueses em Portugal que usufruem o ordenado mínimo nacional mais
baixo da Europa!
Quem quer que seja este Gonçalves olha vai-te catar para outro lado!
Leitora Super-atenta 28.5.2000
TRANSPARÊNCIA
Manuel Gonçalves:
Compreendo a sua enorme tristeza com que tem acompanhado, como Português,
esta "fogueira" nacional em que se transformou o Caso Fundação
Jorge Álvares.
Concordo que este caso é um dos mais lamentáveis a que temos assistido e
que vem tentar manchar um processo que, e por oposição aos demais, não
tendo sido perfeito, foi perfeitamente exemplar: PORTUGAL transferiu os
poderes de administração de Macau para a RPC com DIGNIDADE! Sim senhor
tudo isso é verdade. Mas confundir a DIGNIDADE
do ESTADO com a dignidade de uma pessoa, são duas
coisas completamnte diferentes. Quem tem um cargo e não se comporta à
altura da dignidade que o Estado lhe confere deverá ser responsabilizado
e não escudar-se atrás do cargo e arranjar bodes expiatórios para fugir
às suas responsabilidades. É assim em todo o mundo: caia na realidade -veja
o que se passa noutros países do mundo cvilizado e onde existe um Estado
de Direito. Políticos exercendo cargos muito mais elevados que RV tiveram
que depor/ demitiram-se ou foram julgados pelos seus actos.
De facto - quer se goste quer não, RV foi o último e mais alto
representante do Estado Português naquele minúsculo, tantos anos
esquecido mas que de repente esteve sob as atenções do mundo inteiro
dada a publicidade à volta da transferência de soberania. Razões de
sobejo para RV se ter portado com a MÁXIMA TRANSPARÊNCIA E DIGNIDADE. Não
basta posar para a fotografia com a bandeira ao peito. Há que sair com
prestígio pessoal - coisa que o Sr Pattem o soube fazer - é só seguir a
sua trajectória política desde que saiu de HK para a Europa. Realmente há
que perguntar: O que tem motivado uns quantos jornalistas? Primeiro os
jornalistas são motivados pelo que é notícia. Não são só os
portugueses - a imprensa chinesa e a comunidade chinesa em Macau não têm
parado: ele são cartoons, ele são petições para devolução do
dinheiro, etc. Para já não falar nos jornais de Hong Kong e na própria
CNN. Não ponha a culpa nos jornalistas portugueses - essa era a estratégia
de Rocha Vieira que dividia os jornalistas entre portugueses dos bons e
dos maus conforme as notícias lhe eram favoráveis ou não. O sr. não
tem lido intervenções de políticos portugueses de todos os quadrantes/
os bonecos do contra-informação/juristas/ economistas? Isso a que chama
operação de guerrilha deve ser mesmo expressão castrense vinda do
general! Ou o senhor também é militar? Ninguém vilipendiaria a
honorabilidade de um valoroso cidadão se este soubessse ter-se portado
como tal. O processo de inquérito foi conduzido única e exclusivamente
por chineses e as suas conclusões não deixam margem para dúvidas: acto
anulável e ilegal. Estas são as conclusões dos jornalistas portugueses?
Estes limitaram-se a dar a notícia. Assumir o cargo de Governador não é
mostrar coragem: O general teve coragem para aceitar vir para Macau? Ele
teve a oportunidade de sair da obscuridade de um lugar recôndito dos Açores
sendo pago com o maior salário de Portugal que suplantava o do Presidente
da República. Se fossse tão mau porque é que ele se manteve lá 8 anos?
Quem é que disse que ninguém queria? Até me admira se ele tinha assim
tanta dignidade rebaixar-se a aceitar um lugar tão rejeitado!
Quanto aos jormalistas a quem o sr. mimoseia com vários nomes terem
proveniência conhecida - o próprio território de Macau - aconselho-o a
ler atentamente os nomes dos jornalistas que assinam os artigos sobre a
dita Fundação e muito poucos passaram por Macau ou se o fizeram foi de
visita.
Compreendo a frustração (eu e o Edmundo Ho) do General depois de anos a
fio andar a pagar aos jornalistas de Portugal para virem a Macau e andarem
de carro e motorista para falarem bem dele e de encomendar cadernos
especiais sobre o território (sempre à custa do erário público) que
agora seja essa a paga!
Também lhe quero lembrar que foi sob a vigência vierista que houve um
abaixo- assinado dirigido a Mário Soares protestando contra a falta de
liberdade e os ataques a jornalistas. Há processos ainda a correr. Quanto
ao jornal "Ponto Final", de Macau, porque não conta que foi por
estar sempre em contraponto com a Administração que Rocha Vieira lhe
negou um subsídio quando o dava a todos os outros jornais? E mesmo depois
de uma decisão do tribunal ter estipulado que o subsídio lhes era devido
esse continuou a ser negado contrariando a ordem judicial. Simultaneamente
todos outros jornalistas que bajulavam o General esses sim eram premiados
não só com "carro e motorista" como com outros cargos casos do
analfabeto do Afonso Camões/ do Rocha Dinis (o homem dos supercargos) e
do João Fernandes que até foram condecorados! Dizer que no fundo todo o
Português ansiava ter "carro e motorista" ó sr. Gonçalves tá
a ver-se ao espelho? O que os Portugueses em Macau queriam era garantir os
contratos e acabar de pagar a casinha. Os chamados "carros pretos com
motorista" eram permanentemente alvo de chacota se quer mesmo saber!
O punhado de "ressabiados", que investidos na nobre função de
informar... têm vindo a montar esta fogueira que tem consumido em lume
brando a DIGNIDADE NACIONAL - essa tirada é igual ao discurso salazarista
quando se lamentava contra a propaganda anti- colonial da imprensa
internacional.
Se é questionável a proveniência dos fundos, como também o pode ser a
gestão e política de atribuição de verbas de qualquer instituição
para uma Fundação. Mais uma razão para ser motivo de notícia para a
imprensa.
Quais são os tais INQUESTIONÁVEIS fins consagrados nos Estatutos da
Fundação Jorge Álvares?
Ainda só vi pagarem uma fortuna a professores catedráticos para fazerem
à pressa um relatório e pagarem uma viagem a uma jornalista (das que o
RV gostava) para o marido e a família darem a volta ao mundo de jipe!
Espero bem que a Fundação não venha a ser reconhecida pelo Estado
Português pois não estou nada a ver o que a Fundação vai dar aos
Macaenses e chineses de Macau, sobretudo aqueles que não gozam do benefício
de ser funcionário da RAEM. EXPLIQUE MELHOR ESSSA: como MACAENSE que não
gozo o benefício de ser funcinária da RAEM quero já saber!
Para finalizar afirma LEVIANAMENTE que 50 milhões de patacas são um
montante perfeitamente ridículo?! Você está a brincar ou bebeu? A
dignidade do Sr. Vieira neste momento se é que lhe resta ainda algum
pingo só tem um preço: DEVOLVER o dinheiro - não à entidade doadora,
que deixará de existir mas a Macau e porque não? através do Senhor
Edmund Ho.
Este acto será, provavelmente mais do que a renúncia do General Rocha
Vieira, o meio idónio de encerrar de vez com a polémica... a BEM de
PORTUGAL E DE MACAU e de demonstrar (resta acrescentar) que o Sr. Vieira
agiu com grande desonra para Portugal e Macau.
Cordialmentebr> Ana Rosa
Macau 28.5.2000
NADA DIZ
Leitores do Expresso:
Ainda não compreendo o porquê do antigo governador de Macau Rocha Vieira
ter levado 50 milhões do erário público e 50 milhões do Stanley Ho
para constituição da sua Fundação em Portugal quando bem podia
directamente pedir os 100 milhões do último, sendo já não ter lugar
para tanta contestação.
Por outro lado, é do conhecimento público, o saldo total dos subsídios
foram exactamente 100 milhões patacas. Aconteceu há cerca três meses,
num discurso directo à imprensa chinesa em Macau, Stanley Ho confirmou a
contribuição de 100 milhões ao Rocha Vieira para criação da Fundação
Jorge Álvares, ao inesperado problema gerado, prometeu não dar mais uma
pataca, sem primeiro consultar o Governo da RAEM.
Afinal foram 50 ou 100 milhões patacas o donativo financiado por Stanley
Ho?
Terá ele confundido com os números pagos a Rocha Vieira?
Porquê sempre rejeita e não colabora num inquérito independente, seja
qual for o resultado, não quer ver de volta o dinheiro concedido?
Cada vez confrontado com a imprensa sobre os donativos fica
irritadíssimo
e afasta-se sem comentários?
Apesar não interessar directamente a um
simples cidadão uma contribuição de uma entidade particular de 50 ou
100 milhões patacas a uma Fundação privada, mas pela transparência e
á verdade era bom saber o montante exacto do financiamento e como teria
processado, caso contrário ficava com a ideia dos remanescentes 50 milhões
sofrerem um desvio e caido no bolso de alguém.
Acho muito estranho toda este processo e não dignficava nem o Governo
Português, o próprio Rocha Vieira, nem o Stanley Ho, aos quais chegou o
momento inadiável de fazerem um esclarecimento público devidamente
documentado.
Aquilo que vem hoje no Expresso nada diz. Foi uma resposta possível de
Rocha Vieira. Este de deixar passar o tempo, a mim não serve e cada vez
mais fico convicto na necessidade de um inquérito no âmbito da República
Portuguesa, para duma vez por todas esclarecer a verdade dos factos, a não
ser como muitos suspeitam, hajam mais envolvidos e podem vitimar alguém
no Poder.
Augusto da Silva - S.Paulo,
Brasil
27.5.2000
CIDADÃO DECENTE
Muito gostaria que considerassem seleccionar este comentário para divulgação.
Uma apreciação sumária de todo este processo permite fazer um juízo de
valor a favor do Sr General Rocha Vieira. Um País com a honra que se
exige a Portugal no último passo da descolonização, não pode
sacrificar pessoas de bem, distintas e honradas, que tomaram decisões
dentro das suas competências. Afinal, quem ousa afirmar que a Fundação
é um roubo?
Quem se propõe a Fundação beneficiar? Portugal deixou Macau na banca
rota por causa desta operação financeira?...
Certamente mais complexo do que o questionado exige-se a transparência
total do caso. Admita-se que quem deixou mal o Sr General visite Macau
brevemente para recuscitar o que se pretende morto em nome do sacrifício
de pessoa honorável: Devolva-se integralmente aquilo que o colectivo nega
depois de pagas as despesas e cancele-se a Fundação.
Não conheço o Sr General, não tenho interesses de qualquer espécie em
Macau ou neste caso, mas permita-se que o cidadão decente exiga decência
para com os seus concidadãos.
Tomemos por referência o melhor que temos, a qualidade, equilíbrio e
correcção de cidaões como o Sr General.
Aceitem os meus sinceros cumprimentos.
Manuel Gilberto A. Anselmo
28.5.2000
ROCHA VIEIRA ERROU E
PREJUDICOU
O semanário EXPRESSO é indubitavelmente o melhor jornal português.
Leio-o há mais de 25 anos e sempre promovi junto de amigos a sua independência,
ética e deontologia. Contudo, nunca faria a mínima ideia que o EXPRESSO
pudesse enveredar por caminhos dúbios, cinzentos e revoltantes ao ler as
tomadas de posição expressas no jornal a propósito da Fundação Jorge
Álvares, uma instituição que não existe e que apenas veio criar
dissabores a todos os portugueses nascidos ou radicados em Macau. O
EXPRESSO através do senhor Fernando Madrinha, senhor José António Lima
e seu director (presumo) que escreveu o editorial da última edição deu
o pior exemplo de falta de independência, melhor de dependência total de
quem o financiou escandalosamente. A defesa do general Rocha Vieira é
infame. Todos os jornalistas portugueses sérios sabem que o general
cometeu um erro. Um erro grave. Embriagado com o narcisismo adquirido ao
longo dos anos que esteve em Macau como secretário-adjunto das Obras Públicas
de Garcia Leandro (onde aprendeu a escola oriental dos financiamentos
sombrios) e com os anos de governador tentou criar uma fundação à sua
semelhança e despotismo. A fundação chamar-se-ia "Rocha
Vieira", mas os amigos conseguiram convencer o general para que o
nome fosse mudado para "Jorge Álvares".
O EXPRESSO veio em defesa de Rocha Vieira por uma razão fundamental e é
importante que todos os leitores do EXPRESSO, e todos aqueles que preferem
semanalmente este jornal, saibam que toda esta posição dos senhores
Madrinha, Lima, Castanheira e Saraiva se deve simplesmente ao facto de
Francisco Pinto Balsemão ser o presidente do Grupo Editorial ao qual
EXPRESSO pertence. O senhor Balsemão recebeu de Rocha Vieira uma quantia
tão avultada que ao ser do conhecimento público nos envergonharia a
todos.
Aconteceu que durante o Congresso realizado em Macau da Imprensa Regional
Portuguesa, o senhor Balsemão apenas se deslocou a Macau para que essa
quantia lhe fosse entregue em troca de um discurso vergonhosamente favorável
a Rocha Vieira, precisamente na altura em que alguns jornais de Macau eram
prejudicados pela administração portuguesa. O EXPRESSO cumpriu mal a sua
missão e se ainda algum destaque concedeu ao problema de Macau, única e
exclusivamente se ficou a dever à questão de Rocha Vieira não ter
cumprido o que prometeu a José Pedro Castanheira, ou seja, o
financiamento total do livro que o referido jornalista andou a redigir em
Macau, por sinal sempre bem (?) acompanhado de Rocha Vieira. Livro que está
emperrado (vá lá saber-se porquê?) enquanto o de Dinis de Abreu já foi
lançado com pompa e circunstância.
Os leitores do EXPRESSO têm de saber que 50 milhões de patacas para
Macau ou para Edmund Ho têm o mesmo valor que um amendoim dado a um
macaco do Zoo de Lisboa. Não está nem nunca esteve em causa os 50 milhões.
Está em causa a atitude. Um governador e simultaneamente presidente do
conselho de curadores de uma fundação pública nunca poderia dar ordens
verbais à presidente do conselho de administração da mesma fundação
para transferir determinada verba sem conhecimento e aprovação dos
demais curadores e membros do conselho de administração e do conselho
fiscal. Pior ainda, se o governador e presidente da fundação macaense
seria o presidente de uma outra fundação em Portugal. Isto é um acto
obsceno em qualquer parte do mundo. Para não lhe chamarmos abuso de poder
e de pirataria política.
Não é justo que o respeitável EXPRESSO, tente limpar o Sol com uma
peneira e venha a terreiro editorial tentar limpar a imagem de um homem
que deixou as maiores dúvidas de seriedade em Macau. A título de
exemplo, refira-se apenas que toda esta polémica já provocou a maior
vergonha em termos de boatos pela cidade de Macau, onde alguns círculos
chineses deixaram ontem cair a informação falsa ou verdadeira de que
Rocha Vieira é o português mais rico do mundo porque conseguiu
transferir para fora de Macau cerca de 100 milhões de dólares
americanos. É isto bonito? Esta situação será agradável para quantos
portugueses optaram por ficar como residentes em Macau? É este embróglio
que o EXPRESSO aceita como uma simples defesa de um "homem ferido e só",
como diz o senhor Madrinha? O senhor Madrinha quando esteve em Macau nunca
foi capaz de conversar com pessoas que lhe diriam certas verdades
vergonhosas relativas à administração portuguesa. Pelo contrário,
preferiu a companhia e os conselhos dos assessores de imprensa do
governador e as mordomias que o governo de Macau sempre dispensou a certos
jornalistas que trabalhavam para publicações afectas aos grupos
financiados por Macau. Tal como o escândalo Lusomundo. Por que será que
nenhum jornalista investiga profundamente a que se teria ficado a dever a
subida dos lucros da Lusomundo? Talvez tivessem grandes surpresas e ao
coronel Silva lhe acontecesse o mesmo que agora sucedeu ao Presidente de
Israel.
É importante que os leitores do EXPRESSO que têm intervido nestes comentários
comecem a concluir um facto verdadeiro e lamentável. Nem todos os
portugueses que trabalharam ou trabalham em Macau foram ou são corruptos.
Nem todos conseguiram adquirir casa própria, monte no Alentejo, quinta em
Sintra e vivenda no Algarve ou na Quinta do Patino. Nem todos foram
contemplados com Ferraris e Mercedes. Toda esta polémica da Fundação
Jorge Álvares deve resumir-se a um único pormenor. A quantia de 50 milhões
de patacas deve ser devolvida à fundação macaense porque a transferência
foi ilegal e o senhor Rocha Vieira não precisava nada desse dinheiro para
criar uma fundação. O que está em causa é a moral e a verticalidade de
uma presença secular portuguesa que se gostaria de ver continuadamente
dignificada. Por outro lado, os 100 milhões dados pela STDM-Stanley Ho,
constituiu um facto muito mais grave e muito mais imoral, sobre o qual
pouca gente tomou posição. Não existe entendimento possível para o escândalo
do fiscalizador pedir, em jeito de esmola, ao fiscalizado 100 milhões de
patacas. Isso foi um gesto que destruiu completamente Rocha Vieira na cena
internacional. Só para manifestar uma comparação simples, nunca o
ex-governador de Macau seria convidado para um cargo tão importante e
prestigiante como aquele que é ocupado pelo ex-governador de Hong Kong,
Chris Patten, no âmbito da Comunidade Europeia. E as razões negativas
estão bem à vista, infelizmente para todos nós.
Apenas um pedido de desculpas a quantos tiveram a paciência de ler estas
linhas prolongadas, mas penso que seria da máxima importância falar de
factos relevantes e deixar cair em saco roto as banalidades acerca de um
território como o de Macau onde o tempo das vacas gordas para os
portugueses já terminou. Para quantos optaram pela permanência em Macau
o futuro poderá não ser brilhante. Muito por culpa do passado. Apelamos
que no futuro o EXPRESSO não obedeça mais a ordens do seu patrão. O
dinheiro na vida não é o mais importante e um jornal com a carteira de
publicidade do EXPRESSO já não precisa de vender a sua alma ao diabo...
Um Macaense Farto de Mentiras
(Carta de leitor enviada ao diário MACAU HOJE)
29.5.2000
VERGONHA
Senhor jornalista Castanheira!
Devia ter vergonha para escrever isto (um artigo em defesa de Rocha
Vieira). Não foi você que durante vários meses andou por Macau a mamar
à conta do Rocha Vieira para escrever um livro sobre ele? Então ainda
pensa por o livro cá fora? Olhe por mim pode não voltar cá porque para
problemas basta o que o Rocha Vieira deixou-nos.
Um Macaense Português de
Alma e Coração!
28.5.2000
TÍTULO
Já repararam que o título da carta do Sr. Rocha Vieira ("A Minha
Verdade sobre Macau") faz lembrar algo de triste e horripilante memória?
Ora pensem lá...
Pois! É isso: O Mein Kampf de Hitler! Estranha coincidência, não acham?
ATX
29.5.2000