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EDMUNDO HO "DESAPONTADO" COM ROCHA VIEIRA,  Público 28/5/00

 

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Edmund Ho "desapontado" com Rocha Vieira
Devolução das Patacas Bem Vista

Por EDUARDO DÂMASO
Domingo, 28 de Maio de 2000

Rocha Vieira acusa Edmund Ho de traição no caso da Fundação Jorge Álvares. Estava a par de tudo e não teve uma palavra que fosse na defesa pública do último governador português de Macau. Edmund Ho respondeu ontem ao artigo de Rocha Vieira no "Expresso" deixando claro que veria com "agrado" a devolução da verba de 1,25 milhões de contos que serviu para financiar a fundação.

FotoA devolução dos 50 milhões de patacas (1,25 milhões de contos) que serviram para financiar a Fundação Jorge Álvares por parte desta instituição ao Governo de Macau "seria recebida de bom agrado", declarou ontem Edmund Ho, manifestando-se ainda "um pouco desapontado" com o general Rocha Vieira. Edmund Ho, chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), reagiu com estas palavras às posições expressas pelo último governador português do território num artigo no "Expresso". "Entendo que tivesse de dizer alguma coisa (...) mas estou um pouco desapontado", disse Edmund Ho, para quem a reacção do general Rocha Vieira "resulta de ter saído frustrada a ideia de criar uma fundação com um relacionamento especial com a RAEM e com o seu chefe do executivo", afirmou em declarações aos jornalistas, em Macau.

Rocha Vieira critica Edmund Ho por não ter assumido publicamente nem perante a comissão independente que investigou o financiamento da Fundação Jorge Álvares o facto de ter tido conhecimento prévio da criação desta instituição e com ela ter concordado.

Na opinião de Edmund Ho, segundo assinala a agência Lusa, "ninguém o julgou e a população de Macau, seja a comunidade chinesa, macaense ou portuguesa, tem capacidade para entender o momento de frustração" do ex-governador. Ao mesmo tempo que exprime a sua "compreensão" e, até, o seu "respeito" por Rocha Vieira, Edmund Ho não deixa, porém, de sublinhar o carácter inaceitável da pretensão que lhe foi exposta pelo ex-governador de Macau quando se encontraram na semana passada em Lisboa. "Queria não apenas uma declaração pública, mas também que eu rejeitasse as conclusões da comissão independente. Eu disse-lhe educadamente que me era impossível fazer isso." Edmund Ho deixou ainda uma enigmática tirada: "Agora compreendo porque é que ele [Rocha Vieira] precisa de dizer a toda a gente que tem o meu apoio, o apoio de Macau e o conhecimento de todos em Macau. Não quero falar sobre as razões de tudo isso porque tenho respeito por ele."

Rematando as suas declarações de ontem, Edmund Ho afirmou que "é importante deixar bem claro que o chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau na República Popular da China não é um sucessor dos governadores de Macau". Ho fez ainda questão de deixar claro que este episódio não põe em causa o relacionamento entre Macau e Portugal "porque esse relacionamento ultrapassa o âmbito de uma ou duas fundações" e, por outro lado, "não colocará em causa a comunidade portuguesa de Macau nem a atitude de respeito do Governo da Região Administrativa Especial para com essa comunidade".

Sampaio evoca o seu amigo... Edmund Ho

Não menos enigmático foi Jorge Sampaio, que citou ontem o seu "particular amigo" Edmund Ho para fazer um curto comentário ao texto de Rocha Vieira. Ao início da tarde, em Santo Tirso, o Presidente da República ainda não tinha tido tempo para ler o artigo. Tinha tomado conhecimento de parte do seu conteúdo pelos jornalistas e, por isso, disse apenas o seguinte: "É uma matéria que precisa que eu leia o artigo para, se quiser, o poder comentar. Tenho apenas uma frase do dr. Edmund Ho, meu particular amigo, que em Portugal disse uma frase que eu acho que é uma frase chave: 'Este assunto está morto, não mexam muito mais nele.'" E nem mais uma palavra.

O texto de Rocha Vieira também não foi bem recebido no Governo, mas, para já, a ordem é para não dar continuidade à polémica. A verdade é que se a popularidade de Rocha Vieira já não era muita no Governo de António Guterres, a partir de agora roça o zero absoluto. Sobretudo devido a uma frase do artigo em que exclui dos seus agradecimentos "alguns responsáveis, em Portugal e em Macau, que conhecendo a mesma verdade dos factos preferiram adaptar-se ao que entenderam ser as conveniências das circunstâncias". Farpas que, aparentemente, foram recebidas tanto em Belém como em S. Bento.

No artigo intitulado "A minha verdade sobre Macau", Rocha Vieira afirma que a dignidade do Estado português "foi posta em causa pelo modo como foi tratado e julgado, pelo poder da RAEM, um acto por mim praticado no estrito exercício dos meus poderes e responsabilidades". Afirma ainda: "Perdeu sentido para mim a existência da Fundação Jorge Álvares, porque foi quebrado um compromisso expresso, que perante mim tinha sido assumido pelo dr. Edmund Ho e no qual se baseava a garantia de uma cooperação continuada, séria e responsável."

A polémica à volta deste caso começou quando Edmund Ho nomeou uma comissão dirigida por um magistrado para investigar o financiamento da Fundação Jorge Álvares, visto em alguns sectores da opinião local, como assinala a Lusa, como um desvio de fundos de Macau para Portugal. O relatório da comissão concluiu pela ilegalidade do acto e pela sua consequente anulabilidade.

Com Luciano Alvarez e Lusa

 

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