O objetivo deste artigo é o de fornecer ao profissional da área
de saúde um conhecimento geral sobre o sujeito afásico permitindo,
assim, uma abordagem multidisciplinar.
A afasia se caracteriza por alteração de processos lingüísticos
de significação de origem articulatória e discursiva, incluindo
aqui os aspectos gramaticais, produzida por lesão focal adquirida
no sistema nervoso central, em zonas responsáveis pela linguagem,
podendo ou não se associarem a alterações de outros processos cognitivos.
As afasias podem ser decorrentes de lesão corticais ou subcorticais
(lesão talâmica esquerda ou gânglio basal) e são classificados como
não fluentes (lesão focal em lobo frontal anterior esquerdo) ou
fluentes (lesão focal em região temporal posterior ou em lobo parietal
esquerdo). As afasias não fluentes seriam as motoras, enquanto que
as fluentes seriam as sensoriais. A sintomatologia das Afasias manifestadas
pelos pacientes é bastante heterogênea, sendo desta forma importante
valorizar o aspecto único, pois há influência de muitas variáveis
como: localização; extensão da lesão;variações interpessoais (idade
e aspecto sócio-culturais).
A sintomatologia da expressão oral podem ser de redução ou deformação:
Redução: exteriotipias, que é um único segmento linguístico evocado
toda vez que o paciente tenta se comunicar; agramatismo que é a
dificuldade na evocação de frases por ausência de artigos/preposições
e conjugação inadequada de verbos; anomia que é a dificuldade na
evocação de nomes e etc.
Deformação: jargão que é uma enxurrada de sons sem significado,
enfim discurso sem mensagem; parafasia que é substituição de uma
palavra por outra, que pode acontecer quando se substitui um fonema
ou a troca de uma palavra por outra, dentro do mesmo campo categorial.
Temos também o neologismo (invenção de palavras).
O comum nas afasias motoras são os sintomas de redução, enquanto
que nas afasias sensoriais ocorrem mais os sintomas de deformação.
O fato de classificar a afasia, só nos auxilia na identificação
sindrômica do paciente, não trazendo assim esclarecimentos quanto
a reabilitação.
Através do advento das técnicas modernas de mapeamento cerebral
de eletrocefalografia, e de estudos utilizando tomografia, ressonância
magnética é possível desvendar muitos detalhes da representação
neural do processamento verbal, que permitem hoje uma melhor compreensão
da fisiologia da linguagem. Descobriu-se então que lesões do sistema
frontal comprometem também a compreensão da linguagem e por outro
lado lesões do sistema temporal comprometem a identificação de classes
de nomes e conceitos. Desta forma podemos dizer que toda afasia
apresenta alterações do processo de expressão e recepção, sendo
que na maioria um dos dois processos é mais significativo.
O importante no processo de investigação (avaliação) é valorizar
o conjunto dos sintomas e a partir daí poder entender as alterações
manifestadas pelo sujeito afásico.
São muitas as variáveis que vão interferir no prognóstico, sendo
elas: etiologia; idade; sistema geral; fatores psicológicos; sócio-culturais;
extensão da lesão.
Temos então, que dependendo da causa primária, ou seja, a origem
do AVE, TCE, herpes cerebral e etc., haverá diferença significativa
na evolução do quadro; assim também como idade, fatores psicológicos
sendo o mais comum "a depressão" trarão sem dúvida uma particularidade
na evolução do quadro.
Chamo atenção aqui para os casos de múltiplos AVE e a idade avançada,
que é o perfil em sua grande maioria, pois a estes a afasia tem
caráter particular.
É importante analisar os sintomas levando em consideração o processo
de envelhecimento normal da linguagem, ou seja, os que fazem parte
da senescência e por outro lado diferenciar as características demenciais.
É importante o diagnóstico diferencial, pois este será um marco
para a conduta terapêutica adequada.
A conduta terapêutica em afásicos e em demenciados é bastante distinta,
o que torna necessário o diagnóstico diferencial, que é realizado
através de uma avaliação de linguagem e avaliação médica. Como a
maior parte dos afásicos são de terceira idade, e muitas vezes com
história de múltiplos AVE, é importante valorizar uma investigação
detalhada, para uma adequada condução terapêutica.
Dependendo da precocidade do encaminhamento, a freqüência de estimulação
diária é indicada, pois esta terá como objetivo a reorganização
da linguagem e orientação a familiares quanto a estimulação do meio.
O importante na reabilitação é oferecer ao afásico uma linguagem
funcional, pois o mais importante é que ele consiga se comunicar
mesmo que seja através de meios alternativos. Pois só assim ele
será visto pela sociedade como um "sujeito", e o fonoaudiólogo terá
que buscar sempre dentro da deficiência a eficiência. Outro aspecto
importante, é a terapia em grupo, que tem como proposta a socialização,
conversação e atualização sobre noticiários, proporcionando assim
a estes sujeitos um espaço para ser ouvido e também a aprender a
ouvir.
O tratamento de um afásico há de ter o caráter interdisciplinar
e para um conhecimento profundo da afasia, se faz necessário o estudo
de várias disciplinas, como: lingüística, neuropsicologia, neurologia,
psicologia e etc. O importante é tentar entender o porque das alterações
para a partir daí eleger estratégias de intervenção.
Abaixo estão relacionadas algumas orientações quanto ao falar, ouvir
e entender o sujeito afásico.
*Falar um de cada vez, quando se tem mais de um interlocutor.
*Falar de maneira objetiva, sem ser artificial e se necessário fazer
uso de gestos e expressão facial.
*Se necessário, repetir quantas vezes o paciente necessitar a solicitação
verbal.
*As vezes o uso da escrita beneficia a compreensão (escrever a solicitação
por escrito).
*Não falar alto e sim manter uma articulação clara e pausada.
*Ter disponibilidade para ouvir o paciente e tentar mediar com recursos
alternativos.
*Quando não o entende, transmita a ele que você não o entendeu.
Nunca tente adivinhar o que ele diz.
*Devolva a ele sempre o que você entendeu, e caso não seja correto
mantenha estabilidade psicomotora e tenha muita disponibilidade.
*Favoreça sempre a comunicação, mesmo que seja de forma alternativa
(escrita, programas específicos, gestos e etc).
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