Resumo
Não é justo , não é humano somente prolongar a vida dos que já ultrapassaram
a fase de homens adultos , quando se não lhes dá condições para
uma sobrevivência digna . Olhando sob este prisma , não há dúvida
ao se afirmar que é melhor acrescentar vida aos anos a serem vividos
do que anos à vida precariamente vivida . É sabido que existe perda
da capacidade funcional com o avançar da idade , mas também é sabido
que a plasticidade , reversibilidade ou , melhor , a capacidade
de modificação desse processo tem sido largamente comprovada . A
fisioterapia é peça fundamental no que se diz respeito a recursos
terapêuticos utilizados com finalidades de preservação da função
ao adiamento da instalação de incapacidades em sua forma preventiva.
A fisioterapia nos mostra vasto campo de estudos e trabalhos a serem
realizados em benefício da população de uma época em que antes chamávamos
de futuro mas que representa , na verdade , o hoje e o agora.
Envelhecimento : Desafio na Transição do Século
Apesar da gerontologia ser um ramo da ciência que se propõe a estudar
o processo de envelhecimento e os múltiplos problemas que envolvem
a pessoa idosa , ela é paradoxalmente jovem . O fato é que o envelhecimento
, apesar de ser um fenômeno universal e comum a quase todos os seres
animais , teve o seu estudo negligenciado du-rante muito tempo e
os mecanismos envolvidos em sua gênese permanecem obscuros , existindo
um longo caminho a ser percorrido até que novos estudos sejam mais
esclarecedores .
O final do século XX foi marcado pela explosão de medidas protetoras
que visam postergar a morte . Nas populações nas quais tais medidas
inexistem ou são precárias, a possibilidade de morte estará sempre
presente em qualquer período da vida . Nas populações mais protegidas
, que habitam em comunidades em que o meio ambiente se acha sob
controle , a morte pode ser postergada até o limite biológico de
existência , que é 85 anos .O tempo médio de sobrevivência de uma
população pode ser representado graficamente pela curva de sobrevivência
( Fig. 1 ). Esta é expressa pela porcentagem da população que permanece
viva num determinado momento.
Fig. 1- Para visualizar as ilustrações
é necessário realizar o download do trabalho.
As populações dos países desenvolvidos
, que possuem expetativa de vida de aproximadamente 77 anos , já
estão apresentando curvas próximas do contorno retangular . Mesmo
nos países em desenvolvimento , com expectativa média de 67 anos,
está ocorrendo uma certa tendência à retangularização da curva ,
embora ainda muito distante do nível atingido pelo Primeiro Mundo.
Segundo Papaléo, em 1900 , menos de 1% da população tinha mais de
65 anos de idade , enquanto hoje , ao se aproximar o fim do século
, esta cifra já atinge 6,2 % acreditando-se que no ano 2050 os idosos
serão um quinto da população mundial .No Brasil , os idosos que
representavam 4,2 % da população em 1950 , hoje perfazem 10,5 milhões
, ou seja , 7,1 % do total .
Este aumento acentuado do número de idosos trouxe conseqüências
dramáticas para a sociedade e, principalmente , para os gerontes.
Há necessidade de se buscar as causas determinantes das atuais condições
de saúde e de vida dos idosos e de se conhecer as múltiplas facetas
que envolvem o processo de envelhecimento , para que o desafio seja
enfrentado por meio de planejamento adequado .
Há que se ter visão global do envelhecimento enquanto processo ,
e dos idosos enquanto indivíduos . Aceitar , como querem os biogerontologistas
, que "o envelhecimento é caracterizado pela incapacidade de manter
o equilíbrio homeostático sob condições de sobrecarga funcional
, acarretando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos
patológicos , que terminam por levar o idoso à morte" , é satisfazer-se
com apenas uma meia verdade .
A análise das principais causas determinantes do retardo dos conhecimentos
da gerontologia , a discussão das repercussões biofisiológicas causadas
pelo processo de envelhecimento sobre o indivíduo , o impacto demográfico
determinado pelo crescimento acentuado da população idosa e suas
repercussões sociais sobre o velho , sobre a sociedade e sobre o
sistema de saúde são medidas básicas necessárias ao melhor entendimento
do processo de envelhecimento .
Gerontologia e Geriatria : definições
GERIATRIA
|
Medicina dos velhos , isto é :
*assistência médica = prevenção e tratamento das doenças na
pessoas idosas , e juntamente
*assistência psicológica e socioeconômica |
GERONTOLOGIA
|
Estudo do envelhecimento e das suas conseqüências
Conseqüências do envelhecimento no homem :
- biológicas - psicológicas - médicas - socioeconômicas |
Biofisiologia do Envelhecimento
O organismo humano , desde sua concepção até a morte , passa por
diversas fases : desenvolvimento , puberdade , maturidade ou de
estabilização e envelhecimento . É possível identificar entre as
três primeiras fases marcadores físicos e fisiológicos de transição
entre elas . O envelhecimento manifesta-se por declínio das funções
dos diversos órgãos que , caracteristicamente , tende a ser linear
em função do tempo , não se conseguindo definir um ponto exato de
transição , como nas demais fases . Tem início relativamente precoce
, ao final da segunda década da vida perdurando por longo tempo
pouco perceptível , até que surjam , no final da terceira década
, as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais atribuídas
ao envelhecimento . Admite-se , como regra geral , que ocorre a
cada ano , a partir dos 30 anos de idade , perda de 1% da função
.
O ritmo de declínio das funções orgânicas varia não só de um órgão
a outro , como também entre idosos de mesma idade . Tal fato justifica
a impressão de que o envelhecimento produz efeitos diferentes de
uma pessoa a outra .
Com o passar dos anos vai ocorrendo aumento exponencial da mortalidade
e esta é precedida por elevação também exponencial da prevalência
de entidades patológicas .
O envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico
e progressivo , no qual há alterações morfológicas , funcionais
e bioquímicas , que vão alterando progressivamente o organismo ,
tornando-o mais suscetível às agressões intrínsecas e extrínsecas
que terminam por levá-lo à morte .
Atualmente se considera que o envelhecimento relaciona-se fundamentalmente
com alterações das proteínas que compõe o organismo . Elas constituem
cerca de 15 % dos componentes orgânicos e são os elementos responsáveis
pela formação de estruturas nobres do organismo como células , tecidos
, órgãos , sendo também componentes dos sistemas bioquímicos relacionados
à produção de energia .
Existem diversas teorias que procuram explicar essa alteração protéica
no envelhecimento , sendo que duas delas são mais aceitas pelos
pesquisadores e provavelmente se completam : a) teoria da deterioração
da síntese protéica ; e b) teoria do relógio biológico . Além disso
, existiriam diversos fatores que teriam influência sobre esse mecanismo
de alteração protéica , que são classificados em intrínsecos e extrínsecos
. Entre os primeiros encontram-se a hereditariedade , os radicais
livres ,as alterações imunológicas e , entre os últimos , a alimentação
, as variações climáticas e a radioatividade . Tais alterações da
síntese protéica refletem-se nas células, tecidos e órgãos , alterando-os
morfológica e funcionalmente .
A Assistência ao Idoso – Aspectos Reabilitatórios
Desde a Antigüidade , a velhice tem sido associada à dependência
e à perda do controle sobre a própria vida , mesmo para os atos
corriqueiros e banais de sobrevivência . A teoria médica , biológica
e psicológica , na maioria das vezes , tende a confirmar o envelhecimento
como tempo de declínio e decadência . Assim , a velhice tem sido
pensada , quase sempre , como um processo degenerativo , oposto
a qualquer progresso ou desenvolvimento . Parece até que nessa etapa
da vida deixa de existir o potencial de desenvolvimento humano .
A expectativa de vida está aumentando em todo o mundo e está ocorrendo
o envelhecimento populacional em quase todos os países . Com isso
, um número cada vez maior de indivíduos passa a sobreviver até
70 ou 80 anos . Qual a qualidade dessa sobrevivência ? Como aumentar
o vigor físico , intelectual , emocional e social dessa população
até os momentos que precedem a morte ?
A maioria dos indivíduos deseja viver cada vez mais , porém a experiência
do envelhecimento ( a própria e a dos outros ) está trazendo angústias
e decepções , pelo menos em nosso país . Como favorecer uma sobrevida
cada vez maior , com uma qualidade de vida cada vez melhor ? Quais
as formas e os meios de ajudar as pessoas a conservarem-se sadias
e independentes e a continuarem desempenhando uma vida ativa na
sociedade , mesmo com a chegada dos cabelos brancos ?
O processo normal , fisiológico , do envelhecimento não pode , per
se , ser considerado patológico ou incapacitante , porém parcela
bastante significativa da população idosa desenvolve disfunções
e/ou incapacidades .
Segundo estatísticas americanas de 1982 , os indivíduos com mais
de 65 anos apresentam duas vezes mais incapacidade em relação à
população geral , quatro vezes mais limitação das atividades , visitam
o médico 45% mais freqüentemente e apresentam internações hospitalares
duas vezes mais amiúde e 50% mais demoradas que os indivíduos com
idade inferior aos 65 anos .
Segundo Zimmerman e col. , as três condições mais freqüentes associadas
com incapacidade em pessoas com mais de 65 anos são : artropatias
, hipertensão arterial sistêmica sistólica e/ou diastólica e cardiopatias
, ou seja , apresentam , respetivamente prevalência de 47,2% , 41,4
% e 30,4% . Estes dados tornam-se ainda mais expressivos quando
se sabe que , para o conjunto de todos os grupos etários , essas
proporções são , respectivamente , de 2,8 % , 12,5% e 8,2% . Deve
ser ressaltado também que a presença de múltiplas afecções associadas
em uma mesma pessoa aumenta a probabilidade de incapacidade para
uma ou mais atividades de vida diária ( AVDs) em pessoas idosas
de ambos os sexos . Segundo o National Health Interview Survey ,
de 1984 , quando apenas uma condição patológica está presente ,
somente cerca de 5% da população idosa apresenta uma ou mais dificuldades
nas AVDs. Este percentual cresce rapidamente à medida que aumenta
o número de doenças associadas , atingindo 55% entre homens e 65%
entre mulheres .
A capacidade de modificação deste processo tem sido largamente comprovada
. A literatura mostra , ainda , que o desempenho de um indivíduo
, em qualquer atividade , pode ser melhorado independentemente da
idade e com relativamente poucos recursos . Assim , por exemplo
, é sabido que o exercício físico pode diminuir os níveis de pressão
arterial e melhorar o débito cardíaco , bem como retardar , senão
reverter , as alterações relacionadas com a idade na função sináptica
e na velocidade de condução nervosa .
O clínico deve , portanto , estar atento às alterações fisiológicas
do envelhecimento para uma melhor compreensão dos processos patológicos
desse paciente . Além de influenciarem de maneira significante em
sua manifestação clínica , podem também interferir nas respostas
ao tratamento e no aparecimento de complicações ou até de seqüelas
. Da mesma forma , tal percepção , de um lado , permite a melhor
avaliação das perdas funcionais , que por vezes se instalam em conseqüência
dessas afecções, e , de outro , a formulação de propostas de reabilitação
, seja com fins preventivos ou terapêuticos .
Reabilitação pode ser definida como o processo para o desenvolvimento
da máxima capacidade física , psíquica , social , vocacional, educacional
de um indivíduo , considerando suas limitações de qualquer ordem
, sejam elas fisiológicas , anatômicas , ambientais , etc.
Visando desde a preservação da função ao adiamento da instalação
de incapacidades através de medidas preventivas , a reabilitação
tem ainda como objetivo diminuir o comprometimento imposto por incapacidade
ou disfunção , promovendo um modo de vida mais saudável , e adaptando
o indivíduo de forma a propiciar uma melhor qualidade de vida .
Segundo Papaléo , nos últimos anos , a medicina de reabilitação
vem tentando introduzir uma "atitude reabilitacional" nas estruturas
de saúde do idoso . Esta consiste em alguns princípios peculiares
e que compõem um processo interativo de saúde , na qual :
*valorizam-se ganhos funcionais tanto quanto a perspectiva de melhora
clínica ou de eliminação da doença ;
*adotam-se procedimentos terapêuticos considerando a identidade
biopsicossocial do paciente , objetivando seu máximo grau de independência
e liberdade de escolha em seu estilo de vida ;
*elaboram-se diagnósticos funcionais que objetivam sempre reintegração
na comunidade ;
*trabalha-se em equipe interdisciplinar de forma a ampliar recursos
terapêuticos e adaptá-los , caso necessário;
Estabelecem-se objetivos funcionais amplos e individualizados ,
procurando habilitar o indivíduo em suas atividades às possibilidades
funcionais deste . Existem alguns estereótipos que podem dificultar
tais procedimento , sendo o principal deles , a identificação dos
gerontes portadores de incapacidades como um grupo homogêneo e claramente
delineado . Torna-se necessário , portanto , a consideração de alguns
aspectos essenciais , quais sejam :
*a definição de indivíduo idoso é extremamente variável em relação
à época e à cultura de uma população ;
*os indivíduos considerados idosos apresentam muito mais diferenças
entre si que semelhanças .
Para correta indicação terapêutica e sua condução é indispensável
aos componentes da equipe de reabilitação o conhecimento mais profundo
dos diversos recursos de que dispõe , de forma a não subutilizá-los
, ou superestimá-los , como freqüentemente ocorre . Além disso ,
é muito importante que se mostrem abertos à discussão e ao intercâmbio
com os outros profissionais com quem trabalha .
O tratamento medicamentoso , indicado pelo médico , deve ser sempre
encarado como somente uma parte da terapêutica , podendo ser utilizado
como coadjuvante . Além disso pelo fato de poder originar efeitos
colaterais , evidentemente indesejáveis, e que podem determinar
o aparecimento de distúrbios clínicos e/ou funcionais secundários
, particularmente na população idosa devido à sua "polifarmacoterapia"
, deve ser recomendado sempre de maneira cautelosa .
O terapeuta ocupacional , como parte integrante da equipe de reabilitação
, também se utiliza de múltiplas técnicas de tratamento podendo
atuar em duas instâncias , dependendo da necessidade de cada indivíduo
: na área terapêutica e na área ocupacional propriamente dita .
O profissional de nutrição pode participar ativamente do processo
de reabilitação elaborando programas de dietoterapia , adjuvantes
ao tratamento medicamentoso nos distúrbios metabólicos e dietéticos
de um modo geral . Conjuntamente com o fonoaudiólogo , elabora dietas
específicas que facilitem a reabilitação de disfunções orovegetativas.
A terapia fonoaudiológica trabalha os aspectos das funções da linguagem
, comunicação , alimentação , funções dos órgãos fonoarticulatórios
, funções orovegetativas , entre outras .
São utilizados , quando necessários , órteses , palmilhas , calçados
, adaptações , meios auxiliares de marcha , próteses , etc. , no
sentido de implementar funções , promover analgesia , auxiliar a
terapia física , seja ela fisioterápica , de terapia ocupacional
, etc.
A fisioterapia apresenta diversas indicações , posto que múltiplas
são as técnicas passíveis de utilização , tais como o emprego de
meios físicos , terapia por exercícios , terapia proprioceptiva
, de estimulação global etc. , motivo pelo qual é largamente utilizada
, como veremos à seguir .
Além das medidas referidas anteriormente podem ser utilizados outros
recursos , como educacionais , recreacionais e de lazer de um modo
geral , psicossociais , de enfermagem ou quaisquer outros que se
façam necessários , que venham somar na proposta terapêutica elaborada
pela equipe interprofissional participante , do processo de recuperação
da saúde do paciente .
Fisioterapia em Pacientes Idosos
A diminuição da capacidade funcional dos
diversos órgãos e tecidos , é a principal caraterística do envelhecimento
, e acarreta um risco aumentado de doenças , na sua maioria crônico-degenerativas
, que estão se tornando cada vez mais prevalentes em nosso país
. São afecções que não têm diagnóstico de resolutividade rápida
e absorvem grandes quantidades de recursos materiais e de profissionais
especializados .
A promoção e a atenção à saúde do idoso englobam medidas preventivas
, restauradoras e reabilitativas , visando preservar , manter ,
restaurar ou desenvolver função , quer seja por distúrbios motores
, sensoriais , cognitivos , psíquicos , sociais ou por variáveis
múltiplas associadas , com o intuito de proporcionar qualidade de
vida .
Segundo Leavell e Clark (1978) , a reabilitação pertence à terceira
fase de assistência à saúde , ou seja , ‘`a prevenção terciária
. Isto sugere que a reabilitação só deva começar após o término
do tratamento específico , clínico ou cirúrgico , de uma doença
, fazendo com que medidas de reabilitação precoce sejam adiadas
e que incapacidades vão se instalando , antes que seja feita alguma
coisa para impedir e até que surjam as incapacidades secundárias
. É consenso que os melhores resultados só podem ser atingidos se
a reabilitação for iniciada o mais precocemente possível . Dessa
forma a fisioterapia reabilitativa deve , cada vez mais , fazer
parte integrante da atenção secundária e primária e, obviamente
, que os critérios devam ser reformulados , pois a fisioterapia
preventiva , hoje em dia , assume papel cada vez mais importante
e deve ser administrada em conjunto com os tratamentos clínicos
e cirúrgicos de doenças que podem resultar em deficiências .
A fisioterapia , cujo objeto de estudo é principalmente o movimento
humano , vem colaborar , lançando mão de conhecimentos e recursos
fisioterápicos , com o intuito de melhor compreender os fatores
que possam acarretar perda ou diminuição da qualidade de vida e
bem-estar nos idosos .
As práticas preventivas ocupam , em qualquer especialidade , um
lugar de destaque , sobretudo naqueles idosos cuja condição patológica
geral tenha diminuído de forma significante suas possibilidades
de mobilização e independência .
No envelhecimento , uma rápida deterioração , aliada a um baixo
anabolismo , resulta em atrofias , advindo daí a necessidade da
realização de exercícios , de forma regular e progressiva , exercícios
estes que retardam as atrofias e degenerações .
Os exercícios , sempre dentro de uma programação , poderão ser desenvolvidos
através de várias técnicas cinesioterápicas ou de diferentes formas
de atividades físicas .
A indicação desta ou de outra modalidade se prende às condições
físicas do próprio indivíduo e do seu grau de resistência à fadiga.
Sempre haverá uma atividade física capaz de beneficiar o paciente
idoso .
A prevenção de complicações secundárias é mais imperiosa naqueles
casos de idosos acamados em conseqüência de um intervenção cirúrgica
ou de enfermidades , os quais chegarão prontamente a perder grande
parte de seus movimentos se não forem submetidos a tratamentos postural
e profilático adequados .
A manutenção e a preservação da capacidade para desempenhar as AVDs
são pontos básicos para prolongar o maior tempo possível a sua independência
. A capacidade de desempenho é o foco central na avaliação dos idosos
. Um estado incapacitante é sempre referente à impossibilidade de
realização de determinado ato . A capacidade significaria a potencialidade
para a realização de um ato. Este ato , por sua vez , pode ser necessário
para viabilizar a sobrevivência do indivíduo , bem como proporcionar
qualidade de vida ou bem-estar . A sobrevivência estaria relacionada
à concretização de atos básicos que garantam condições mínimas para
a persistência da vida em seu sentido biológico. Por fim o bem-estar
refere-se a uma autopercepção da realidade de vida , sendo dependente
da postura filosófico-existencial do indivíduo , da sua auto-estima
e da sua capacidade íntima de adaptação às situações vivenciadas
.
O funcionamento físico pode ser medido ao longo de um espectro .
Para pessoas incapacitadas , pode-se focalizar a capacidade de desempenhar
cuidados pessoais , geralmente referidos como atividades básicas
de vida diária . O paciente é avaliado pela sua capacidade de conduzir
cada uma das séries básicas de atividades . Os dados são obtidos
geralmente do paciente ou de seu cuidador , que é quem tem oportunidade
para observá-lo .
O protocolo para avaliação funcional usado no serviço de Papaléo
é uma variação das escalas de Katz e Lawton . A avaliação de Katz
abrange somente as atividades básicas de vida diária refletindo
apenas a capacidade ou não para o autocuidado básico , sendo utilizada
mais para pacientes acamados em hospitais , em casas de repouso
, ou mesmo em sua própria moradia , porém com certo grau de dependência
. Já a escala de Lawton reflete o nível de capacidade de utilização
dos recursos disponíveis no meio ambiente habitual para execução
de atividades rotineiras do dia-a-dia , sendo utilizada para pacientes
independentes em acompanhamento ambulatorial .
Este protocolo apresenta como objetivo a identificação do grau de
disfunção , verificando o estado funcional atual , o planejamento
de recursos de suporte e o acompanhamento evolutivo do grau de disfunção
. ( Fig. 2 )
Com a utilização de questionários simples como este , pode-se obter
uma avaliação imediata quanto à capacidade funcional do indivíduo
. Pode-se a partir daí , aumentar a efetividade das terapias propostas
, através de uma prescrição complementar quanto aos cuidados especiais
necessários para suprir as deficiências funcionais e prevenir possíveis
complicações que advenham de uma dependência existente ou não satisfeita
adequadamente .
Inicia-se a avaliação fisioterápica do idoso , com os dados pessoais
do paciente , entre os quais se destaca a ocupação anterior , já
que existem atividades que podem levar a condições mórbidas crônicas
, e a identificação do acompanhante ou cuidador , para obter maiores
esclarecimentos a respeito do paciente . No que diz respeito ao
histórico , a partir do diagnóstico clínico estabelece-se o nexo
entre a doença apresentada e a incapacidade existente , além de
se investigar a queixa e a duração da incapacidade . Questiona-se
a respeito de quedas – se já caiu , por que caiu e em que situações
e quantas vezes caiu . É interessante observar a apresentação do
paciente , se ele deambula sozinho , com auxílio de bengala ou muleta
, ou em cadeira de rodas . No exame físico , se avalia a força muscular
, o trofismo , as amplitudes de movimento articular ( ADM) , o padrão
respiratório , presença ou não de deformidades , alteração de sensibilidade
(tátil , térmica e dolorosa ) , a postura , tanto estática como
dinâmica . Na marcha verifica-se todas as fases ( toque do calcâneo
, apoio do pé e impulso) , o equilíbrio e a coordenação , as atividades
básicas de vida diária e as atividades instrumentais de vida diária
, com o objetivo de estabelecer uma diretriz no tratamento a ser
realizado .
A programação do tratamento fisioterápico será elaborada de acordo
com as informações obtidas na avaliação e constará de técnicas e
recursos fisioterápicos , dependendo da necessidade de cada paciente
.
Avaliação Fisioterápica
1. Dados pessoais
- nome do paciente : ___________________________________________
- registro hospitalar : ________________ - idade : __________
- sexo: __
- estado civil : _____________________ - ocupação anterior :
________
- endereço : ________________________________________________
- nome do acompanhante : _____________________________________
- data da admissão : ___________________________
2.Histórico
- diagnóstico clínico : _____________________________________________
- diagnóstico da incapacidade :
______________________________________________________________
- queixa e duração : _____________________________________________
- anamnese: ___________________________________________________
- história de quedas:_____________________________________________
3. Exame Físico
- apresentação do paciente : ______________________________________
- força muscular e trofismo : ______________________________________
- tônus muscular : ______________________________________________
- amplitude de movimento ( ADM ) : ________________________________
- padrão respiratório : ___________________________________________
- presença de deformidades : ____________________________________
- alteração de sensibilidade : _____________________________________
- avaliação da postura e marcha : _________________________________
*
avaliação das ABVD e AIVD : ______________________________
4. Tratamento |
Fig. 3 – Avaliação fisioterápica sugerida por
Papaléo. |
Conclusão
A terceira idade é um período que todos
aqueles que não morrerem prematuramente terão de vivenciá-la . Por
quanto tempo , não sabemos . E todos os que convivem com idosos
, sejam crianças , jovens ou adultos , podem ganhar ao usufruir
de sua presença . Pois ele completa o arco da existência humana
, e revela aos demais uma faceta específica do sentido da vida .
"O velho nos fala da vida e da morte , do tempo e da eternidade
, do vigor e da fraqueza , do plantar e do colher , da grandeza
e da limitação do ser humano . E a nós cabe estar ao seu lado para
que se sintam amparados no processo de viver e morrer com um mínimo
de dignidade" ( Papaléo Neto)
Referências Bibliográficas
1.NICOLA , Pietro . Geriatria
/ Trad. de Alda Ribeiro. – D.C. Luzzatto Ed. , 1986. P. 34 / 42.
2.PAPALÉO NETTO , Matheus .
Gerontologia . Matheus Papaléo Neto. – São Paulo : Ed. Atheneu ,
1996. Vários colaboradores.
3.GIL , Antônio Carlos . Como
elaborar Projetos de Pesquisa. Ed. Atlas . 1990 . KISNER C , Colby
LA. Exercícios Terapêuticos : fundamentos
e técnicas . Editora Manole . São Paulo , 1989 .
4.IZZO H, SITTA MI . Fisioterapia
. In : Carvalho Filho ET , Papaléo Netto M (ed) Geriatria : Fundamentos
, clínica e terapêutica . Atheneu
. São Paulo , Rio de Janeiro , Belo Horizonte.
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