Autor:
Bianca Laufer Bass - Fisioterapeuta do Hospital Barra D Or, Professora
de Cinesiologia do IBMR, Pós-graduada em psicomotricidade UNESA
A plasticidade neural ou neuroplasticidade é a capacidade de organização
do Sistema Nervoso frente ao aprendizado e a lesão. Esta organização
se relaciona com a modificação de algumas conexões sinápticas.
A plasticidade nervosa não ocorre apenas em processos patológicos,
mas assume também funções extremamente importantes no funcionamento
normal do indivíduo. Os processos de modificação pós-natais em
conseqüência da interação com o meio ambiente e as conexões que
se formam durante o aprendizado motor consciente (memória) e inconsciente
(automatismo) são exemplos de como funciona a neuroplasticidade
em indivíduos sem alteração do Sistema Nervoso Central. É importante
salientar, que estes dois processos descritos acima, necessitam
da estimulação periférica para dar o feedback neuromotor.
Para os Fisioterapeutas, a idéia de neuroplasticidade é de grande
valia pois representa um avanço no processo de reabilitação. Raineteau
e colaboradores (2001), em seu trabalho Plasticity of Motor Systems
After Incomplete Spinal Cord Injury colocam que muitas pessoas
que sofreram lesão incompleta da coluna vertebral mostram, com
o tempo, significativa melhora funcional. Para ele, o processo
de recuperação depende da reorganização de circuitos que foram
separados pela lesão. A plasticidade sináptica nos já existentes
caminhos e a formação de novos circuitos em brotamentos colaterais
são importantes componentes deste processo de recuperação. O que
se torna mais importante dentro do trabalho deste autor é o fato
dele afirmar que existem evidências anatômicas e funcionais de
que a plasticidade é potencializada pela atividade assim como
por manipulação.
As pesquisas em torno do processo da neuroplasticidade vem avançando
a olhos vistos. No passado existiam as pesquisas com macacos deaferentados
realizados por Pons em 1991 ou o estudo das repercussões perceptuais
da reorganização cortical em humanos realizada por Ramachandran
em 1992. Mais recentemente, Sur, M e colaboradores (2001), em
seu trabalho Development and Plasticity of Cortical Areas and
Networks afirmaram que o desenvolvimento de camadas corticais
e redes é mediada pela combinação de fatores que estão no córtex
e influenciados pelo impulso talâmico. Esses autores também confirmam
que esta inervação talâmica é influenciada pela atividade.
O vocabulário dos ganhos pós lesão é ampla porém específica: a
Recuperação ocorre quando há o retorno completo de funções idênticas
às que foram perdidas ou prejudicadas; a Substituição é a adaptação
funcional de uma rede neural defeituosa mas parcialmente restaurada
que depende de estimulação externa; Sparing é a função adequada
de vias neurais residuais e Compensação é a adaptação funcional
para uma atividade.
Os mecanismos relacionados a neuroplasticidade ainda não estão
totalmente definidos. Muita coisa é falado a respeito de recrutamento
de vias paralelas, atividade em vias parcialmente poupadas, brotamento
sináptico, regeneração axonal ou dendrítica, remielinização e
recuperação da excitabilidade neuronal.
Embora ainda não esteja confirmado, parece que as respostas em
relação a neuroplasticidade nos processos o córtex são maiores
no início do processo de reabilitação e vão decrescendo com o
tempo. Em contrapartida, lesões parciais da medula tendem a apresentar
uma recuperação melhor em termos plásticos, depois de passado
certo tempo da lesão. Atividades como o Biofeedback são mais efetivas
após um ano de lesão.
Uma vez avariados, os neurônios não podem ser trocados mas podem
ser substituídos funcionalmente por circuitos ou trajetos nervosos
alternativos, decorrência de brotamento massivo e sinaptogênese
reativa nos axônios intactos e não lesados. O neurônio tem uma
capacidade de se adaptar funcionalmente frente a um estímulo e
as sinapses, por sua vez, são altamente modificáveis quanto a
sua eficiência.
A idéia básica da neuroplasticidade nos conduz ao entendimento
de como se comporta o Sistema Nervoso Central quando há uma lesão.
Os processos descritos acima podem ser resumidos em duas situações
distintas: em primeiro lugar, neurônios íntegros buscam caminhos
alternativos para efetuar a resposta motora, realizando sinapse
com neurônios que se modificam em relação a sua efetividade. Em
segundo lugar, frente a determinada lesão, circuitos e trajetos
nervosos diferenciados são procurados. Em primeira mão parecem
ser processos semelhantes mas diferem quanto a neurofisiologia.
A recuperação da lesão passa por processos diferenciados que variam
desde a existência de vias motoras latentes em várias áreas do
córtex ou no hemisfério contralateral que podem ser ativadas para
assumir a função do tecido lesado até o fato da função ser totalmente
substituída pelo hemisfério remanescente.
Os conceitos sobre plasticidade neural ainda estão evoluindo e
servirão, em breve, para nortear o programa fisioterápico de pacientes
com lesão do Sistema Nervoso Central