A doença de Parkinson representa, nos dias atuais,
uma afecção que requer intervenção precoce fisioterápica para
conter e minimizar as conseqüências desenvolvidas pelo acometimento
de estruturas do sistema extra piramidal. O sistema extra-piramidal
funciona como um sistema acessório que está associado ao córtex
cerebral e ao sistema córtico-espinhal para informações de padrões
complexos de movimento. O sistema é formado pelos gânglios da
base ( núcleo caudado, putâmem, globo pálido ), subtálamo e substância
negra. Alterações em algum destes componentes determina conseqüências
danosas na elaboração de movimentos automáticos, semi-automáticos,
no tônus postural e na habilidade dos movimentos.
Classificação
:
1- Síndromes hipercinética / hipotônica - predomínio de movimentos
involuntários, irregulares, de localização variável e com diminuição
do tônus no repouso : Córéia, Atetose Balismo, Distonia e Doença
de Wilson;
2- Síndromes rigidez - acinética, hipertonia, com diminuição dos
movimentos voluntários : Doença de Parkinson.
A doença de Parkinson é uma afecção crônica e progressiva que
pode ter sua origem de forma primária (idiopática, ocupando cerca
de 2/3 das formas da doença) ou secundária a alguma outra doença
degenerativa.
Histórico
da doença de Parkinson
A doença leva este nome em homenagem ao médico inglês
James Parkinson, autor, em 1817 da clássica monografia "An Essay
on the Shaking Palsy" , ou seja, "Um ensaio sobre a Paralisia
Agitante". James Parkinson foi o primeiro a descrever clinicamente
a doença por nós hoje conhecida e que em seu trabalho a denominou
de paralisia agitante. Entretanto, no final do século XIX e início
do século atual, Jean- Martin Charcot, médico neurologista chefe
de serviço do Hospital de la Salpêtrière, estudioso da paralisia
agitante, renomeou tal doença para o nome de seu primeiro observador,
o que foi unanimemente aceito pela comunidade científica. Charcot
prosseguiu seus estudos e foi o primeiro a propor tratamento para
a doença, ainda que de eficácia limitada, a base de plantas ricas
em alcalóides.
Fisiopatologia
A referência patológica da doença é caraterizada pela destruição
difusa dos neurônios da substância negra. O acometimento destes
neurônios, como a sua morte ou mal funcionamento, leva a não produção
do neurotransmissor dopamina e assim, a não transmissão de informações
para o corpo estriado. Então, o corpo estriado fica excessivamente
ativo e possivelmente causa aferência contínua de sinais excitatórios
para o controle motor córtico?espinhal. Esses sinais podem excitar
de forma contínua vários músculos do corpo causando Rigidez. A
ausência de dopamina, também no estriado, leva a um desequilíbrio
entre os sistemas excitatório e inibitório, sendo que devido aos
padrões de movimentos tenderem a uma alternância de excitação
/ inibição, o movimento tranca em uma direção com dificuldade
de progressão o que leva a Bradcinecia.
Características
clínicas
Sistema motor:
1. Tremores de repouso - alternante, distal, tende a parar
quando se inicia o movimento e se agrava com estresse.
2. Rigidez - o tônus muscular encontra-se aumentado determinando
rigidez, a resistência aos movimentos é como um ceder de "catraca
ou roda denteada ". Envolve, inicialmente, alguns músculos e depois
progride invariavelmente.
3. Bradcinesia - a bradcinecia (lentidão nos movimentos),
uma das principais queixas do portador de Parkinson, ao qual ele
se refere como fraqueza. Por exemplo: diminuição do piscar de
olhos, pobreza de movimentos espontâneos como os gestos, escrita
lenta e pequena, andar lento com passos curtos e arrastados...
4. Hipocinesia - devido a bradcinesia, há uma diminuição
da quantidade de movimentos e pode evoluir para acinesia.
5. Postura - o aumento do tônus muscular predomina nos
músculos flexores do tronco e membros ao qual confere uma postura
em flexão e bloco, ou seja, cabeça e tronco inclinados para frente,
cifose torácica, flexão de cotovelos, quadris e joelhos.
6. Centro de gravidade - desviado para frente devido a
postura flexora desenvolvida onde a marcha será do tipo festinada.
7. Fenômenos de parada ou bloqueio - incapacidade transitória
de realizar algum movimento que o leva a ficar bloqueado naquela
posição. Por exemplo : pessoa andando tenta virar-se para sentar
e não consegue por que bloqueou no momento do giro, permanecendo
nesta posição. Isto é bastante incapacitante e determina quedas.
Alterações
não-motoras
1. Alterações psíquicas - desorientação, distúrbios memoriais,
pensamentos, depressão;
2. Alterações sensoriais - dor, queimação, ardência na
região de envolvimento motor;
3. Distúrbio autonômico - pele fria, constipação, diminuição
do esvaziamento da bexiga vesical, diminuição da pressão arterial,
seborréia, difícil ereção;
4. Transtornos do sono.
Tratamento farmacológico
Os fármacos usados são os percursores da dopamina.
Tratamento
fisioterápico
Objetivo geral do tratamento é promover e manter a independência
com qualidade, o maior tempo possível, durante o curso da doença.
Isto é possível através de abordagens motoras que devem ser feitas
quando sob efeito da droga e em sessões espaçadas ( 3 vezes por
semana) e com uma duração que não leve o paciente a exaustão.
O programa deve
constar de:
1 - Exercícios de relaxamento - Respiração diafragmática,
movimentos relaxantes de distal para proximal ( os músculos acometidos
são predominantemente proximais), movimentos pendulares para membros.
Sempre realizar os movimentos na posição sentado, pois o decúbito
dorsal aumenta a rigidez.
2 - Alongamentos suaves - globais, porém dando ênfase aos
segmentos propícios para encurtamento como a musculatura flexora.
3 - Técnica de facilitação neuromuscular proprioceptiva
- realização de movimentos nos membros em diagonal e espiral mediante
estimulação aplicada sobre uma resistência sutilmente emposta.
A técnica baseia-se em inibir padrões patológicos e facilitar
padrões fisiológicos.
4 - Cinesioterapia ativa global - pode ser assistida ou
livre, porém não deve levar à exaustão. Tais exercícios devem
abordar os membros, o tronco ( dissociação cinturas ) e a face.
5 - Trabalho de equilíbrio e coordenação.
6 - Reeducação marcha.
Orientações
para vida diária
* Atividade profissional deve ser mantida na medida do possível
Isto impede a sensação de improdutividade.
* Realizar atividades recreativas como dança, caminhadas...
* Sentar em cadeiras de encosto alto nas costas
* Exercitar a escrita com lápis grossos e com a mão aberta
* Seu espaço em casa deve ser livre para movimenta-se com segurança,
não tendo dentro de casa objetos que possam ser perigosos para
quedas como tapetes;
* A cama e sanitário não devem ser baixos;
* Para facilitar o dia dia e não provocar trabalho, deve-se usar
roupas folgadas com velcrons ( ao invés de zíperes) e sapatos
fáceis de retirar;
* Durante o andar, procurar alvos ou pistas visuais para orientar
os passos como um quadriculado de um ladrilho;
* Sempre que errar um movimento, procurar manter a calma, respirar
fundo e iniciá-lo novamente.
Patrícia Vieira Fernandes
- Fisioterapeuta do Hospital Barra D Or, graduada pela UFPE
Pós-graduanda em Terapia Intensiva pela UNESA
Referências
Bibliográficas
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