TRATAMENTO
INDIVIDUALIZADO DE PACIENTE IDOSO
COM VERTIGEM POSTURAL: RELATO DE CASO
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Resumo:
Vertigem é uma falsa percepção de movimento (Herdman, 1994). A
manutenção do equilíbrio corporal é realizada por uma interação
complexa de sistemas (Freitas e Weckx, 1998). Participam dessa
interação os sistemas vestibular, visual e proprioceptivo (Freitas
e Weckx, 1998; Herdman, 1994, 1997; Ganança, 1998, Woollacott
e Tang, 1997). A proposta deste caso-clínico é descrever a avaliação,
o tratamento e resultado de uma paciente idosa com vertigem. A
paciente, sexo feminino, caucasiana, 74 anos, apresentava vertigem
postural decúbito-dependente quando associava hiperextensão do
pescoço. Seus exames clínico e fisioterápico, foram consistentes
para vertigem posicional de origem periférica. Ela foi tratada
com um programa de exercícios individualizados para movimento
dos olhos (Herdman, 1994), exercícios de Brandt-Daroff (1980)
e exercícios de condicionamento geral. Após 03 anos e meio de
acompanhamento, a paciente apresentou melhora da vertigem ao hiperextender
a cabeça e ao mudar de decúbito lateral esquerdo para sentada.
Ensaios clínicos randomizados, série de casos com amostra de maior
tamanho e acompanhamento a longo-prazo são recomendados.
Introdução:
A vertigem de origem vestibular pode ser secundária a doenças
sediadas em outras partes do corpo humano, sendo um sintoma muito
comum na rotina clínica da otorrinolaringologia e outras especialidades
afins (Ganança,1998). O controle de pacientes com desordens vestibulares
periféricas é problema complexo, e vem tornando-se cada vez mais
comum nos dias atuais. Estima-se que a prevalência das alterações
do equilíbrio e episódios de vertigem seja 5% a 10% de visitas
médicas ao ano, e acomete 40% das pessoas com idade acima dos
quarenta anos (Herdman, 1994). Ganança e Caovilla (1998), citam
que a vertigem é o sintoma mais comum do mundo, sendo a terceira
queixa mais freqüente em Medicina. Acomete mais de 33% das pessoas
em alguma época de suas vidas; a sétima queixa mais encontrada
nas mulheres, afligindo 61% dessas com mais de 70 anos; presente
em 50% a 60% dos idosos que vivem em suas casas ou 81% a 91% dos
idosos atendidos em ambulatórios geriátricos. A identificação
da vertigem, secundária à patologia vestibular não é tarefa fácil
(Herdman, 1994, 1997). Mangabeira Albernaz (citado por Ganança,
1998) alerta para a importância de uma história clínica bem-feita,
com especial atenção aos detalhes dos quadros vertiginosos, devido
à complexidade de sistemas envolvidos no equilíbrio humano. O
tratamento das desordens vestibulares também tem sido difícil.
Há sessenta anos atrás, tratava-se vertigem com secção bilateral
do nervo vestibular (Herdman, 1994). Hoje, o controle dos problemas
vestibulares é mais sofisticado. A utilização de medicação supressora
do ouvido interno e outros procedimentos médicos encontram-se
mais desenvolvidos. O uso de exercícios como modalidade terapêutica
é o terceiro método amplamente utilizado na atualidade. Cawthorne
e Cooksey (1946), na década de quarenta, introduziram o uso de
exercícios como tratamento dos pacientes com distúrbios vestibulares.
Entretanto, apenas recentemente, os Fisioterapeutas se interessaram
em tratar esta parcela de pacientes (Herdman, 1994). No Brasil,
parece que o número de Fisioterapeutas atuantes em quadros de
desordem vestibular ainda é bastante reduzido.
Objetivo:
A proposta deste estudo de caso (Pereira, 1995), foi descrever
a intervenção fisioterápica (avaliação, tratamento e resultado),
denominada Reabilitação Vestibular, em indivíduo idoso portador
de instabilidade postural dinâmica resultante de vertigem posicional.
Pretende-se, portanto, divulgar a importância do preparo do profissional
Fisioterapeuta, frente aos distúrbios de origem vestibular, alertando-o
para a realização de exame clínico - fisioterápico e de imagens
mais objetivos e abrangentes.
Justificativa:
Considerando a prevalência alarmante das doenças vestibulares
e do equilíbrio em pessoas idosas, e que muitos desses sintomas
apresentam-se obscuros quanto às suas etiologias, torna-se imperioso
uma apreciação diagnóstica e terapêutica mais completa dos componentes
do ouvido interno por parte dos profissionais fisioterapeutas.
O tratamento personalizado -Reabilitação Vestibular-, específico
para cada indivíduo (Ganança, 1998), encontra respaldo em vasta
literatura mundial sobre o assunto (Ford-Smith, 1997; Di Fabio,
1997; Nuti, 1996; Horak, 1997; Herdman, 1997; Shumway-Cook, 1997;
Wolf, 1997; Enloe, 1997).
Materiais e Métodos:
O trabalho foi realizado em consultório privado e a nível domiciliar,
onde a paciente aplicava, após treinamento, os exercícios indicados.
O período foi de fevereiro de 1996 (1º episódio de vertigem) a
julho de 1999. A paciente tinha 74 anos, sexo feminino, caucasiana
e queixava-se de vertigem, zumbidos e "fraqueza" nas pernas. Os
episódios de vertigem eram provocados quando a mesma realizava
uma hiperextensão da cabeça e ao transferir-se de decúbito lateral
esquerdo para sentada. Estes episódios resultavam em precárias
condições para o desempenho de suas atividades de vida diária.
A paciente foi submetida à exame clínico-neurológico, por médico,
que solicitou tomografia computadorizada da região cervical e
crânio, radiografia simples da coluna cervical e Dopller de artérias
carótidas e vertebrais. E, num segundo momento, foi solicitado
um exame otoneurológico que constava de rastreio pendular, provas
calóricas e rotatórias, vectoeletronistagmografia e motilidade
ocular. A avaliação fisioterápica consistiu de exames oculo-motores,
amplitude de movimento de coluna e extremidades, força muscular,
avaliação postural, testes posicionais (Hallpike), equilíbrio
estático e dinâmico, marcha e avaliação funcional. Após todos
os exames, aplicou-se tratamento médico com drogas supressoras
da atividade vestibular, nos períodos de pico da crise, associado
a um programa fisioterápico de exercícios individualizados para
movimento dos olhos (Herdman, 1994), exercícios de Brandt-Daroff
(1980) e exercícios de condicionamento geral. O acompanhamento
foi num período de três anos e meio.
Descrição:
A paciente foi acompanhada com dez (10) sessões de fisioterapia
no consultório e supervisão direta de fisioterapeuta, em períodos
intercalados. Em 1996, foi submetida, no consultório, a vinte
sessões, nos meses de fevereiro (10) e setembro (10). Em 1997,
totalizaram quarenta (40) sessões, em consultório, nos meses de
janeiro (10), junho (10), outubro (10) e novembro (10). Em 1998,
também no consultório, foram dez (10) no total, somente em julho.
No período de janeiro a julho de 1999, não houve necessidade de
tratamento. Ocorreu uma revisão em janeiro (1999), no consultório,
e no mês de julho (1999), por telefone, com relato da paciente
de 100% de melhora dos sintomas. O período durante as dez (10)
sessões realizadas em consultório, e nos dez dias subsequentes
a alta, a paciente realizava exercícios de motilidade ocular e
de condicionamento geral em ambiente domiciliar. Houve história
de duas (2) quedas da própria altura, em casa, nos meses de abril
e setembro de1997, onde parece não ter havido correlação com episódios
de vertigem ou na realização dos exercícios (segundo informações
colhidas). A paciente foi encorajada a continuar o programa.
Resultados:
O tratamento mostrou-se eficaz durante o período de acompanhamento
(3 anos e meio). Observou-se uma redução progressiva das crises
vertiginosas, principalmente no período de 1998 até metade de
1999, onde a paciente queixou-se de apenas um (01) episódio. Houve
repercussão favorável e direta na qualidade de vida, com redução
de medicação anti-vertiginosa.
Discussão:
Após uma série de crises vertiginosas, que iniciaram em fevereiro
de 1996, atingindo picos graves em 1997, o tratamento demonstrou
eficácia, de forma progressiva, conforme relato da literatura.
Em geral, os pacientes com vertigem (periférica) são mais responsivos
à reabilitação quando tratados durante a fase aguda (Ford-Smith,
1997). Existe vasta literatura com outras abordagens de exercícios
personalizados para os casos de vertigem postural, entretanto,
observa-se um consenso de que o melhor resultado é dependente
da habilidade do paciente em aderir ao programa de reabilitação
vestibular.
Conclusão:
Este caso-clínico reporta uma situação onde, na presença de vertigem
postural, um programa de tratamento individualizado utilizando
exercícios de motilidade ocular, de Brandt-Daroff e exercícios
de condicionamento geral, resulta eficaz no combate a esta causa
de instabilidade postural. Outro fator importante foi a oferta
de um programa domiciliar no controle e monitorização diária da
vertigem crônica produzindo efeito positivo na mudança de hábitos
do paciente e na relação da equipe biomédica x cliente x familiares.
André Luís Santos Silva, Dr, Sci, c,
Elington L. Simões,MD
-
Fisioterapeuta - Clínica FisioDor
Ltda.
Médico - Neurocirurgião - Clínica Neurodor Ltda.
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