O TESOURO DOS TRÊS IRMÃOS

Era uma vez um alfaiate que tinha três filhos. Cada um dos rapazes tinha nome, como toda gente, mas eram mais conhecidos pelo seu apelido: o Comprido, o Gordo e o Tapado. O Comprido era carpindo, o Gordo era moleiro e o Tapado era torneiro. Mas, um dia, o Comprido se cansou de viver naquele lugarejo onde não acontecia nada de novo, e disse aos seus irmãos: - Vou sair pelo mundo em busca da fortuna. Colocou os instrumentos do seu ofício numa sacola, algumas moedas no bolso, e partiu. Caminha que caminha, um dia verificou que já não tinha mais um níquel e, agora, muito preocupado, perguntou-se como iria comer no dia seguinte. Aí encontrou um velhote, que lhe perguntou: - Rapazinho, que é que aconteceu? Por que está com essa cara de enterro? - Não tenho trabalho e não tenho dinheiro. Como posso estar contente? - Bem, eu lhe darei trabalho. Venha comigo. O velhote conduziu o Comprido por um atalho, no fim do qual havia uma graciosa casa, onde a mesa de almoço já estava posta. A mulher do velhote colocou mais um prato e os três se sentaram e comeram alegremente. Quando terminaram, o homem disse: - Se você quiser, pode ficar em minha casa. Conserte os meus velhos móveis e eu lhe darei uma justa recompensa pelo seu trabalho. O Comprido passou alguns meses deliciosos naquela casa, como hóspede. O velhote era sempre alegre e gentil, a velhota preparava pratos deliciosos, e o trabalho não era pesado. Mas chegou um dia em que o homem lhe disse: - Meu filho, não sei mais o que você possa fazer nesta casa e não temos dinheiro para lhe dar. Mas ofereço a você uma coisa que vale mais do que dinheiro. Abriu um armário e dele retirou uma pequena mesa muito graciosa. - É uma mesinha mágica - explicou. - Quando você lhe disser: "Mesinha, tenho fome", imediatamente ela se cobrirá de alimentos. Não a perca e lembre-se de mim. O Comprido sentiu abandonar aquela casa no meio do bosque, mas, como não havia outro jeito, despediu-se dos dois velhotes e agradeceu o presente. Não se afastara muito quando pousou a mesinha no chão e ordenou: - Mesinha, tenho fome! Imediatamente, sobre a mesa, apareceram uma toalha de seda cor-de-rosa bordada, pão saído do forno, assado e guisado em terrinas de prata, frutas de todas as espécies e estações, e até uma ânfora cheia de vinho de qualidade. O Comprido comeu e bebeu, depois colocou a mesinha às costas e continuou alegremente o seu caminho. Durante a viagem, o Comprido pôde comer e beber tudo que lhe apetecia, até que, finalmente, depois de muitos dias, chegou a um lugarejo vizinho ao seu. Parou numa hospedaria e mostrou ao hospedeiro a sua mesa, recomendando-lhe que a guardasse com cuidado. E foi dormir no seu quarto. Quando chegou a hora de jantar, o Comprido não pediu comida ao hoteleiro: pediu apenas a sua mesinha. O hoteleiro deu-lhe a mesa, mas, curioso, espiou pelo buraco da fechadura. Quando viu a mesinha mágica cobrir-se de comidas e bebidas, pensou: "Essa mesa faria a fortuna da minha hospedaria! Tenho de ficar com ela!" Logo depois o Comprido mandou o hospedeiro guardar a mesinha. E o homem a trocou por uma perfeitamente parecida. Na manhã seguinte, o rapazinho, sem desconfiar de coisa alguma, pôs a mesinha às costas e partiu. Quando chegou em casa contou ao pai e irmãos que tinha tido sorte e lhes pediu que convidassem parentes e amigos para um almoço. Mas um almoço para tanta gente custa caro! objetou o pai. - O almoço pode deixar por minha conta disse o Comprido. - Vocês convidam, e basta. Quando todos se reuniram, o Comprido colocou a mesinha no meio da sala e explicou: - Esta mesinha se cobrirá de comida para todos. Peçam o que quiserem. Os parentes olharam incrédulos para o rapaz, mas escolheram os pratos que queriam. Então, o Comprido ordenou:            - Mesinha, tenho fome! Parecia, no entanto, que a mesa mágica tinha perdido os seus poderes pois manteve-se surda e insensível. Inutilmente, o Comprido repetiu a frase mágica em todos os tons: nada de nada. Enfim, todos se foram embora rindo, e o Comprido não teve outro remédio senão voltar ao seu ofício de carpinteiro. Algum tempo depois, o segundo irmão, o Gordo, decidiu também sair em busca da fortuna. Pôs os instrumentos do seu oficio numa sacola, despediu-se e partiu. Caminha que caminha, um dia, quando não tinha mais um tostão no bolso, entrou também ele no bosque, encontrou o velhote e foi hospedado na mesma casinha. Também ele ficou trabalhando alguns meses como moleiro, até que, finalmente, um dia, o seu bom patrão deu-lhe as despedidas, dizendo-lhe: - Não tenho dinheiro, mas vou dar-lhe coisa melhor do que dinheiro. Dou-lhe este jumento. Ele parece igual a todos os demais, mas quando você lhe disser "Jumento, espirre!", ele espirrará moedas de ouro. - Moedas de ouro? - gritou o Gordo, cheio de alegria. - Viva! - E depois de agradecer ao velho e sua mulher, partiu. Mas, antes de sair do bosque, fez o jumento espirrar um belo saco de moedas. Naturalmente, o Gordo fez uma viagem de rei, pois com aquele dinheiro podia comprar tudo quanto desejasse e comer como um príncipe. Já tinha quase esvaziado a sacola quando chegou ao hotel onde se hospedara o Comprido. Decidiu passar a noite naquele lugar, e quando foi a hora de pagar, disse ao hoteleiro: - Vou apanhar o dinheiro - e entrou na estrebaria. O hoteleiro ficou curioso, pois dinheiro a gente guarda no quarto e não na estrebaria. Por isso, seguiu o rapaz e espiou. O Gordo estendera uma toalha no chão e agora ordenava: - Jumento, espirre! - Atchim! fez o asno, espirrando uma porção de moedas douradas "Aquele jumento tem que ser meu!" pensou o hoteleiro. E como possuía um jumento perfeitamente igual; trocou o seu pelo asno mágico quando o Gordo - foi dormir. Na manhã seguinte, o rapaz acordou e foi à estrebaria recolher o seu jumento, sem desconfiar de coisa alguma. E pouco depois chegava à sua casa, onde foi recebido festivamente. - Tive sorte! - anunciou o Gordo. - Peço a vocês que convidem para um almoço todos os nossos parentes e amigos. - Mas um almoço para tanta gente custará caro! - objetou o pai. - Não se preocupe: eu pago tudo. Faça os convites, e basta. O pai e os irmãos fizeram os convites e, no dia seguinte, reuniram-se todos os parentes e amigos para o almoço. Foi encomendado um lauto almoço, que custou caro de verdade. O pobre alfaiate prometeu pagar depois. Depois que todos tinham comido e bebido, o Gordo trouxe para a sala o jumento, estendeu uma toalha sob o seu focinho, e explicou: - Agora farei o jumento espirrar moedas de ouro para todos - Ordenou: - "Jumento, espirre!" Mas o asno não se dava por achado, e em vão ó Gordo repetiu aquela frase em todos os tons, agradou o jumento, suplicou-lhe e lhe deu bordoadas. O asno respondia a tudo com um longo zurro, enquanto todos morriam de dar risadas. Enfim, os parentes e amigos se retiraram troçando, e o Gordo não teve outro remédio senão voltar a trabalhar dia e noite para pagar as despesas feitas. Mas o irmão mais moço, cujo apelido era Tapado, porque falava pouco e parecia ser o menos inteligente de todos, pensou: "~ estranho que meus irmãos tenham tido a mesma falta de sorte. Tenho de descobrir o que houve". Colocou suas coisas numa sacola, despediu-se de todos e partiu. Também ele chegou ao bosque e encontrou o velhote, e também ele ficou alguns meses naquela casa, trabalhando como torneiro. Até que, um dia, o velhote lhe disse: - Meu filho, não há mais o que fazer nesta casa e não tenho dinheiro para dar-lhe. O Tapado lhe agradeceu a hospedagem e estava para partir quando o velhote lhe disse: - Dei os melhores presentes aos seus irmãos. Para você não sobrou outra coisa senão este bastão guardado num saco. Sempre que você disser "Cacete, saia do saco!", o bastão defenderá você melhor do que uma centena de servidores. E só parará de bater quando você ordenar: "Cacete, entre no saco!" Talvez você consiga obter fortuna com esse modesto presente. O Tapado apanhou o saco, agradeceu e se afastou daquela casa. Ao longo do caminho, usou o bastão apenas para afugentar alguns cachorros que queriam mordê-lo, e logo chegou à hospedaria onde tinham estado seus irmãos. O hoteleiro não saia de perto dele, cheio de curiosidade, e Tapado logo desconfiou do homem. Pegue este saco - disse ao hoteleiro - e guarde-o com cuidado.. Nunca lhe diga "Cacete, saia do saco!" porque se arrependerá. O hoteleiro apanhou o saco, afastou-se e fez o que não devia fazer: "Cacete, saia do saco!" O bastão não esperou segunda ordem: saiu do saco e começou a chover pancadas nas costas do velhaco hoteleiro, que se sentia mais batido do que' um tambor. O homem fugia daqui e dali para salvar-se, mas em vão. Finalmente, começou a gritar pedindo socorro. O Tapado apareceu sem demora. - Eu bem que desconfiava! - disse. - Você queria me roubar como roubou a mesinha mágica e o jumento espirrador de meus irmãos. Mas o cacete continuará a sová-lo até que você me devolva tudo o que roubou. O hoteleiro tentou negar, mas já estava cheio de "galos". Não tinha outro jeito senão render-se. Então, o Tapado ordenou: - Cacete, entre no saco! - e imediatamente o bastão obedeceu. O hoteleiro entregou o asno e a mesinha, e o Tapado voltou para casa todo contente. Ao chegar, pediu que os parentes e amigos fossem convidados pela terceira vez, e todos aceitaram o convite, preparando-se para rir. Mas ficaram de boca aberta quando viram a mesinha cobrir-se de alimentos, o jumento espirrar moedas de ouro e o cacete saltar do saco e ameaçar as costas dos que mais tinham rido das outras duas vezes. O Tapado, porém, era um bom rapaz e só permitiu que o cacete fizesse algumas piruetas. Depois, todos comeram e beberam até não querer mais, e voltaram para suas casas com um belo saquinho de moedas. E ninguém se atreveu mais a chamar de tapado... o Tapado.

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