Admiro
meus irmãos. São poetas.
Ivam nasceu fazendo versos. Em tenra idade, quando Zemi chegou,
éramos ele e eu, fomos convidados por minha mãe para conhecermos
o recém nascido. Quarto cheirando a alfazema, roupinha de cambraia,
gorducho, redondo, lá estava o nosso irmãozinho dormindo o seu primeiro
sono em berço forrado por lençol bordado com carinho. Ficamos em
contemplação. Ivam rompeu o silêncio e recitou: Oh! Minha mãe./
Ele é tão bonitinho minha mãe!/Ele é tão engraçadinho minha mãe!/Eu
quero muito bem a ele minha mãe!/ Fazendo versos cresceu e até hoje
os escreve e recita. Versos que fluem com naturalidade, expressivos
de um coração pleno de bondade e cérebro privilegiado.
Alfredo se fez poeta. Já me referi uma vez. Sua poesia é
rica, forte, vai do épico às coisas do coração. Busca solução para
os problemas sócio-políticos do seu tempo. Versos que brotavam de
su'alma em forma de hinos, loas, sátiras e críticas. Versos compostos
com musicalidade e métrica em completa observância as regras gramaticais
que ele dominava como poucos. Lyra transferida para a orquestra
do céu. Versos gravados em papel.
José Almir faz poesia com régua e esquadro sobre prancheta.
Detalhamento dos edifícios que ele constrói com perfeição e arte.
Transforma sonhos da arquitetura bela e ousada em jóias de concreto.
Faço parte da galera! Registro meus aplausos. Fã de carteirinha,
"bato palmas e peço bis!". Por mais que me esforce para fazer parte
do grupo não consigo rimar nem fazer outras coisas. Fico na platéia
e recebo os prêmios a ela destinados. Que bom!
Meu verso é duro: Terra gretada pelo sol inclemente. Espinho de
mandacaru, haste verde em cenário Incandescente. Não dá sombra nem
agasalho. Sofrido, doido. Pau de dar em doido. Malho. Aboio triste
para manter vaca em girau, catre de vara e couro do boi que morreu
do mesmo mal. Sede e fome. Coitada! Nem escuta a voz do vaqueiro
que a chama pelo nome. Oi boi! Oi Ração! Morra não! Rainha do curral!
Favorita do patrão! Catre de couro, piado de coruja, agouro. Catre
de ouro, leito real! Oi boi... Oi boi...Oi boi... É chegada da noite
fria sem orvalho que gela a carne para aliviar a dor. Rio seco,
sem peixes, sem vida. Gente bebendo água em caldeirão retida. Buraco
cavado pela chuva ácida que caiu no inverno. Inverno? Inferno! Buraco
furado em rocha que aflora. Caldeirão. Erosão. Palavrão. Gente morrendo
de sede e fome. Morrendo do coração. Nem consigo escrever versos
pobres, mesmo sem métrica. Cabeça vazia, mente vadia, tudo termina
em ão. Ão. Ão. Arquejo de morte, noite tétrica. Suspiros, fim, tristeza,
mazela. Oh Deus! Ajudai-me a suportar o sofrimento da sentinela.
Luiz
Carlos.
Farensa, 02/11/2007
(finados)