Como Podemos Explicar a Unidade da Experiência Consciente?

Benjamin Libet, Departamento de Fisiologia, UCSF

Keith Sutherland (1996) escreveu uma formidável crítica bem-argumentada da proposta (por Metzinger e outros) que oscilações sincrônicas (de potenciais elétricos) em diversos grupos neuronais resulta numa junção unificada das percepções[1] e mesmo no “self fenomênico[2] unificado”. Como eu fiz uma completamente oposta (de cima para baixo) proposta (Libet, 1994), gostaria de reafirmar o argumento de minha perspectiva, e mostrar como meu proposto “campo mental consciente” [“conscious mental field”] (CMF) se encaixa.

É útil considerar todas tais propostas com ao menos dois tipos separados de critérios - o científicos e os filosóficos (este último as torna pretensas a não serem experimentalmente testáveis).

Como uma proposta científica a “teoria da sicronicidade” é muito deficiente. Não há no momento nenhuma evidência para apoiar a visão que a sincronicidade observada realmente seja um mediador causativo de qualquer união perceptiva ou unidade fenomenal da experiência sensória consciente. Os proponentes do papel da sincronia deviam ao menos produzem um projeto para uma prova experimental, um que inclua uma potencialidade para falsear a proposta. Se e quando tal experiência for projetada, deve ser reconhecido que uma prova para união perceptiva não nos diria nada sobre a unidade de experiência subjetiva consciente, a menos que evidência para a última de relatórios introspectivos seja incluída. Eu observaria que minha proposta para um CMF foi acompanhada por um projeto experimental plenamente elaborado que alcançou tais requisitos.

Agora, quanto aos aspectos mais puramente filosóficos de teorias para explicar a unidade subjetiva: Como alguém parte de uma sincronia de oscilações neuronais e chega a uma sensação consciente unificada? Sutherland produz uma crítica apropriada de quaisquer tais aproximações de baixo para cima.

Então existe a “crença comum dentro das ciências cognitivas [e adicionaria filósofos cognitivos] que o próprio fenomenal seja uma ilusão construída.” Isto é parcialmente devido a uma “homuphobia” robusta - como Sutherland habilmente coloca. Concordo plenamente com ele que “no campo de consciência humana é melhor começar com a própria experiência antes do dogma”. De fato a primazia das experiências informadas dos indivíduos era uma característica fixação de preços determinada em nosso trabalho experimental na relação entre cerebral (físico) e processos mentais conscientes (p.ex. Libet 1985, ver p.559). As teorias são supostas para explicar fatos, não para os eliminar nem para os deturpar sem evidência constrangedora para justificar isso.

Se for proposto que essa experiência subjetiva e a fenomênica são ilusões construídas, então nós deveríamos perguntar “Quem observa esta ilusão?” Concordo com Sutherland que nós não devemos aceitar o temor apavorado, da maioria dos filósofos e cientistas provavelmente cognitivos, que qualquer teoria deve exorcizar qualquer subentendido “fantasma da máquina”. As teorias que evitam qualquer “fantasma” não têm com êxito ou convincentemente conseguido explicar a unidade da experiência consciente e a experiência de controle consciente de ato voluntário. Postular um “fantasma” subjetivo não precisa ser incompatível com as leis de natureza, como Schroedinger sinalou.

O campo mental consciente (CMF), aquele que eu postulei para responder pela unidade da experiência e com um papel ativo para que a intenção consciente aja, poderia ser visto como um tipo de “fantasma”. No entanto, é suposto emergir das próprias atividades naturais dos neurônios cerebrais, mas com propriedades *de novo* não evidentes nos elementos neurais físicos dos quais derivou. Algumas pessoas podem desejar chamar a isto de dualismo, mas não vamos nos espantar pelo nome dado. O CMF não representa o dualismo de Descartes, que descreveu a mente como uma substância separada. Minha proposta de CMF é naturalmente muito especulativa. Mas eu não sei de qualquer evidência existente que contradiga a proposta, e, além do mais, ela é aberta a uma prova experimental direta de sua validez.

Referências

Libet, B. (1994), “Uma teoria de campo testável da interação mente-cérebro“, Diário dos Estudos da Consciência, 1(1) pp. 119-126.

Libet, B. (1985), “Iniciativa cerebral inconsciente e o papel do desejo consciente na ação voluntária”, Ciências do Comportamento e do Cérebro, 8, pp. 529-566.

Sutherland, K. (1996), “ Oscilações Sincrônicas e as Novos Roupas do Imperador

Artigo disponível em http://www.imprint.co.uk/online/libet.html

 

 



[1] ‘Junção unificada das percepções’ = ‘perceptual binding’ no original em inglês. O termo "binding", usado nessa ciência da cognição, se refere ao fenômeno através do qual as diversas modalidades sensoriais são integradas em um todo perceptivo uno, apesar de cada uma delas possuir algumas dificuldades para ser integradas nesse todo, em especial o problema da diferença temporal (mais ou menos assim: a percepção visual chega antes da percepção tátil, mas o cérebro de algum modo dá um jeito pra que percebamos as duas como tendo ocorrido ao mesmo tempo. Isso é binding. (Nota do tradutor Julio Siqueira).

 

[2] O termo "phenomenal self" (self fenomênico), também é usado como sinônimo de experiência subjetiva. (Nota do tradutor Julio Siqueira)

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