REGIÃO SERIDÓ

Educação

Na condição de fornecer subsídios para compreender como se inseriu e como se encontra a educação nas cercanias do Seridó norte-rio-grandense, emerge a necessidade de fazer um resgate acerca desta temática. Inicialmente, um ponto que nos chama atenção está ligado diretamente a localização espacial, pois, geograficamente a região situa-se afastada da capital do Estado e de outros centros “desenvolvidos”. Mesmo assim, os seridoenses mostraram-se interessados pela educação.

Movidos por uma estrutura familiar que apresentava apreço a valores de fé, disciplinamento, honra, dentre outros segmentos dos princípios sociais, as unidades familiares que detinham uma condição financeira significativa cuidavam em conduzir as crianças à iniciação nas veredas do conhecimento, descobrindo o universo da escrita, da leitura e dos números.

Decerto que os primeiros ensinamentos dessas crianças que futuramente tornar-se-iam homens de progresso, dirigindo os negócios da família, ocorriam no interior das fazendas. Isso porque o cotidiano seridoense transitava pelo espaço rural e os núcleos citadinos existentes, resultavam em pequenos aglomerados de casas, caracterizado por arraiais, freguesias e vilas – arremedos de cidade –, situadas distante das sedes oficiais; fato este que encontra-se almagamado a insuficiência de instituições de ensino e vagas até o fim do século XIX.

Contudo, a educação no Seridó norte-rio-grandense fez-se necessário entre “... uma sociedade composta de rudes fazendeiros, homens dedicados aos afazeres rurais, preocupados preponderantemente, senão exclusivamente, com o trato de suas fazendas e o apascentar dos seus rebanhos bovinos...” (MEDEIROS, 1980, p. 157), embora tenha se constituído de algo elementar. Isso deveu-se talvez porque os primeiros povoadores e seus descendentes eram pessoas de origens mais ou menos ilustre da elite pernambucana. Então, mesmo restringidos a coabitar nas fazendas e dedicados economicamente às atividades pastoris, tinham o cuidado e a preocupação de fornecer aos seus filhos pelo menos o básico, concernente à educação e instruções.

Coube a instância religiosa – a igreja católica – intermediada pelos padres, contratados pelos chefes das famílias que detinham condições econômicas consideráveis, assumirem o ofício de mestre-escola, no sentido de alimentar os seus filhos com a cultura da fé católica. Como esboça Morais (2005, p. 138), nesse fragmento textual, a “associação entre conhecimento laico e princípios da doutrina católica reverteram-se na formação de pessoas que demonstravam a crença na Onipotência Divina e a valoração na educação escolar. Estas características semeadas no decorrer da estruturação da sociedade foram transmutadas em traços da identidade regional”.

No palmilhar do desenvolvimento da sociedade seridoense, questões relativas ao fazer educacional, enquanto uma aprendizagem sistemática e contínua aparece com relevância no período colonial, através da criação da Cadeira de Gramática Latina de Caicó, localizada na Vila Nova do Príncipe – atual município de Caicó -, que entrou em funcionamento na década de 1910, mantendo-se por meio de financiamento particulares – dos fazendeiros locais. Passou ser uma instituição de ensino público oficializado e custeado pelo governo Estadual, a partir de 1836.

A Escola de Latim do Pe. Guerra, como ficou mias conhecida, ganhou acepção no cenário regional. Logo expandiu a fama pelas províncias vizinhas, recebendo alunos das diversas partes, levando cultura escolar e fornecendo o amadurecimento intelectual da sociedade. O conhecimento impresso nestas vias não se limitava apenas ao Latim, transitava-se pelo Francês, Português, Literatura, História e Geografia.

O local onde funcionava a sede da escola de Latim apresentava uma arquitetura arrojada para a época, servindo de hospedaria para os alunos de outras localidades que não tinham onde acomodar-se. Esta se manteve funcionando durante 52 anos, encerrando suas atividades no ano de 1888.

Da Escola de Latim, os alunos pertencentes ao estrato dominante regional, eram conduzidos ao Seminário em Olinda/PE e a Faculdade de Direito no Recife/PE, no intuito de dar continuidade aos estudos. A escolha desses espaços deveu-se ao fato de seus patriarcas já manterem laços comerciais com esses centros. Ao retornarem as veredas de outrora, estes homens passaram a influenciar no contexto político e cultural, cujas idéias repercutiam na sociedade seridoense numa escala regional e estadual.

Ousando fazer uma comparação, podemos arriscar em afirmar que: da forma com a qual o gado foi conduzido a colonizar as ribeiras do Seridó, a educação serviu na consolidação de uma estrutura social, mantendo a possibilidade das pessoas transitarem pelas múltiplas esferas da sociedade, em especial a política, que vai tornar-se efervescente no século XX. Esse foi o período em que os seridoenses passaram a assumir postos diversos de destaque na seara política do estado e do país, o que se refletiu na região do Seridó .

No percurso dos fatos, elegeu-se como governador do Estado do Rio Grande do Norte, José Augusto Bezerra Medeiros (1924-1927). Suas propostas ligaram-se a seguimentos como saúde, transportes e educação, adquirindo esta última, fundamental importância, marcando o crescimento educacional e desempenho na faixa de escolarização a invejável posição de segundo lugar em nível nacional, no período em que ele geriu o Estado. Esta proposta representou um prolongamento da atividade enquanto foi Deputado Federal – mandato anterior – onde mostrou afinco no que concerne à preocupação de propagar propostas de disseminar e tornar o ensino acessível em nível nacional.

O município de Caicó foi um dos primeiros a beneficiar-se com a ampliação da oferta do ensino primário, edificando no ano de 1925, uma sede própria do Grupo Escolar Senador Guerra, fundado em 1909, que funcionava nos salões da Intendência Municipal. Fez-se presente também, fornecendo auxílio à instituições e manutenção do Ginásio Santa Teresinha (GST), gerenciada pelas filhas do Amor Divino, constituindo-se o primeiro sistema de ensino caicoense voltado exclusivamente ao universo feminino. No seu último ano de mandato, inaugurou o Grupo Escolar Capitão-Mor Galvão (07/09/1927), na cidade de Currais Novos, e o Grupo Escolar Coronel Silvino Bezerra (08/09/1927), em Flores – atualmente Florânia.

Encerrado o mandato de José Augusto foi eleito Juvenal Lamartine (1928-1931), ocorrendo um revezamento no comando estadual. Ambos compartilharam o poder e tinham a consciência da importância que tem a educação para o desenvolvimento humano e o progresso econômico do Rio Grande do Norte. Entretanto suas metas governamentais estenderam-se ao desenvolvimento das vias de transporte e de comunicações.

No ano de 1929 foi criado pelo Governador Juvenal Lamartine, uma escola rudimentar noturna anexa ao Grupo Escolar Capitão-mor Galvão, em Currais Novos; e outros núcleos de escolas noturnas, agregados às escolas já existentes, direcionadas ao público adulto, ampliando a oferta de vagas de ensino nos municípios de Jardim do Seridó, Caicó, Parelhas e Acari. Em janeiro de 1930, foi criado por meio de portarias estaduais, mais três escolas rudimentares no Seridó, uma localizada em Timbaúba dos Batistas – município de Caicó, e as outras duas unidades, funcionando como rudimentares noturnas para adultos, anexa ao Grupo Escolar Capitão-mor Galvão e o Grupo Escolar na Fazenda São Rafael. No mesmo ano, auxiliou o patrimônio da futura Diocese de Caicó. No entanto, o seu mandato foi suspenso, passando o cargo a uma junta militar, por estar ocorrendo um momento conturbado na política nacional.

Até então, vimos que ao se referir a educação no Seridó Norte-rio-grandense, urge a necessidade de ligar a outras fatores como a política, a economia e a religião, cujos componentes sobressaem em alguns instantes interferindo à contribuir na (re) construção de novas unidades de ensino e/ou ampliação de vagas nas unidades já existentes contribuindo na possibilidade do ensino cheguar a população.

Foi enquanto Governador ou como Senador (1940 – 1970) que Dinarte Mariz promoveu o desenvolvimento e deu novas contribuições acerca da educação, ocorrendo à disseminação do ensino na zona rural com a criação de 21 escolas isoladas, distribuídas pelos municípios da região. Ainda “... autorizou a transformação de escolas isoladas em escolas reunidas e destas em grupos escolares; concluiu a construção do Grupo Escolar em Currais Novos; destinou verba para melhorias na Escola Normal de Caicó e construiu o Instituto de Educação de Caicó (atual, Centro Educacional José Augusto), obra que demarcou uma nova fase na história da educação local” (MORAIS, 2005, p. 202). Dentre as suas contribuições encenadas no campo educacional, uma das mais importantes foi a criação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, constando como um marco na sua brilhante carreira trilhada na política.

Seguindo os passos de seus antecessores, a educação ganhou respaldo, investimentos e interesse do Mosenhor Walfredo Gurgel, resguardando a criação de estabelecimentos de ensino nas cidades de Timbaúba dos Batistas, Acari, Carnaúba dos Dantas, Lagoa Nova e Jardim do Seridó, perfazendo uma totalidade de sete unidades de ensino, segundo expressa Morais (2005, p. 206; apud Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte).

Nesta tessitura exploratória, podemos incitar que os primeiros passos na consolidação de uma estrutura educacional nas aparas do Seridó norte-rio-grandense deu-se a passos lentos, de forma seleta e restrita. Com o passar das décadas estas vias foram se expandindo e desenvolvendo, ligando-se a esfera religiosa, econômica e política.

Ao olharmos para a contemporaneidade, podemos inferir o amadurecimento, seja na disponibilidade de vagas e instituições funcionando de forma pública, fornecendo a escolarização em nível de ensino fundamental a médio, custeada pelo Estado e município, ou pela iniciativa privada, espalhadas pelos 23 municípios seridoenses. Algumas destas escolas, geralmente as particulares, encontram-se franqueadas a sistemas integrados com abrangência nacional, como é o caso do sistema Positivo e Wizard, estendendo a oferta a cursinhos preparatórios para seleção de vestibular e concursos públicos.

Outra oferta de ensino que encontrou solos férteis e esta expandindo na região seridoense alude ao Ensino Superior, contabilizando-se a presença de sete instituições em funcionamento, atendendo a graduação e a pós-graduação em nível de especialização. Com tudo isso, por que não estudar?




Projeto de Pesquisa Estudos Regionais do Rio Grande do Norte - 2007 - [email protected]
Desenvolvido por Alberanir Mário - [email protected]
Hosted by www.Geocities.ws

1