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Nada no lugar

Pobre é o homem, porque ele sofre. Queria descobrir os verbos que dão movimento à alma das pessoas e compor com eles a canção do mundo. Uma lágrima no silêncio da casa vazia: o meu corpo. Passo horas distraídas na contemplação dos movimentos. A vida. Que sei eu da vida alheia? Mesmo da minha? Esqueçamos os sinais de pontuação que tanto nos travam e entravam a língua.

Voem meus amigos alados. A ilusão é um anjo lindo que nos acaricia o rosto nas horas de tédio. E a imaginação... olhem como são lindas suas asas abertas. Liberdade, liberdade abra as asas sobre... Liberdade, o que significa essa palavra? Logo comigo eles vêm falar sobre isso? Eu não tenho asas, e mesmo "O Filho do Homem" não tinha onde pousar a cabeça. Se Ele não tinha, imagine eu, um pobre faminto. Eu tenho fome, e uma sede que me aperta a garganta e seca a boca. Minha sede me faz tossir e cair no chão quase sem ar. E eu vou diminuindo, diminuindo, e fico assim a noite inteira, num abraço frio e desenganado.

A esperança é um animal arisco e minhas pernas já não me obedecem. Eu queria correr em direção as nuvens calmas. Onde andarão as nuvens calmas? Onde? Estou cego. A noite roubou as cores do mundo. Prendam a noite... ou melhor, soltem-na, para que ela vá embora e as cores voltem. Soltem a noite. Somente eu devo continuar preso. Minhas mãos, meus pés, minha língua. Se vocês me soltarem eu vou contar para todo mundo que vocês têm medo de mim. E o som de nossas risadas vai rasgar o marasmo dessa vidinha insossa. E nem mesmo a lua, que hoje estranhamente me encantou, vai deter conseguir deter essa vingança.

Quando eu estiver finalmente livre os homens vão me saudar como a um furacão, de joelhos. Eu não quero glórias. Feliz foi Noé, que sem saber era astronauta. Nenhuma palavra é exata. Essa é a minha certeza de Deus. Vamos explodir os planetas ociosos. Mercúrio, Vênus, Marte etc., de que me adiantam astros escondidos sobre a cabeça? Mas valeria o espetáculo de seus desfazimentos. De volta ao pó. Ó lua que me espreme os sentimentos, santo calor que acalma os desertos. Voz de minha razão surda. Não quero uma só resposta às dúvidas da sobrevivência.

 

Sérgio Humberto de Quadros Sampaio
29 anos, é Advogado, Escritor e Músico. Mora em Salvador-Bahia.
Correio:[email protected]
Página: http://www.geocities.com/vienna/strasse/5924

 

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