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EXERCÍCIOS
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Eu duvido da vida1
Eu duvido da vida
da vida devida
da dívida
da di vi saDeve David
dever a vida?Não.
Não dou ouvido
ao vidro da vidaEu di vi do a vi da
e dou o pão
di vi di do!2
Uma pessoa proscrita
A imagem: o nóUm poema reescrito
A miragem: o pó3
A rosa real
vagueia no matoA rosa real
permeia meu tatoA rosa real:
antiornato.4
A rosa irreal
revela o momentoA rosa irreal
tutela o inventoA rosa irreal:
pleno pigmento5
Dez pétalas
nomeadas de novoDez ovas
inumadas no ovoA prendizagem
sempre decimalCoragem lenta
final6
Este poema
não diz nada.
Da mesma forma
que a história
não diz tudo.
Língua cortada:
este poema não fala
--falha.
E insiste:
--dedo em riste.7
Quem sou eu
na carnação do ato:
Fausto sem Goethe
holograma
ou fogo-fátuo?8
Tua palavra é semente.
Minha solidão é serpente.
Onde está o bote?9
Não se apreende um rosto
contemplando quadros.
O rosto sempre excede
à expressão:quadro.
Mesmo quando cede
--sua sêde de rio
--sua séde de água
o rosto incide
à impressão: quadro.Já não falamos moldura
ou outro ornamento
ou outro acessório.
Mas a própria tela
em transbordamento:
aquário seco.10
Anarda era uma viagem
dentro do tinteiro.
Cor e acorde
Anarda era uma âncora
dentro do tinteiro.
Antes marco
e agora traço, Anarda é signo
insígnia, dentro do tinteiro.
Não diante do papel
ou adiante da vida,
mas antes e depois
(dentro)
pois apesar das penas
e seus galos mortos
Anarda é ave, vôo
dentro do tinteiro.11
Anarda era imprevista
como as provisões,
o pasto,
o repasto.Prato bipartido
Anarda se unifica:seu próprio rosto
é um retrato.12
Intacta nas tintas e nos tinteiros
recorres, incorres(mesmo sem correr)
correção parada, errata; breve lapso
orden(h)ando o tacto(mesmo sem mugidos)
moenda, moldura irremovível; chuva
(mesmo sem telhas)através do teto
intacto, atado em seu próprio tacto.13
Não, não adianta libertar
a memória de seus vestígios.
Nem apagar a lousa.
Nem abandonar a sombra
cansada numa cadeira.
E o sinal definitivo
na torre do sarcasmo.
Inútil inquirir o tempo,
o espelho riscado,
os amantes à meia noite.Não há ponte entre o que foi
e o que não era.Por isso somos lentos
ao abraçar o ambíguo:
este símbolo que corrói
o sim de todas as bocas
e faz do mistério
nosso único mister.14
E subimos então para o avião,e
Asa contra os ventos, rumo ao céu, apertamos
Cintos e lamentos sobre o corpo.
Executivos à bordo e também comissárias
Alheias ao nosso canto, e o olhar
Preso ao pátio, em sacrifício,
Pista coberta de oblações.Difícil abandonar os limites do corpo
Sem premir o seio amigo, sem buscar
A eternidade entre teus joelhos.
Necessário então inovocar os deuses
E as almas saídas da cidade.
Caso contrário quem deterá
O o curso do rio Trácio: Orfeu
Depondo num inquérito ou
Ofélia carregando um séquito de imagens?Prá o diabo mitologias, literaturas,
Intrusos ilustres. Quando e quando
Vamos introduzir sob a face neutra da palavra
O fôlego de um atleta
E a direção de qualquer caminho?Não, não mais chegar
Ao lugar predito por Circe,
Nem mais buscar as flores definitivas
Da passagem.
Que seja esta a última instância de teus apelos
Refletidos Tidos
Retidos
E no entanto e no entanto
Esta inexplicável solidão sobre as ex-
Tensões dos ares
E o absurdo soluço desta criatura que não chega
Em nenhum adeus
Em nenhuma imagem
Em nenhum poema.Será este o chamamento confuso lançado ao sangue?
Como poderíamos saber
Se duvidamos ser lícito carpir o amante
Ausente
Ou o morto que não abandonará o seu enterro?Assim mesmo projetamos: esta pa-
Lavrando entranhas,
Esta bala engolida na infância,
Esta Cia.,
E o cio dos cachorros evocando latidos
Latas de lixo
E o corpo que usei entre os amigos.Rubens Jardim
54 anos, paulistano, jornalista e poeta. Autor de três livros e participante de quatro antologias, Integrou o movimento CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964. Um dos lemas da Catequese era este: o lugar do poema é onde possa inquietar e o lugar do poeta são todos os lugares.Correio: [email protected]
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