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Memorabile Amicitate

Os primeiros indivíduos dessa estranha população costumavam chegar ao seu habitat natural por volta das doze horas e vinte minutos, após diárias viagens aos seus esconderijos. A cidade, porém, começava a agitar-se, realmente, às treze horas. Cada um que nela adentrasse provocava os que lá já estavam ou sofria as provocações. Tudo dependia se seu time vencera a mais recente partida. Se a resposta fosse não, a tática era entrar bem caladinho para que ninguém o visse. Pura ilusão, eles iriam sacanear você.

Solenemente, todos os dias, era ecoado o ilustre hino daquela nação - um belo canto de paz , alegria e descontração -, que contagiava os habitantes. Uns, é claro, estavam sempre de mal com a vida e não sabiam apreciar o empolgante som. Azar deles, a vida é curta e a morte é certa, por isso, não há tempo para o rancor e só existe lugar para a felicidade. Bem, voltando ao assunto... Ele tinha um ritmo tão eletrizante e fazia tão bem aos mais risonhos moradores que nem a antipatia dos azedos vizinhos eram capazes de atrapalhar a alegria. Quando a multidão, enlouquecida, cantava parecia que estava no interior daqueles seres gigantescos, os Stadiu maracanas.

Freqüentemente, seres de outros filos adentravam no ecossistema daquela espécie. Eles vinham com a missão de transmitir algumas táticas, dicas, estratégias e alguns conhecimentos com a finalidade de ajudar os residentes a vencer uma impiedosa batalha que eles iriam ter que travar. Havia os que passavam essas informações de maneira super interessante, outros, porém, conseguiam que os agitados habitantes dormissem.

O estresse causado pelos comandantes - os informantes - (devido à maratona de obrigações por eles impostas) e a impaciência causada pelos seres soníferos ocasionavam sérios acontecimentos: longas, cruéis e sangrentas guerras eram travadas entre os próprios patrícios, em uma verdadeira competição intra-específica. Algumas vezes, infelizmente, os civis eram atingidos por letais balas e bombas, todas com formato esférico, lançadas pelos exércitos em combate. Na verdade, essas bombas só se apresentavam mortais aos rancorosos, aos mal-humorados e mal-amados. Devido a isso, havia aqueles que não entendiam o real significado das batalhas.

Dentre os comandantes existia a juíza, o maior temor daquela gente. Ela as inquiria arduamente em tenebrosos debates que mais assemelhavam-se às inquisições da idade média, não admitindo profanações, tão pouco, bobagens. Era também bastante generosa, justa, afetuosa e , por isso, tinha o respeito e a admiração de toda a nação dos Fraternu amicu. Quando ela proferia um elogio a alguém, este estava ganhando um verdadeiro e honroso presente.

Semanalmente ocorriam algumas surpresas e novas confusões, mas de modo geral, o dia era basicamente esse. Os filhos mais ilustres dessa engraçada e divertida família eram: Atleta; Carapaça de Quitina; Ourição Preguiça; Il.mo Sr. Pilar "Cadeiras"; Cangaceiro Sobralense; Girima Éverde; Rhouguitita; Todo Fino Naxha II; Deserto do Saara "ITA" Neto; Jó Tabê; El Vacon; Puerco Cruz Maltino Sufridor; Alexandrino; El Narigon; Carrascum; Rafaelito Pró-canhoto; Niegro; Derico César; Kauêêê; Cabeça; EDM - "Terror dos Fracos e Oprimidos"; Garanhão do Jardim de Infância; Mãozinha; e Lady Brazilian "Santinha do Pau Oco", esta a mentora e coordenadora de todas as operações ilícitas da comunidade.

Prezados leitores amigos, é com o coração apertado e os olhos umedecidos que lhes contarei o final dessa narrativa, contudo, é meu dever. Devido a agentes poluentes como a vaidade, o orgulho, a inveja e o egoísmo, esta espécie entrou em processo de extinção e não mais saiu. Conta a lenda que os últimos indivíduos, por mais que não quisessem se afastar, seguiram seus próprios destinos. Ao partirem, porém, deixaram naquele lugar partes de si irrecuperáveis e levaram consigo, apenas, saudades. Todas as vezes que eles ficavam tristes, recordavam dos bons momentos vividos com os amigos. Eles tinham plena certeza que não mais encontrariam um meio tão apto à sobrevivência e à felicidade quanto aquele. Dizem que os moradores, acima referidos, foram os que mais sentiram com a separação, haja vista que eles eram mais que colegas, eles eram irmãos.

Romualdo Barroso de Sousa
20 anos. Nasceu em Manaus e mora em Fortaleza, Ceará. " Sou do signo de peixes. Adoro praia, adoro o mar e uma boa pelada(entenda como quiser). Um abraço e carpe diem."
Correio: [email protected]

 

***NOTA (JL): Esta é a história de uma turma do Colégio Batista de Fortaleza, o TEB2 de 1998. Esta crônica foi escrita de maneira metafórica. Por exemplo, o "ilustre hino ecoado todos os dias" eram as olas feitas por qualquer motivo, "os seres de outros filos" correspondem aos professores e "Juíza" a uma em especial, os filhos são os alunos e assim por diante. Se você não entendeu tente ler agora com outros olhos e saiba, esta turma é muito especial."

 

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