Viagem ao lombo do corpo

Ao acariciá-la,
escapuliu-me uma palavra: direto da boca
rumo ao seu corpo.
Indiscriminada, a captou com os olhos num relance,
como uma palavra impressa, visível.
Caracterizando aquele som,
sorriu.
Logo após,
arredondada, a palavra penetrou seus cabelos embaraçados.
Se retorceu, deu um giro, enroscou-se, ...e
com um gesto de infinitude alisou fio por fio,
deixando lá resquícios penteados de um som.
Sendo longos os fios
teve como foz as espáduas,
que macias e já relaxadas, a acolheu com tamanha desenvoltura
e a fez bailar em lentos movimentos.
Atordoada, levantou-se peregrinatoriamente
e caminhou numa tortuosa, porém divertida trilha esguia,
que a levou diretamente às ancas.
Também apelidada por nádegas e de alcunha quadrilátera; lá,
a palavra percorreu suas volumosas formas,
em passos ora dificultosos, devido à montanhês,
ora trêmulos, por inexperiência em altas altitudes.
Até o momento da partida, onde a textura lisa
fora substituída por minúsculas erupções cutâneas
que dificultavam o seu caminhar... com extremo prazer.
Não obstante, fez um giro de 180 graus,
sob quentes apelos de ordem semântica.
E, foi quando ela se deparou com a mais exótica das paisagens:
um emaranhado de pêlos onde, sutilmente, se resguardava um segredo.
Obscura visão. Aromável sabor.
Adentrou-se.
Atônita, se via agora em ambiente ermo,
bem onde se revelam os mistérios impenetráveis.
Ao longe, avistou.
Chegou bem perto...
Examinou: era ele: o útero.
essencial, único, composto de um só núcleo
da palavra
mulher.

Maurício Navarro Moreira
24 anos, Estudante de Letras da USP. Atualmente, trabalha como colaborador do site de música NãoPerca (www.naoperca.com.br).
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