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VÁRIAS POESIAS

(sem título)

É este silêncio feito de diamante
É este estar sem estar presente
É esta solidão contra a qual sou impotente e tremo
É este poema que vara a noite trêmula
É esta vida totalmente sem sentido e sem saída
Num beco escuro
É esta vontade de ser feliz sem ser compartilhado
É este olhar irado que só tem paciência
É esta dormência cujo significado é Morte
É esta metáfora adstringente que queima a boca
Mas cujo sentido se perde nos lábios
É esta melancolia de noite de dia de noite de dia
Qual tique-taque de um relógio triste
É esta imagem da TV tão borrada
Porque não possui sentido, não possui nada
É este mirar o horizonte que se esconde
Na miopia da tarde cansada
É este querer tanto sem ser querido
É este perder-se no campo inimigo
É este ser que só quer carinho e amizade
É esta vontade de morrer sem precisar optar
Pelas mil e uma mortes que existem
É esta vertigem que me dá quando me sinto só
É este pó que renasce todo dia
É esta vontade de viver e ser amado
E não encontrar ninguém ao meu lado
Que me angustia
É esta vontade de compartilhar meu dia-a-dia
E tão-somente ecos de minha voz ouvir
Nesta sala de infinita grandeza
É este ser ausente que tenta ocupar espaço
Em algum coração, no ninho de uns braços
É este desejo de ser localizado
Pelo radar de teus olhos
É este querer ser guiado pelos teus passos
É esta vontade de abraçar-te na longitude
E na latitude onde exatamente estás
É esta percepção que somente irradias teus sinais
Para mim – satélite perdido longe do mundo
Sozinho no universo vasto e frio.

 

SONETO DE OUTONO

Uma mulher te ama e tu não sabes
Nem sabes como ela te deseja.
Quanto ela beija o vento, ele te beija
E no coração dela só tu cabes.

Uma mulher te ama e não percebes
Que dás a ela a medida da tristeza:
Nos olhos dela uma lágrima acesa
Emite mil sinais que não recebes.

O que mais queres se uma mulher te ama
Já que em segredo tu a amas também?
É melhor dizer que este querer bem

Possui o ardor da mais cálida chama
Que queima sem parar e sem razão
Porque seu combustível é a paixão.

 

(sem título)

Meus poetas ficam me olhando da estante
Perplexos.
Tento sorver a poesia num só gole
Como a querer embriagar-me mais rapidamente.
Injeto nas veias o poder paranóico das palavras
Vertigem, ânsia de vômito, prazer
Por um tempo sou senhor
Depois sou nada, homem comum
No tédio do dia-a-dia.

Vício do qual não me livro
Droga que me faz ser outro
Disso somente meus poetas têm conhecimento.

Cocaína de versos que me faz vagar
Como um louco nas noites incertas
Sou herói de histórias em quadrinhos
Identidade secreta: poeta.

É por isso que me escondo
Que sempre sou outro
Nunca eu mesmo
É por isso que criei de mim mesmo
Esta imagem perfeita, respeitável
Sem máculas
Para que me consumam sem susto.

Mas que ninguém descubra ( segredo de meus poetas silenciosos)
O porão que há em mim onde escondo
Esta minha faceta abjeta:
Um ser viciado em poesia
Um ser de várias faces
Poeta.

 

DIA DE FINADOS

Ontem visitei o teu túmulo,
Meu avô. Teu sono de pedra
Era mais pétreo sob o acúmulo
De velhas lágrimas de vela.

De repente, como um acordo
Com minha vontade mediúnica
Sou criança em teu quarto de morto
Mas ali vives como nunca!

Que tempo é esse? Minha infância,
Meu primeiro lustro de vida.
A doença rói tuas entranhas
Enquanto tu brincas comigo.

Tornou-te o câncer tumba e número
Mas és saudade, és minha história
Pois ao me mirar em teu túmulo
Volta a meninice aos meus olhos.

Marcos Hidemi
34 anos. Abandonou o curso de jornalismo no segundo ano, mora em Londrina - PR.
Correio: [email protected]

 

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