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ITAIPU

Onde a onda anda indo e vindo
entre as rochas e o vento,
onde
a gaivota
vai buscar o peixe,
e o olhar do homem e da mulher
decifram o azul se transformando em verde,
se derramando sobre o branco
sendo tingido de amarelo
do sol
entre as mãos de seus filhos.

Onde
o sol
incansável sobe e desce montanhas
carregando nuvens e mais nuvens nas costas.

Onde o horizonte tenta esconder o mar,
e há casas e mais casas no alto de uma colina
frente ao mar,
longe, não tão longe,
casas no alto
no meio do caminho
entre o mar e a nuvem,
no alto, não tão alto.

Onde a orquídea escolheu viver
bebendo gota a gota luz e sombra
se equilibrando nas rochas,
dançando no claro-escuro
com os vários tons dos verdes
com que a mata se veste.

Se veste, e se despe a mata
e fica nua íntima das estações,
e ao mesmo tempo lhe visitam
o verão-outono e pode ser
a primavera-inverno num só dia qualquer,
mata que se abre
e recebe, e acolhe sementes,
e se instala e se cria
mais mata inundando os olhos,
mata, árvore, folha, mulher.

Onde raso-fundo, bravo-manso,
azul-verde-claro-escuro, o mar
canta se apresentando plural
pulsando o seu ritmo marítimo-ritmo
voz do mar, som do mar, língua de espuma
que beija a língua negra do asfalto
querendo chegar a praia.

Entre a natureza em curvas
montanhas-seios apontados para os céus
bocas-flores de hibiscos, ou
bocas-flores de bromélias, e tantas outras
entre o mar-montanhas para se ver o verde,
se ver o mar do alto e de longe, o mar
para se ver só se vendo.

Praias irmãs, Itaipu, Piratininga,
Camboinhas, Itacoatiara, Itaipuaçu
anunciando o poder das águas,
e nosso humano compromisso
com as lagoas, as aves, as folhagens
porquê nossos filhos devem ter
o direito de ver o que nelas vemos.

Praia, praia, praia
horizonte diante do mar
para se ver a lua,
ou ir onde perto Várzea das Moças
lindo nome, onde perto Engenho do Mato,
onde quero saber o que produz
este engenho. Sei não distante
Largo da Batalha onde não espero
nenhuma derrota, onde sei perto um rio
que não poderia ser outro qualquer,
Rio do Ouro.

Praia, praia, praia
horizonte diante do mar
para se ver o sol,
e se ver lagoas enquanto lagoas
espelhos d'água refletindo luz solar.
Sons, tons
dos pássaros
onde podem escolher viver:
sanhaçu, mutum, trinca-ferro,
araponga, tangará, gaturama, tiê-sangue,
saira, viuvinha do brejo, papa capim.

Igreja pequena, casa pequena, barco pequeno,
coração grande ,
modo de falar parecido com o de um índio,
onde um museu arqueológico
foi escolhido para ficar
te esperando diante do mar.


Onde podem escolher viver:
Quaresmeira, tuia, amarelinha,
ave-do-paraíso, sálvia, azaléia,
plumbago, jasmim-manga, árvore da felicidade,
onze-horas, chuva-de-ouro, trevo-de-quatro-folhas,
maria-sem-vergonha, brinco de princesa,
aguapé, cróton, dama-da-noite,
e muito, muito mais.

Onde
quero te levar a um jardim.

Onde
o homem pode criar,
e ir fundo em seu mergulho
até querer ser defensor do mar,
porque a fome do homem
não é como a dos pássaros, a dos peixes,
nem como a das árvores diante do ar.

O homem
pode saber
o tempo
da semente, do mergulho, e do revoar,
pode saber
que a caça, caça antes a natureza,
e assim deve saber caçar, e deve ser
como as árvores que nada exigem pelas sombras,
e os pássaros que plantam outra mata
onde a mata não pode morrer.

Onde
o Criador
construiu com sua infinita calma,
e continuou construindo além
anos e anos, como se não quisesse
deixar o ritual dos sete dias.

Onde
o homem
não deve começar uma mobilização
às vezes rude, às vezes indevida
de pedras e de árvores, de terras e areias.

Onde
o homem
vem vindo às vezes feroz
trazendo consigo
toda a extensa parafernália,
de grandes máquinas com imensos pneus de borracha,
que esperamos não ter intenções de apagar
verdes-páginas-folhas,
deste caderno da natureza.

Luis Sérgio Santos
Correio: [email protected]

*NOTA JL: Fotos de Luis Fernando Valverde S.([email protected])

Nasceu em: 14.05.1963, em Tegucigalpa, Honduras. Arquiteto e Urbanista formado pela Universidade Federal Fluminense. Mestrando em Urbanismo pela UFRJ. Subsecretário Regional das Praias Oceânicas de Niterói desde 1998. Morador da Região Oceânica.

A foto da entrada do museu foi retocada no Photo Shop por Carlos Kryktine.

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