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DIAS LATINOS

Há muito que haver, e ainda haverá
na argila dos teus Tótens
- América.

Nós aqui
sentados na praça conversando,
com esta mochila de pesares e discórdias,
presa nos olhos por um couro dos teus abismos
- América.

Ali na frente, no armazém de eucaliptos em sabonetes,
o espírito da floresta dorme, enquanto:
a boca da caixa registradora tem um intestino imenso
que desagua fora de muitos dos teus rios,
e abastece as margens das tuas nuvens do norte
- América.

Nós aqui a telefonar para o Corpo de Bombeiros
e prevendo o recolher das cinzas frias.
Nós aqui soltando cães (di)versos
sem vacinas, sem madames, e com carrocinhas.

Ali por trás, na Rua da Matriz
pela sexta vez ao dia,
o padre ajoelha frente ao Cristo, após,
coloca a mão direita nos ombros do confesso e pede:
que reze, que volte para o pão de domingo.

Ali na calçada
o fiscal fecha a língua dos jornais,
e na loja dos relógios,
o proprietário aumenta o volume do banho-maria
das estações de mormaço no rádio.

Na esquina
com a mesma faca das cebolas,
um João deu mais um corte no seio de uma Joana,
e confirmou a expulsão do Paraíso.

 

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Nós sem poder te defender
e sem caravanas, cavalos e rifles.

Nós cheios de sinais de fumaça como teus índios
- América.

Ali na periferia da metrópole,
os vagões de um trem
carregam tua certidão de especiarias,
e trazem de volta um cartório de algemas
- América.

Nós aqui despertos por um avião vasculhando pouso
nas verminoses do teu ventre,
nem de todo livre.
Nós abrindo uma melodia
para ver o movimento dessas asas.

Ali do lado
há uma fábrica de redes,
que como prodigiosa aranha tece um escombro,
por definirem ser uma missão
a busca dos derradeiros peixes.

Nós aqui comprometidos e férteis
na barganha das tuas lendas bambas e coloridas
- América.

Ali na parede,
no bar, um velho confere o resultado
do bicho, ou da desesperança em cartas nas mesa
dos deuses da sorte. E bêbado e esquecido,
ri como um jovem ante os botões
do "flipper" da tua aventura
- América.

Nós em toda parte
fantasiados e sem guias,
incoerentes,

 

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a sair para tua festa, e pulsando ofensos
ao ouvir te chamarem de mulher vadia
- América.

Nós
gastando a sola dos bandeirantes,
nós
batendo botas.

Nós amarrados nas cordas
desses nós,
dentro de caravelas surreais
de abstratos mares.

Nós os calcanhares
dos teus pés puídos e descalços,
num corpo estranhíssimo
em que usas e abusas
da tua cabeça,
a ruir em ouro e sanguíneos diamantes
- América.

Luis Sérgio Santos
Correio: [email protected]

 

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