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O Realismo / Naturalismo Oesp - Organização Estudantil de Sinop
Contexto histórico O século XIX, principalmente na segunda metade, é um período difícil de ser caracterizado, pela variedade de fatores que intervêm na configuração da época. Para compreende-lo, é necessário examinar alguns de seus traços principais. A. Sociedade Mais tarde, classe média e operariado, cujos objetivos se confundiam, começam a separar-se. Dessa separação decorre a consciência do proletariado e sue esforço no sentido de se organizar. São essas condições que propiciam o Manifesto Comunista de 1848, em que Marx e Engels analisam a situação do proletariado e apontam soluções para os problemas detectados. B. Economia
A origem do capitalismo moderno se prende a esse contexto. Não se deve imaginar, no entanto, que o capitalismo tenha surgido nesse período. O que ocorre, na verdade, é que as linhas diretrizes fundamentais desse modelo econômico, que se evidenciaram desde o Renascimento - o capitalismo mercantil - emergem agora com clareza absoluta, não sofrendo a interferência de qualquer tipo de tradição. É a origem e afirmação do capitalismo industrial. Dessas linhas diretrizes, que sustentam o modelo capitalista, a mais importante talvez tenha sido a tentativa de anular a interferência humana sobre qualquer empreendimento econômico. Conseqüentemente, elimina-se qualquer atenção a circunstâncias pessoais. A empresa passa a ser um órgão autônomo, que leva em consideração apenas e tão-somente seus próprios interesses e objetivos. Dessa situação deriva a oposição entre o capitalismo industrial e as classes assalariadas ligadas à pequena burguesia.Uma nova revolução parece iminente. C. Ciência É notável o desenvolvimento das ciências biológicas. A título de exemplo, citamos algumas descobertas do período: a utilização do éter na anestesia, a assepsia, a teoria microbiana das doenças, a descoberta dos microorganismos responsáveis pela sífilis, malaria e tuberculose, a descrição dos hormônios e vitaminas. As ciências genéticas, a paleontologia, a geologia, a identificação da energia mecânica, do calor, da luz e do eletromagnetismo soa algumas descobertas que também merecem destaque. Todo esse desenvolvimento científico vai representar a derrota do idealismo e tradicionalismo e a vitória do ponto de vista científico na compreensão e na análise da realidade. Foi uma época marcada pela crença no progresso da civilização industrial e mecânica. Segundo o escritor francês Flaubert, "depois da falência de todos os ideais, de todas as utopias, a tendência agora é manter-se dentro do campos dos fatos e de nada mais do que fatos". D. Filosofia Por essa razão, as concepções filosóficas da época revestem-se de um caráter materialista, limitando-se à experiência sensível e imediata. Some-se ainda a essa influência das ciências naturais, a reação contra o idealismo do período anterior, que "alternava" a ciência, a história e a experiência. Evidentemente, essa concepção filosófica vinha ao encontro de uma sociedade que tinha como base a valorização da atividade econômica, produtora de bens materiais. Servia, por isso, de sustentação para a ideologia econômica vigente. A principal corrente filosófica da época é o positivismo. Como se pode perceber, todas as manifestações da segunda metade do século XIX repousam sobre o materialismo de caráter científico. A sociedade da época gira em torno do materialismo e da ciência. Esse período histórico recebe o nome genérico de Realismo.
Manifestações Artísticas Pintura A arte realista vai introduzir uma grande novidade, que é a representação do real de uma maneira absolutamente isenta de idealização e sentimentalismo. O povo tornou-se tema de pintura, fato que representou uma tomada de posição política por parte dos pintores que seguiam a nova estética. Para eles, verdade social e verdade artística se identificavam, tornando-se a arte um meio de denúncia da ordem social vigente, um protesto contra as classes dominantes. E nesse sentido que os personagens representados incorporam toda a vulgaridade, a rudeza, a fealdade das classes menos privilegiadas, que são elevadas à categoria de heróis. Literatura Estilos de época Portugal
Brasil
A literatura vai refletir, também, a nova maneira de conceber e expressar o mundo. Surge, então, um novo estilo de época denominado Realismo/Naturalismo. Antes de mais nada, é preciso ressaltar que o realismo existiu em arte toda vez que a expressão da realidade se processou de maneira documental, fotográfica, objetiva, enfim, sem a participação do subjetivismo do artista. Enquanto estilo de época, o termo Realismo/Naturalismo deve ser compreendido como um conjunto de tendências artísticas que predominaram durante a segunda metade do século XIX. Ë necessário fazer uma distinção entre Realismo e Naturalismo. "Saindo do Realismo ...o Naturalismo dele se diferencia por conduzir a ciência para o plano da obra de arte, fazendo desta como que meio de demonstração de teses científicas, especialmente de psicopatologia. O Realismo, mais esteticizante, embora se apóie no que as ciências do século XIX vinham afirmando e desvendando, não vai até à profundidade analítica do Naturalismo, donde advém sua não-preocupação pela patologia, característica do romance naturalista. A par disso, enquanto o Naturalismo implica uma posição combativa, de análise dos problemas que a decadência social evidenciava, fazendo da obra de arte uma verdadeira tese com intenção científica, o Realismo apenas 'fotografa' com certa isenção a realidade circundante, sem ir mais longe na pesquisa, sem trazer a ciência, dissertativamente, para plano da obra. Em suma, realistas e naturalistas amparam-se nos mesmos preconceitos científicos bebidos na atmosfera cultural que envolve a todos, mas diferenciam-se no modo como aproveitam os dados de conhecimento na elaboração da sua obra de arte.
Características do Realismo/Naturalismo Bloco A. Personagens 2 - O escritor realista/naturalista escolhe como personagem o homem comum, real, com todos os seus contrastes (beleza/feiúra; rudeza/requinte, etc.) sem idealizá-lo. Por isso, os personagens são tipos vivos e concretos. 3 - Todos os atos dos personagens fundamentam-se em causas que os determinam (lei da causalidade). Essas causas podem ser de ordem biológica ou social, mas dificilmente são de natureza espiritual. Graças a essa lei da causalidade, nenhuma atitude do personagem é gratuita e cada uma delas esta fundamentada numa explicação científica plausível. 4 - Na descrição do personagem existe a preocupação com os detalhes, pois o escritor quer representar a realidade da maneira mais exata possível. 5 - O personagem é condicionado pelo meio físico e social em que vive. Por isso, o homem passa a não ter nenhum privilégio diante do animal, visto que todos estão sujeitos 'as mesmas leis. Bloco B. Espaço
2 - O ambiente funciona como condicionador do personagem, podendo determinar mudanças em seu comportamento. 3 - Existe uma nítida preferência por espaços miseráveis e socialmente inferiores ou desequilibrados. Bloco C. Linguagem 2 - Buscando atingir a perfeição formal, o realista/naturalista escreve de maneira clara e correta 3 - A linguagem é mais simples que a dos românticos. 4 - Existe uma seqüência lógica na apresentação dos fatos. 5 - Nota-se a preferência por períodos curtos. Bloco D. Ponto de Vista Essa afirmativa do escritor francês Flaubert resume o ponto de vista dos escritores da época. Para atingir a objetividade: 1 - O narrador assume, diante da realidade, uma posição impessoal; 2 - Eliminam-se os acasos e milagres no desenvolvimento do enredo; 3 - O autor atribui ao romance o objetivo de estudar a realidade social e os mecanismos sócio-psicológicos; 4 - O narrador luta pela verdade, incorporando, se for preciso, até aspectos que possam parecer asquerosos; 5 - A literatura realista/naturalista define-se, por isso, como uma literatura engajada, de combate aos valores sociais vigentes, numa rebeldia aberta contra o idealismo romântico. As características desse último bloco, dificilmente podem ser detectadas em pequenos trechos de obras. Por isso, para observar a ocorrência desse ponto de vista é necessário a leitura integral de pelo menos um romance do período.
O Realismo/Naturalismo em Portugal (1865-1890) Todas as transformações culturais, políticas e científicas que ocorreram na Europa, na segunda metade do século XIX, também conduziram Portugal a uma renovação ideológica e artística que se manifestou com mais veemência numa polêmica denominada "Questão Coimbrã". Na "Questão Coimbrã" defrontam-se elementos conservadores e os adeptos das novas correntes ideológicas. O escritor romântico A. F. de Castilho, no posfácio que escreveu ao Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, acusa um grupo de jovens de Coimbra de exibicionismo e do cultivo de temas impróprios à poesia. Entre os escritores acusados está Antero de Quental que, no folheto denominado Bom Senso, Bom Gosto, ridiculariza Castilho e defende a nova geração de escritores. Formam-se dois partidos, pró e contra Castilho, o que torna evidente a oposição românticos X realistas/naturalistas A consolidação de nova geração vai-se processar através das Conferencias do Cassino Lisbonense, série de palestras em que os novos escritores expõem seu posicionamento ideológico. Destacam-se no Realismo/Naturalismo português: A. Poesia 2 - Cesário Verde: O Livro de Cesário Verde (1887) - coletânea de toda sua obra, publicada postumamente. 3 - Guerra Junqueiro: Os Simples (1892) B. Prosa 2 - Fialho de Almeida: Contos (1881); A Cidade do Vício (1882); O País das Uvas (1893)
O Realismo/Naturalismo no Brasil (1881-1893) Contexto Histórico A. Economia
A liberdade de comerciar com o exterior, por sua vez, impulsionou o comércio de trocas, dando lugar ao crescimento da burguesia mercantil. A atividade mercantil, que tinha sido relegada a segundo plano durante a fase colonial, ocupa agora o primeiro lugar. Some-se a esses fatos o deslocamento do eixo econômico do país para a região Sul, graças ao crescimento da lavoura e do comércio cafeeiro, que criou novas áreas populacionais e, conseqüentemente, novas fontes produtoras e consumidoras. Toda essa modificação econômica teve como infra-estrutura um notável progresso tecnológico: melhor aparelhamento dos portos, inauguração da primeira estrada de ferro, inauguração do telégrafo, aparecimento da luz elétrica. Além disso, criaram-se bancos particulares e o novo Banco do Brasil foi instalado em 1853. A economia da época era fundamentalmente agrícola (cana-de-açúcar e café), precária e dependente do auxílio exterior. Os latifundiários detinham não só o poder econômico mas também o poder político. B. Política e sociedade Com a Abolição da Escravatura, foi introduzido o trabalho assalariado no país, principalmente nas fazendas do oeste paulista, onde já se empregavam técnicas avançadas de produção. A aristocracia rural, que dominava a sociedade tanto política quanto economicamente, vai gradativamente perdendo terreno para uma classe média urbana emergente, que começa a ter alguma representação social. Todos esses fatores propiciam o surgimento do capitalismo no Brasil, ainda que de forma bastante incipiente. Era uma época de grande conturbação social e política: a classe média urbana contestava a ordem vigente; as relações entre a Igreja e o governo imperial ficaram estremecidas em decorrência da expulsão dos maçons das irmandades religiosas, problema que passou para a história com o nome de "Questão Religiosa"; da mesma forma estavam abaladas as relações entre Exercito e o Imperador, que havia punido alguns oficiais por terem discutido publicamente assuntos militares, consubstanciando a chamada "Questão Militar". Todos esses fatos contribuíram para a constatação de que a monarquia era um regime superado. A forma de governo republicana surgia como alternativa que acabou se concretizando em 1889. A república brasileira foi proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca, com o respaldo de todos os demais setores representativos da sociedade que estavam descontentes com o regime monárquico. C. Filosofia Segundo o crítico Werneck Sodré, "...um dos intrumentos importados que encontrou utilização mais eficiente e prestou-se como poucos à exteriorização dos sentimentos da classe média, que começa a ter um papel social e político de relevo na época do positivismo... a influência dele é um dos traços mais característicos da época..." O positivismo seduziu a juventude militar da época e também a jovem burguesia agrária, que estava mais propensa a aceitar os padrões científicos propostos na Europa, crendo encontrar neles um meio de solucionar os problemas do momento. O positivismo encontrou seu maior porta-voz nos membros da chamada Escola de Recife, um grupo de intelectuais que, liderados por Tobias Barreto, lutou pela implantação das novas idéias e colocou-se contra o Romantismo decadente. Resumidamente, esse é o panorama de período. São essas as forças que preparam o terreno para o surgimento de uma nova maneira de expressar a realidade através da arte: o Realismo/Naturalismo.
Manifestações Artísticas A. Pintura A tendência reflete-se nas obras de Almeida Júnior, Modesto Brocoso e Pedro Weigarten, que fixaram cenas, costumes, tipos regionais numa primeira tentativa de alterar as diretrizes artísticas do país. B. Arquitetura Como um novo sistema de escoamento das águas pluviais foi descoberto,os tetos mudam de feição; introduzem-se as platibandas enquanto os antigos beirais são abolidos. C. Literatura A poesia do período, ao lado de uma tendência científica, vai apresentar novas concepções estéticas denominadas, no seu conjunto, de Parnasianismo. Deve-se notar, ainda, uma tendência a desenvolver o regionalismo a que o Romantismo dera início. Agora, sob novo enfoque, escritores como Domingos Olímpio e Manuel de Oliveira Paiva focalizam os ambientes do interior do Brasil, sem aquela intenção idealizadora que marcara o romantismo, porém com maior objetividade e, principalmente, chamando a atenção para o perigo de descaracterização que o sertão começa a correr, graças à invasão do progresso. A literatura realista/naturalista brasileira apresenta, de modo geral, as mesmas características da literatura européia do período, com variações locais. Pela natureza particular de sua obra, um escritor será estudado à parte: Machado de Assis. A produção literária de fins do século XIX no Brasil permite o seguinte quadro-resumo de autores e obras: Tendência realista 2. Raul Pompéia: Uma Tragédia no Amazonas (1880);
O Ateneu (1888) Tendência Naturalista Romances Naturalistas: O Mulato (1881); Casa de Pensão (1884);
O Coruja (1885); O Homem (1887); O Cortiço (1890); O Livro de
Uma Sogra (1895) 2. Inglês de Sousa: O Cacaulista (1876); O Coronel Sangrando (1877); O Missionário (1888); Contos Amazônicos (1893) 3. Adolfo Caminha: A Normalista (1893); O Bom Crioulo (1895); Tentação (1896) Tendência Regionalista Domingos Olímpio: Luzia-Homem (1903) - romance A retomada da linha regionalista aparece posteriormente em obras de escritores do fim do século XIX e início do século XX, com Waldomiro Silveira e Simões Lopes Neto. |
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