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Pressupostos históricos
texto do trabalho Modernismo

A chamada República Velha (1894-1930 aproximadamente) assentava-se na hegemonia dos proprietários rurais de São Paulo e de Minas Gerais, regendo-se pela política dos governadores, o "café com leite", fórmula que reconhecia à lavoura cafeeira somada à pecuária o devido peso nas decisões econômicas e políticas do país.

É claro que a camada de "nobreza" fundiária, via de regra conservadora, não esgotava a faixa do que se costuma chamar "classes dominantes". Havia, num matizado segundo plano atuante e válido em termos de opinião: uma burguesia industrial incipiente em São Paulo e no Rio de Janeiro; profissionais liberais; e, fenômeno sul-americano típico, um respeitável grupo intersticial, o Exército, que, embora economicamente preso aos estratos médios, vinha exercendo desde a proclamação da República, um papel político de relevo.

O quadro geral da sociedade brasileira dos fins do século vai-se transformando graças a processos de urbanização e à vinda de imigrantes europeus em levas cada vez maiores para o centro-sul. Paralelamente, deslocam-se ou marginalizam-se os antigos escravos em vastas áreas só país. Engrossam-se, em conseqüência, as fileiras da pequena classe média, da classe operária e do subproletariado. Acelera-se ao mesmo tempo o declínio da cultura canavieira no Nordeste que não pode competir, nem em capitais, nem em mão-de-obra, com a ascensão do café paulista.

Um olhar para esse conjunto mostra-se que deviam separar-se cada vez mais os pólos da vida pública nacional: de um lado, arranjos políticos manejados pelas oligarquias rurais; de outro, os novos estratos sócio-econômicos que o poder oficial não representava.

Do quadro emergem ideologias em conflito: o tradicionalismo agrário ajusta-se mal à mente inquieta dos centros urbanos, permeável aos influxos europeus e norte-americanos na sua faixa burguesa, e rica de fermentos radicais nas suas camadas médias e operárias. No limite, a situação comportava:

  1. uma visão do mundo estática quando não saudosista;
  2. uma ideologia liberal com traços anarcóides;
  3. um complexo mental pequeno-burguês, de classe média, oscilante entre o puro ressentimento e o reformismo;
  4. uma atitude revolucionária.

Os conflitos deram-se em tempos e lugares diferentes, não raro parecendo exprimir tensões meramente locais. Os movimentos operários em São Paulo, durante a guerra 1914-18 e logo depois, eram sintoma de uma classe nova que já se debatia em angustiantes problemas de sobrevivência numa cidade em fase de industrialização. E as tentativas militares de 22, de 24 e a Coluna Prestes, em 25, significavam a reação de um grupo liberal-reformista mais afoito que desejava golpear o status quo político, o que só ocorreria com a Revolução de 30.

Em um nível cultural bem determinado, o contato que os setores mais inquietos de São Paulo e do Rio mantinham com a Europa dinamizaria as posições tomadas, enriquecendo-as e matizando-as. Começam a ser lidos os futuristas italianos, os dadaístas e os surrealistas franceses.

Falando de um modo genérico, é a sedução do irracionalismo, como atitude existencial e estética, que dá o tom aos novos grupos, ditos modernistas, e lhes infunde aquele tom agressivo com que se põem em campo para se demolir as colunas parnasianas e o academismo em geral.

Irracionalistas foram: a primeira poética de Mário de Andrade, o Manuel Bandeira teórico do "alumbramento" e todo o roteiro de Oswald de Andrade. Presos ao decadentismo estetizante, Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia. Primitivista, Cassiano Ricardo. Na verdade, "desvairismo", "pau-brasil", "antropofagia", "anta" ... exprimem tendências evasionistas que permearam toda a fase dita heróica do Modernismo. Nessa fase tentou-se, com mais ímpeto que coerência, uma síntese de correntes opostas: a centrípeta, de volta ao Brasil real, que vinha do Euclides sertanejo, do Lobato rural e do Lima Barreto urbano; e a centrífuga, o velho transeoceanismo, que continuava selando a nossa condição de país periférico a valorizar fatalmente tudo o que chagava da Europa. Ora, a Europa do primeiro pós-guerra era visceralmente irracionalista.

Nos países de extração colonial, as elites, na ânsia de superar o subdesenvolvimento que as sufoca, dão às vezes passos largos no sentido da atualização literária: o que, afinal, deixa ver um hiato ainda maior entre as bases materiais da nação e as manifestações culturais de alguns grupos. É verdade que esse hiato, coberto quase sempre de arrancos pessoais, modas e palavras, não logra ferir senão na epiderme aquelas condições, que ficam como estavam, a reclamar uma cultura mais enraizada e participante. E o sentimento do contraste leva a um espinhoso vaivém de universalismo e nacionalismo, com toda a sua seqüela de dogmas e anátemas.

 

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