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Informações retiradas do Trabalho Guimarães Rosa A língua do sertão.

Características Estilísticas

Românticos como Taunay, José de Alencar e Bernardo Guimarães procuraram retratar as regiões brasileiras. Porém, prendiam-se essencialmente ao retrato das paisagens e da fala do sertanejo nos discursos diretos que era, por vezes, prejudicada pela intensa idealização característica da obra. Os realistas também realizaram obras regionalistas com Oliveira Paiva, Domingos Olímpio e Inglês de Sousa. Mas, principalmente a Segunda geração modernista explorou amplamente um regionalismo crítico em textos de Rachel de Queiroz, José Lins do Rêgo e outros que focalizavam a decadência dos engenhos, a miséria, a seca e os retirantes.

Apesar de ter sido abordada por tantos autores, a ficção regionalista foi renovada por Guimarães Rosa, em cuja obra, o aspecto regional aparece de forma bastante distinta daquela apresentada pelas escolas literárias anteriores.

O Regionalismo Universalista – "O sertão é o mundo"
Ao escrever suas narrativas tendo como cenário o interior de Minas Gerais, Guimarães Rosa não buscava fazer uma análise das contradições sociais da região, nem apenas retratar a paisagem e o modo de falar de seus habitantes.

A escolha do sertão nos textos roseanos deve-se ao fato de ser ele o único lugar onde o homem assume sua espontaneidade e seu instinto e é exposto a situações extremas.

Rosa fez-se escritor antiurbano porque, no meio rural, não se registra a impessoalidade nem a perda do "mistério das coisas", ele não buscava primeiramente elaborar um novo tipo de literatura regional, mas uma crítica à vida das grandes cidades que roubavam do homem sua individualidade.

Assim, o autor de Sagarana analisa o sertanejo não de forma a prendê-lo à sua localidade, mas refletindo sobre seus anseios e preocupações como: o bem e o mal, Deus e o diabo, o amor, a violência, a morte, a traição, o sentido e aprendizado da vida, a descoberta infantil do mundo etc. Por estes serem dilemas fundamentais de toda a humanidade, o escritor transpõe os limites regionais e confere à obra um caráter universal.

A Linguagem
A revolução lingüística de Guimarães Rosa reveste-se, de certa forma, de um sentido de protesto contra a sociedade unidimensional e tecnológica. Com seu estilo imprevisível (hífens, pontuação própria, mutações semânticas etc.), reage às regras que "padronizam" o escrever.

Através de pesquisas e de viagens pelo interior mineiro, a linguagem do sertanejo é retratada não apenas a nível de vocabulário, mas também de sintaxe e de melodia. Percebemos isto no trecho inicial de Grande sertão: Veredas

_ "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia faço isso, gosto; desde mal em mim mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco erroso, olhos de nem ser."

Porém, o objetivo de Rosa não é reproduzir, com exatidão, a fala do mineiro do interior. Dominando amplamente o Português arcaico e contemporâneo e vários outros idiomas, o escritor desenvolve uma linguagem particular cuja originalidade não se deve ao rebuscamento ou ao uso de arcaísmos, mas aos neologismos, à recriação e à invenção de palavras.

Outro importante aspecto lingüístico deste autor é o uso de recursos comuns à poesia, tais como o ritmo, as aliterações, as metáforas e as imagens, obtendo uma prosa altamente poética.

As aliterações e o ritmo deste fragmento do conto ‘O burrinho pedrês’ sugerem o movimento dos bois em marcha, as palavras, apoiadas no ritmo e na pontuação, poderiam ser dispostas em versos de cinco sílabas (redondilhas menores):

_ "As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão..."

Neste trecho de Primeiras Estórias fica clara a exploração estilística dos dois planos de linguagem: o plano dos sons (significantes) e o plano dos significados:

_ "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmigerado... faz-me-gerado... falmisgerado... familhasgerado...?"

A aproximação prosa-poesia, aliada à forte análise psicológica de suas personagens (utilizando, inclusive, o fluxo de consciência), leva a um rompimento com a estrutura da narrativa tradicional através de violentas digressões.

Utilizando-se de todos esses recursos, a linguagem de Guimarães Rosa visa captar e imortalizar os valores espirituais, humanos e culturais de um povo em transição, em transformação acelerada de uma estrutura agrícola para a urbanização industrial.

O Misticismo
Transparece na obra de Guimarães Rosa o misticismo do sertão, numa religiosidade medieval baseada nos dois extremos: Deus e o diabo, a eterna luta entre o bem e o mal, marcada pelo medo, pavor, inclusive com a preocupação de não invocar o diabo para que ele não "forme forma".

 

Bibliografia na edição do trabalho Guimarães Rosa A língua do sertão.

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