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A menina de São Paulo
Por Rachel de Queiroz


Deus Nosso Senhor foi muito exagerado com essa mulher, dando tanto a Lygia Fagundes Telles

Rachel e Lygia

Se esta nossa página é feminina, nada mais próprio do que falar em mulher: então escolho falar numa mulher muito especial, a escritora paulista Lygia Fagundes Telles.

Deus Nosso Senhor foi bastante exagerado com Lygia: deu-lhe ao mesmo tempo os dons mais cobiçados pelos humanos: o talento e a beleza.

A formosura já é uma arma com que uma mulher bem adestrada pode enfrentar dragões e feras; e, muito especialmente, eu objetivo natural: o bicho homem. Agora, aliar à beleza o talento, como acontece no caso em apreço, já é proteção demais.

Conheci Lygia faz muitos anos: ela vinha ao Rio, trazendo na mão a sua "Ciranda de Pedra", que foi também o seu primeiro triunfo. O livro, sozinho, já dava para nos encantar a todos: e era o ponto inicial de uma obra que já estava em potencial na cabeça da menina paulista.

E, se quem a conhecia pelo livro, queria conhecer em pessoa a autora, nem percisaria de ter lido o livro para se encantar. A presença de Lygia, aqui no Rio, desencadeou um alvoroço na rapaziada intelectual, que freqüentava os "points" dos literatos, como e principalmente a loja da Livraria José Olympio, então à rua do Ouvidor, 110. Alguns até pensaram em acompanhá-la à volta a São Paulo; mas quem foi, perdeu a viagem: Lygia estava na sua, que queria complicações cariocas.

Depois, Lygia casou com um jurista, o professor Goffredo Telles Jr., e teve o seu belo filho, o cineastra Goffredo Neto.

A vida andou, mudou, separou. E, passado um tempo, Lygia casou pela segunda vez com o crítico de cinema Paulo Emilio Salles Gomes, escolha muito feliz, de parte a parte. Mas a felicidade durou pouco: Paulo Emilio adoeceu e morreu. Lygia, dolorida mas sempre valente, dedicou-se ao filho, voltou aos filhos e através dos livros, dedicou-se também a nós, seu público, seus amigos. "Ciranda de Pedra" aparecera em 1954, e "Verão no Aquário" só veio aos prelos passados onze anos, em 1964. Logo, se sucedeu "Antes do Baile Verde" seguido por "As Meninas", que é talvez, meu predileto. Aliás, nem sei realmente se tenho prediletos na obra de Lygia, entre os seus doze livros listados até agora pelos biógrafos.

Cada uma que se lê, tem um encanto novo. Ah, eu sou do ofício, mas não sei fazer apreciação crítica, só sei ler, gostar ou não gostar. Não aprendi literatura na faculdade; escrevo de ouvido, em pauta nenhuma me guiando. Então, não tentarei um ensaio crítico sobre a obra de Lygia Fagundes Telles. Todos conhecemos a fortuna crítica da obra produzida pela menina de São Paulo, e o resultado da leitura é só um: a inveja. Até mesmo dos mais dotados.

Rachel de Queiroz é escritora

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