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ANÁLISE LITERÁRIA
- CAMINHO DE PEDRAS Aqui você encontra: "Há uma idéia matriz neste romance, e em torno dessa idéia é que vai gravitar toda a sua ação a da desigualdade social da mulher." Olívio Montenegro Foco Narrativo O Foco narrativo de Caminho de pedras é: Narrador onisciente observador em terceira pessoa, como é claramente comprovado no capítulo 8, na página 55:
Se ela não utilizasse o formato narrador observador, com certeza ela utilizaria a primeira pessoa do singular para descrever todo o seu livro, no caso, ela usa a terceira pessoa do singular.
Descrição Psicológica ROBERTO - A primeira característica psicológica importante visível em Roberto é a de um homem calado, intimidado, que procura sempre palavras adequadas quando fala com alguém, tentando usá-las na hora certa principalmente quando depara-se com situações em que precisa usar de argumentos convincentes para defender-se de acusações ou para impor confiança em alguém ou em algum grupo, como pudemos perceber na reunião que ocorre no capítulo 2, página 15/16, entre os trabalhadores. Na reunião, Roberto é visto com desconfiança pelo grupo:
E, diante de todas essas acusações, Roberto procurava o que falar para acabar com a desconfiança que estava contra ele, assim, quando contestam mais uma vez a classe burguesa de Roberto...
E quando mocinho magro fala...:
E Roberto defende-se:
E mesmo com esta fala simples ele conseguiu momentaneamente acalmar a confusão e ganhar um pouco mais de confiança. Essas mesma característica de homem cuidados, que mede bem as suas palavras é vista também quando conversa com Noemi, nos momentos em que os dois saem da mesa do café e vão-se embora. Roberto procura delicadamente aproximar-se mais de Noemi falando, na página 30 do capítulo 5:
E quando oferece-se a pagar a pagar o café nos próximos encontros:
Ainda no mesmo capítulo, partindo da visão de Noemi, outras características são citadas. Inicialmente ela acha em Roberto um lado triste, quando na página 29 ela cita:
E interpreta mais uma vez (na página 31) Roberto como um cara distante, que era nem frio e nem seco, era na verdade, fugitivo:
FELIPE - Felipe começa a ser descrito psicologicamente no capítulo 3, na página 19, por Roberto. Roberto o descreve como sendo um cara nervoso, calado, mas que costumava sorrir, mesmo sem alegria alguma. Essa descrição é claramente percebida em:
E depois, percebe em Felipe, um cara que dava uma certa impressão de decisão e segurança, e mais adiante, descreve-o ainda como alguém conformado ou, talvez, experiente, já que esta tão acostumado com as reações do grupo, são características citadas principalmente em:
Finalmente, já na página 21, Roberto conclui que Felipe apresenta uma postura indecifrável, comportando-se de duas maneiras completamente opostas:
JOÃO JAQUES - Marido de Noemi, destacava-se psicologicamente do ponto de vista de Roberto como sendo um cara de ar intelectual e que expressava-se com palavras bonitas e bem escolhidas. Pode-se perceber estas características no trecho da página 43, do capítulo 07, onde ocorre um encontro entre ele e Roberto, em uma roda de amigos. João Jaques é descrito em:
Mais adiante, na página 45, Roberto descobre o lado fraternal de João Jaques quando este, irmanamente, o chama para jantar;
Roberto o encarou, sorrindo:
E os dois vão-se, como irmãos:
Podemos acrescentar ainda nas características intelectuais de João Jaques, sua conversa com Roberto quando feita sobre Kropolkine (um revolucionário), nas quais suas palavras são totalmente escolhidas com delicadeza (página 46). NOEMI - Era ao ponto de vista de Roberto, uma mulher risonha, alegre e feliz, características claramente definidas quando, na companhia de João Jaques, ele lembra-se dela de conversa no Café (página 45):
Noemi é vista também como uma mulher aplicada, tanto no trabalho como fotógrafa (página 33) quando o texto leva elogios feitos a ela:
E como mãe, descrita como grave, meiga e longe do ponto de vista de Roberto, quando jantava com ela, na companhia do seu filho e de João Jaques.
Importância da Obra no Contexto
Literário Entre a década de 20 e 30, a literatura nordestina tinha quase nenhuma importância nacional. Havia também um grande preconceito a obras de ficção de autoria feminina. Nesta época a jovem cearense Rachel de Queiroz lançou seu primeiro livro. Sua característica diferente da maioria das outras autoras que defendiam o sexo mais que a literatura, sua idade, e a qualidade de seu romance fez com que causasse muita agitação e desconfiança no meio literário. Sua personalidade viril está presente sobretudo no seu romance Caminho de Pedras em que há uma idéia matriz, e em torno dessa idéia é que vai gravitar toda a sua ação: a da desigualdade social da mulher. Mas essa idéia não se vai ossificar em tese até fazer do romance um instrumento de propaganda política, ou torna-lo variação menos teórica de alguma doutrina social. É admirável o entusiasmo criador com que a autora dissolve essa idéia na ação de seu romance, tirando-lhe todo o ranço político ou toda a afetação doutrinária. Este romance foi um documento a favor das lutas sociais, direitos das mulheres e idéias políticas socialistas. O efeito que Caminho de Pedras provocou no meu literário foi da constatação do estilo criado por Rachel: a documentação em romance de lutas sociais sem utilizar de artifícios e sendo direta e objetiva nos diálogos e na ação, ser realista e acima de tudo fazer romance.
Críticas Abordadas São muitas as críticas abordadas neste livro porém quase todas, mesmo que sejam simples citações, direcionam-se principalmente à exploração da classe dominante sobre a classe trabalhadora. A primeira crítica citada no livro ocorre quase em seu início, logo no capítulo 1, na página 10, quando acontece a primeira conversa entre Roberto e o Luiz, pois ambos citam sobre suas profissões. A crítica usa, desta vez, o salário dos trabalhadores para direcionar à exploração que os mesmo sofrem:
O pedreiro parece que teve pena:
Roberto tornou a sorrir:
Um pouco adiante, já no capítulo 2, duas outras críticas, mais uma vez, citam sobre a pobreza em que vive a classe trabalhadora. Uma na página 13 e outra na página 17/18, onde ambas são ocorridas na reunião entre os proletariados, elas estão respectivamente em:
E em:
Mais uma vez, ainda no capítulo 2, as ações são feitas contra a exploração dos "doutores" ou "burgueses" em cima do proletariado, como está na página 15, nos argumentos usados para criticar Roberto:
E como esta outra na página 16:
Uma pequena citação, ainda sobre a pobreza encontra-se no capítulo 3:
E prolongando mais um pouquinho sobre a luta de todos os dias entre o pobre e rico, na página 38 do capítulo 4 mais uma crítica sobre a vida dura dos trabalhadores é citada no pensamento de Felipe:
Algumas críticas (de certa forma irônicas) são feitas no decorrer do capítulo 6 tratando principalmente a socialização das mulheres. Citações como estas foram elaboradas principalmente na conversa entre Roberto, Paulino, Felipe e o judeu Samuel. Discutem principalmente sobre a injusta "divisão" das mulheres entre os homens alegam o direito do proletariado a terem mulheres "que prestam" também. Críticas que exemplificam encontram-se em:
E como esta outra, na página 37:
E essa outra em:
E esta outra na página 38:
Mesmo que com um certo ar de ironia, muito sérias são estas críticas, mesmos que indiretas, cuja importância cabe a quem ler perceber e decidir. São tantas as críticas que Rachel de Queiroz faz sobre a miséria do pobre e na eterna luta por melhores condições de vida que, por mais resumido que fosse, muitas citações são feitas, como estas outras no capítulo 7, mais uma hilariante vez sobre essa vida miserável dos trabalhadores (página 42):
E em: (pág. 55)
E mais críticas sobre a burguesia são feitas na nova reunião do capítulo 8, como esta na página 57:
E esta na página 58:
Felipe interrompeu irritado:
Vinte-e-um atalhou, acerbamente:
E por aí, vai-se indo, todas essas críticas, pensamentos, revoltas, de uma época em que tudo estava difícil, em que muitas liberdades não foram cedidas aos tão explorados trabalhadores, coisas que, apesar de não serem com mesmo grau de dificuldade, acontecem dia-a-dia, mesmo hoje...
Críticas Especializadas "O seu estilo é o mesmo, sóbrio, simples, elegante, de um perfeito bom gosto e com exato senso de medida. E dos dannunzianos que ainda exitam vale a pena lembrar o valor da simplicidade. Sem querer fazer um paradoxo que seria ridículo, a verdade é que escrever fácil está justamente em amontoar palavras difíceis. Arte, e das mais complexas é escrever neste estilo simples de Rachel de Queiroz, que representa a mais bela forma de expressão literária. A ilustre romancista imprimiu ao Caminho de pedras todas as virtudes e todos os encantos de seu estilo. E neste sentido o romance tem tanta uniformidade na sua riqueza que sinto dificuldade de citar qualquer trecho como demonstração." Álvaro Lins |
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