Rua do Sol

br.geocities.com/esquinadaliteratura

Início > Autores > Oswald de Andrade >


Sobre Oswald de Andrade
Texto dos trabalhos: Modernismo eMovimentos Primitivistas

 

"A curva evolutiva da poesia de Oswald de Andrade é uma curva de pureza. Ela é parte de um romantismo descabelado, da originalidade aguda, e alcança o classicismo do lugar-comum. Ela é parte do esotérico, do estanque e atinge o exotérico, a comunhão. Quase tôrre de marfim no princípio, vai-se tornando, após dura e longa relutância, e mais de uma série de sacrifícios retóricos, largamente participantes. Ao mesmo tempo que se sedimenta o valor humano dessa poesia, apura-se a expressão, e ela se simplifica. "

(Sérgio Milliet)

Foi, no entender de Mário de Andrade, "a figura mais característica e dinâmica do movimento modernista". Na verdade, esteve à frente de todas as manifestações de vanguarda ocorridas no país até a sua morte. Espírito irrequieto, inventivo e audacioso manteve-se sempre fiel aos ideais da sua mocidade, jamais renunciando às atitudes típicas do modernismo.

Viveu o Modernismo. Chefiou a preparação do movimento, polemizou violenta e destruidoramente, lançou correntes "Pau-Brasil" e "Antropofagia" e, a esta última, no fim da vida, quis dar um sentido filosófico, erigindo-a em weltunchaung na tese com que pretendia uma cátedra na Universidade de São Paulo: "A Crise da Filosofia Messiânica". Lutou, enfim, pela reforma dos costumes sociais e políticos, literários e artísticos, numa ânsia de contribuir para a libertação do homem e seu pensamento ético e estético.

Abridor de caminhos, inventor surpreendente de rumos e roteiros, terá sacrificado às vezes, à conquista de novos direitos, a realização mais tranqüila de sua obra escrita. Empenhou-se, na verdade, numa permanente e incessante polêmica com o meio e até consigo mesmo, em busca, sempre, de etapas mais avançadas da cultura.

Morto, Oswald de Andrade já ressucita citado nos manifestos concretistas. Sua poesia, em que entram o humor e o lirismo, a piada e a imaginação, a concisão e a fala popular, a retórica, a ironia e a onomatopéia, a discrição e a associação inusitada de idéias, o descritivo e a síntese luminosa, as deformações sintáxicas e gramaticais – "cria ou insinua quase todos os temas com que iriam lidar os futuros poetas brasileiros", conforme discerne Vinicius de Morais.

 

Oswald de Andrade:

José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 11 de janeiro de 1890. Cursou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, bacharelando-se em 1919. Desde o retorno de sua primeira viagem à Europa, em 1912, de onde trouxe as idéias do Futurismo, Oswald de Andrade transformou-se em figura fundamental dos principais acontecimentos da vida cultural brasileira da primeira metade do século XX. Homem polêmico, irônico, gozador, teve vida atribulada não só no que diz respeito às artes, como também à política e aos sentimentos: foi o idealizador dos principais manifestos modernistas, militante político, teve profundas amizades e inimizades, rumorosos casos de amor e vários casamentos (com destaque para dois: com Tarsila do Amaral e com Patrícia Galvão, a Pagu). Mais do que a de outros escritores, sua vida é irmã gêmea de sua obra, como afirma seu filho Rudá em carta ao crítico Antônio Cândido: "Creio que a obra de Oswald não pode ser estudada desvinculada de sua vida". E aqui cabe chamar a atenção para dois fatos: primeiro, a vida de Oswald teve um verdadeiro divisor de águas, o ano de 1929, quando, fazendeiro de café, vai à falência; segundo, criou-se em torno dele a imagem de um "palhaço da burguesia", o que ofuscou em muito o brilho de sua obra e amargurou o escritor nos últimos anos de sua vida. A propósito, assim se manifestou o próprio Oswald:

"Quando, depois de uma fase brilhante em que realizei os salões do modernismo e mantive contato com a. Paris de Cocteau e de Picasso, quando num só dia da débâcle do café, em 29, perdi tudo - os que se sentavam à minha mesa iniciaram uma tenaz campanha de desmoralização contra meus dias. Fecharam então num cochicho beiçudo o diz-que-diz que havia de isolar minha perseguida pobreza nas prisões e nas fugas. Criou-se então a fábula de que eu só fazia piada e irreverência, e uma cortina de silêncio tentou encobrir a ação pioneira que dera o Pau-Brasil e a prosa renovada de 22."

A esse respeito, o crítico Antônio Candido assim se manifesta:

"Mas esse Oswald lendário e anedótico tem razão de ser: a sua elaboração pelo público manifesta o que o mundo burguês de uma cidade provinciana enxergava de perigoso e negativo para os seus valores artísticos e sociais. Ele escandalizava pelo fato de existir, porque a sua personalidade excepcionalmente poderosa atulhava o meio com a simples presença. Conheci muito senhor bem posto que se irritava só de vê-lo - como se andando pela rua Barão de Itapetininga ele pusesse em risco a normalidade dos negócios ou o dccoro do finado chá-das-cinco."

Quanto à sua obra, Oswald de Andrade apresenta, de maneira geral, as características já comentadas desta primeira fase do Modernismo, ou seja, um nacionalismo que busca as origens sem perder a visão crítica da realidade brasileira; a paródia como uma forma de repensar a literatura; a valorização do falar cotidiano, numa busca do que seria a língua brasileira ("como falamos, como somos"); uma análise crítica da sociedade burguesa capitalista, notadamente nas obras produzidas após 1930, como, por exemplo, o romance Serafim Ponte Grande e a peça O rei da vela.

No aspecto formal, Oswald inovou a poesia com seus pequenos poemas, em que sempre havia um forte apelo visual, criando o chamado "poema-pílula"; como afirma Paulo Prado no prefácio ao livro de poesias Pau-Brasil: "Obter, em comprimidos, minutos de poesia". Os romances de Oswald de Andrade, especialmente Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande, quebram toda a estrutura dos romances tradicionais, apresentando capítulos curtíssimos e semi-independentes, num misto de prosa e poesia, que, ao final da leitura, formam um grande painel. Para exemplificar, transcrevem-se dois capítulos de Memórias sentimentais de João Miramar.

131. Mais que perfeito

Eu tinha saído do laboratório da Itacolomi Film onde Rolah tinha dado uma hora preguiçosa de pose para observações contratuais.

Ela me tinha confessado pela manhã que seus amores anteriores com pastores não tinham passado de pequenos flertes de criança.

Agora quando tínhamos descido a escada longa eu me tinha baixado até os orquestrais cabelos louros.

E tínhamo-nos juntado no grande doce e carnoso grude dum grande beijo mudo como um surdo.

132. Objeto direto

Ao longo do longo Viaduto bandos de bondes iam para as bandas da Avenida.

O poente secava nuvens no céu mal lavado. No Triângulo começado de luz bulhenta antes

da perdida ocasião de ir para casa entramos numa casa de jóias.

 

Fonte:
NICOLA, José de. Literatura Brasileira das origens dos nossos dias. Ed.15. São Paulo. Scipione.

 

Topo

 


Início | Autores | Escolas Literárias
1998-2007 Esquina da Literatura - InfoEsquina

Hosted by www.Geocities.ws

1