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Sobre Oswald de Andrade
Foi, no entender de Mário de Andrade, "a figura mais característica e dinâmica do movimento modernista". Na verdade, esteve à frente de todas as manifestações de vanguarda ocorridas no país até a sua morte. Espírito irrequieto, inventivo e audacioso manteve-se sempre fiel aos ideais da sua mocidade, jamais renunciando às atitudes típicas do modernismo. Viveu o Modernismo. Chefiou a preparação do movimento, polemizou violenta e destruidoramente, lançou correntes "Pau-Brasil" e "Antropofagia" e, a esta última, no fim da vida, quis dar um sentido filosófico, erigindo-a em weltunchaung na tese com que pretendia uma cátedra na Universidade de São Paulo: "A Crise da Filosofia Messiânica". Lutou, enfim, pela reforma dos costumes sociais e políticos, literários e artísticos, numa ânsia de contribuir para a libertação do homem e seu pensamento ético e estético. Abridor de caminhos, inventor surpreendente de rumos e roteiros, terá sacrificado às vezes, à conquista de novos direitos, a realização mais tranqüila de sua obra escrita. Empenhou-se, na verdade, numa permanente e incessante polêmica com o meio e até consigo mesmo, em busca, sempre, de etapas mais avançadas da cultura. Morto, Oswald de Andrade já ressucita citado nos manifestos concretistas. Sua poesia, em que entram o humor e o lirismo, a piada e a imaginação, a concisão e a fala popular, a retórica, a ironia e a onomatopéia, a discrição e a associação inusitada de idéias, o descritivo e a síntese luminosa, as deformações sintáxicas e gramaticais "cria ou insinua quase todos os temas com que iriam lidar os futuros poetas brasileiros", conforme discerne Vinicius de Morais. Oswald de Andrade: José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 11 de janeiro de 1890. Cursou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, bacharelando-se em 1919. Desde o retorno de sua primeira viagem à Europa, em 1912, de onde trouxe as idéias do Futurismo, Oswald de Andrade transformou-se em figura fundamental dos principais acontecimentos da vida cultural brasileira da primeira metade do século XX. Homem polêmico, irônico, gozador, teve vida atribulada não só no que diz respeito às artes, como também à política e aos sentimentos: foi o idealizador dos principais manifestos modernistas, militante político, teve profundas amizades e inimizades, rumorosos casos de amor e vários casamentos (com destaque para dois: com Tarsila do Amaral e com Patrícia Galvão, a Pagu). Mais do que a de outros escritores, sua vida é irmã gêmea de sua obra, como afirma seu filho Rudá em carta ao crítico Antônio Cândido: "Creio que a obra de Oswald não pode ser estudada desvinculada de sua vida". E aqui cabe chamar a atenção para dois fatos: primeiro, a vida de Oswald teve um verdadeiro divisor de águas, o ano de 1929, quando, fazendeiro de café, vai à falência; segundo, criou-se em torno dele a imagem de um "palhaço da burguesia", o que ofuscou em muito o brilho de sua obra e amargurou o escritor nos últimos anos de sua vida. A propósito, assim se manifestou o próprio Oswald:
A esse respeito, o crítico Antônio Candido assim se manifesta:
Quanto à sua obra, Oswald de Andrade apresenta, de maneira geral, as características já comentadas desta primeira fase do Modernismo, ou seja, um nacionalismo que busca as origens sem perder a visão crítica da realidade brasileira; a paródia como uma forma de repensar a literatura; a valorização do falar cotidiano, numa busca do que seria a língua brasileira ("como falamos, como somos"); uma análise crítica da sociedade burguesa capitalista, notadamente nas obras produzidas após 1930, como, por exemplo, o romance Serafim Ponte Grande e a peça O rei da vela. No aspecto formal, Oswald inovou a poesia com seus pequenos poemas, em que sempre havia um forte apelo visual, criando o chamado "poema-pílula"; como afirma Paulo Prado no prefácio ao livro de poesias Pau-Brasil: "Obter, em comprimidos, minutos de poesia". Os romances de Oswald de Andrade, especialmente Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande, quebram toda a estrutura dos romances tradicionais, apresentando capítulos curtíssimos e semi-independentes, num misto de prosa e poesia, que, ao final da leitura, formam um grande painel. Para exemplificar, transcrevem-se dois capítulos de Memórias sentimentais de João Miramar.
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