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Análise das obras
(Oswald de Andrade Manifesto Pau-Brasil, 1924)
Quanto à Oswald, além de João Miramar e Serafim Ponte Grande, "Macunaímas urbanos", há o Manifesto Antropófago e mais o citado Manifesto Pau-Brasil, como documentos primordiais do nacionalismo modernista. Vejamos alguns trechos do Manifesto Antropófago de 1928:
(Oswald de Andrade Manifesto Antropófago, 1928) Depois da poesia pau-brasil, a poesia de exportação cujas principais características são a valorização dos estados brutos da cultura coletiva, a decomposição irônico-paródica dos suportes intelectuais da cultura brasileira, a conciliação da floresta e da escola, ou seja, imbricar a cultura nativa com outra atitude, intelectualizada, Oswald propõe a antropofagia, isto é, um mergulho nas fontes primitivas, para articulá-las a uma reflexão, de matriz anarquista e contestadora, que faz do riso e da utopia uma forma de combate (Gilberto Mendonça Teles, op. cit.) Em outras palavras, o nacionalismo de Oswald de Andrade, em oposição ao das outras correntes modernistas, como o verdamarelismo e o Grupo da Anta, que idealizaram a pátria identificando-a com o estado, baseia-se na "devoração crítica", "Antropofágica", quer dizer, na assimilação de todas as influências estrangeiras que vão da colonização à absorção das vanguardas artísticas européias e na sua digestão, para que assim saiamos da "cópia", da "tradução" e possamos criar e recriar a nossa história, a nossa cultura. Uma história e uma cultura cujo caráter "tupiniquim", primitivista, pode fornecer à velha Europa um pouco de liberdade, alegria, um pouco de utopia...
(Oswald de Andrade Pau-Brasil) O Verso livre, o tom de prosa, a simplicidade da linguagem e a extrema condensação, ou síntese, são os principais elementos de modernidade deste poema-metalinguístico, poesia sobre poesia. Ele sugere a idéia da poesia como ingenuidade, surpresa, e também imaginação, invenção, magia, liberdade, na medida em que é associada ao universo infantil: um universo sem fronteiras entre sonho e realidade, um universo poético, portanto, que pode ensinar ao adulto, talvez não exatamente a descoberta, mas a redescoberta da poesia.
(Oswald de Andrade Pau-Brasil)
Aqui, a valorização da linguagem coloquial, popular, próxima da vida, opõe a gramática, o professor e o mulato sabido ( ou seja, a escola, a regra, a norma, o pedantismo), ao bom negro e ao bom branco da Nação brasileira: nacionalismo e crítica ao "mestiço", que lembra Gregório de Matos.
(Oswald de Andrade Pau-Brasil)
A idéia de luta é sugerida apenas por um diálogo-relâmpago, tipicamente popular (note o texto escrito copia a oralidade) e pela metonímia (pernas e cabeças na calçada - a parte pelo todo), que ilustra o estilo teegráfico, extremamente sintético, de Oswald de Andrade. Segundo Antônio Cândido , Oswald foi o inaugurador, em nossa literatura, da transposição de técnicas de cinema "montagem" de cenas, tentativa de descontinuidade para causar a impressão de "imagens simultâneas" para o texto literário.
(Oswald de Andrade Pau-Brasil) Este poema é representativo da proposta Pau-Brasil de poesia de exportação. Recontar momentos significativos da história da colonização do Brasil de maneira irônica, crítica, como na cena de Relicário . Nela, um personagem histórico, o Conde dEu, no baile da Corte, conversa com Dona Benvinda uma "conversa de cozinha": rítmica, folclórica, engraçada, surpreendente para o contexto do baile da Corte. Note que o relicário significa recinto ou lugar especial, próprio. Está na impropriedade, então, este contexto e tipo de conversa, a ironia e a blague (a piada) oswaldianas.
(Oswald de Andrade Pau-Brasil) Esta é a primeira paródia modernista da Canção do Exílio de Gonçalves Dias, poeta romântico. Hino à nacionalidade, o poema original apresenta uma visão ufanista, idealizadora da pátria. Em sua paródia, Oswald de Andrade troca palmeiras por palmares, mostrando, assim, o nacionalismo crítico dos modernistas: minha terra tem opressão, escravidão, dominação e também lutas pela libertação. Palmares é o nome do mais famoso quilombo para onde fugiam os escravos. Há, também, uma referência clara, ao progresso de São Paulo símbolo do desenvolvimento econômico do país que se opõe à valorização da natureza presente no poema de Gonçalves Dias. Ao dizer que os passarinhos daqui, isto é, do estrangeiro, não cantam como os de lá os do Brasil Oswald relativiza o juízo de valor, a idéia da superioridade de nossa fauna e de nossa flora em relação à Europa, afirmando a diferença em oposição ao que se encontra em Gonçalves Dias. O verso E quase que mais amores acentua a relativização do patriotismo romântico a que nos referimos e, finalmente, a ausência de pontuação, especialmente em Ouro terra amor e rosas, acaba de configurar a modernidade da Canção de Regresso à Pátria: poema paródico que, aparentemente imitando o texto a partir do qual foi escrito, o que faz, na verdade, é inverter o seus sentidos através da sátira |
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