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Análise das obras
Texto do trabalho: Movimentos Primitivistas

A Poesia existe nos Fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos (...)
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida (...)
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos (...)
O trabalho contra o detalhe naturalista – pela síntese; contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa (...).
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com os olhos livres.

(Oswald de Andrade – Manifesto Pau-Brasil, 1924)

 

Quanto à Oswald, além de João Miramar e Serafim Ponte Grande, "Macunaímas urbanos", há o Manifesto Antropófago e mais o citado Manifesto Pau-Brasil, como documentos primordiais do nacionalismo modernista. Vejamos alguns trechos do Manifesto Antropófago de 1928:

Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupy, o not Tupy, thats the question (..)
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida (...)
Queremos a revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade (...)
A alergia é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama. (...)
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

(Oswald de Andrade – Manifesto Antropófago, 1928)

Depois da poesia pau-brasil, a poesia de exportação cujas principais características são a valorização dos estados brutos da cultura coletiva, a decomposição irônico-paródica dos suportes intelectuais da cultura brasileira, a conciliação da floresta e da escola, ou seja, imbricar a cultura nativa com outra atitude, intelectualizada, Oswald propõe a antropofagia, isto é, um mergulho nas fontes primitivas, para articulá-las a uma reflexão, de matriz anarquista e contestadora, que faz do riso e da utopia uma forma de combate (Gilberto Mendonça Teles, op. cit.)

Em outras palavras, o nacionalismo de Oswald de Andrade, em oposição ao das outras correntes modernistas, como o verdamarelismo e o Grupo da Anta, que idealizaram a pátria identificando-a com o estado, baseia-se na "devoração crítica", "Antropofágica", quer dizer, na assimilação de todas as influências estrangeiras – que vão da colonização à absorção das vanguardas artísticas européias – e na sua digestão, para que assim saiamos da "cópia", da "tradução" e possamos criar e recriar a nossa história, a nossa cultura. Uma história e uma cultura cujo caráter "tupiniquim", primitivista, pode fornecer à velha Europa um pouco de liberdade, alegria, um pouco de utopia...

 

3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi

(Oswald de Andrade – Pau-Brasil)

O Verso livre, o tom de prosa, a simplicidade da linguagem e a extrema condensação, ou síntese, são os principais elementos de modernidade deste poema-metalinguístico, poesia sobre poesia. Ele sugere a idéia da poesia como ingenuidade, surpresa, e também imaginação, invenção, magia, liberdade, na medida em que é associada ao universo infantil: um universo sem fronteiras entre sonho e realidade, um universo poético, portanto, que pode ensinar ao adulto, talvez não exatamente a descoberta, mas a redescoberta da poesia.

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

(Oswald de Andrade – Pau-Brasil)

 

Aqui, a valorização da linguagem coloquial, popular, próxima da vida, opõe a gramática, o professor e o mulato sabido ( ou seja, a escola, a regra, a norma, o pedantismo), ao bom negro e ao bom branco da Nação brasileira: nacionalismo e crítica ao "mestiço", que lembra Gregório de Matos.

 

O Capoeira

- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

(Oswald de Andrade – Pau-Brasil)

 

A idéia de luta é sugerida apenas por um diálogo-relâmpago, tipicamente popular (note o texto escrito copia a oralidade) e pela metonímia (pernas e cabeças na calçada - a parte pelo todo), que ilustra o estilo teegráfico, extremamente sintético, de Oswald de Andrade.

Segundo Antônio Cândido , Oswald foi o inaugurador, em nossa literatura, da transposição de técnicas de cinema – "montagem" de cenas, tentativa de descontinuidade para causar a impressão de "imagens simultâneas" – para o texto literário.

 

Relicário

No baile da corte
Foi o conde d’Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí

(Oswald de Andrade – Pau-Brasil)

Este poema é representativo da proposta Pau-Brasil de poesia de exportação. Recontar momentos significativos da história da colonização do Brasil de maneira irônica, crítica, como na cena de Relicário . Nela, um personagem histórico, o Conde d’Eu, no baile da Corte, conversa com Dona Benvinda uma "conversa de cozinha": rítmica, folclórica, engraçada, surpreendente para o contexto do baile da Corte. Note que o relicário significa recinto ou lugar especial, próprio. Está na impropriedade, então, este contexto e tipo de conversa, a ironia e a blague (a piada) oswaldianas.

Canção de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo

(Oswald de Andrade – Pau-Brasil)

Esta é a primeira paródia modernista da Canção do Exílio de Gonçalves Dias, poeta romântico. Hino à nacionalidade, o poema original apresenta uma visão ufanista, idealizadora da pátria.

Em sua paródia, Oswald de Andrade troca palmeiras por palmares, mostrando, assim, o nacionalismo crítico dos modernistas: minha terra tem opressão, escravidão, dominação e também lutas pela libertação. Palmares é o nome do mais famoso quilombo para onde fugiam os escravos.

Há, também, uma referência clara, ao progresso de São Paulo – símbolo do desenvolvimento econômico do país – que se opõe à valorização da natureza presente no poema de Gonçalves Dias.

Ao dizer que os passarinhos daqui, isto é, do estrangeiro, não cantam como os de – os do Brasil – Oswald relativiza o juízo de valor, a idéia da superioridade de nossa fauna e de nossa flora em relação à Europa, afirmando a diferença em oposição ao que se encontra em Gonçalves Dias. O verso E quase que mais amores acentua a relativização do patriotismo romântico a que nos referimos e, finalmente, a ausência de pontuação, especialmente em Ouro terra amor e rosas, acaba de configurar a modernidade da Canção de Regresso à Pátria: poema paródico que, aparentemente imitando o texto a partir do qual foi escrito, o que faz, na verdade, é inverter o seus sentidos através da sátira

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