Esquina da Literatura

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Autores

João Cabral de Melo Neto

 

Modernismo

Geração de 45

 

As informa��es aqui contidas foram retiradas do trabalho Modernismo

Introdu��o

Jo�o Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, em 9 de janeiro de 1920. Ap�s passar a inf�ncia em engenhos de a��car, estudou com os Irm�os Maristas em sua cidade natal. Em 1942 estreou em livro com Pedra do sono, em que � n�tida a influ�ncia de Carlos Drummond de Andrade e de Murilo Mendes. Em 1945 publicou o engenheiro, em que se manifestam os rumos definitivos de sua obra. Nesse mesmo ano, prestou concurso para a carreira diplom�tica, servindo na Espanha, na Inglaterra, na Fran�a e no Senegal. Em 1969, foi eleito por unanimidade para a Academia Brasileira de Letras.

O que parte da cr�tica liter�ria vem chamando de Gera��o de 45 consiste num grupo de poetas j� desligados da revolu��o art�stica de 22, que recuperaram certos valores parnasianos e simbolistas, como o rigor formal e o vocabul�rio erudito. No entanto, � chamada Gera��o de 45 pertencem poetas n�o-catalog�veis, o que nos leva a preferir a an�lise individual desses autores � an�lise da gera��o enquanto grupo. Dessa forma, Jo�o Cabral de Melo Neto s� pertenceria � Gera��o de 45 se levado em conta o crit�rio cronol�gico; esteticamente, afasta-se de grupos, por ter aberto caminhos pr�prios, tornando-se, portanto, um caso particular na evolu��o da poesia brasileira moderna.

A poesia de Jo�o Cabral se caracteriza pela objetividade na constata��o da realidade e, em alguns casos, pela tend�ncia ao surrealismo. No n�vel tem�tico, podemos distinguir em sua po�tica tr�s grandes preocupa��es, apresentadas a seguir.

O Nordeste com sua gente: os retirantes, suas tradi��es, seu folclore, a heran�a medieval e os engenhos; de modo muito particular, seu estado natal, Pernambuco, e sua cidade, o Recife. S�o objeto de verifica��o e an�lise os mocambos, os cemit�rios e o rio Capibaribe, que aparece, por mais de uma vez, personificado.

A Espanha e suas paisagens, em que se destacam os pontos em comum com o Nordeste brasileiro. "Sou um regionalista tamb�m na Espanha, onde me considero um sevilhano. N�o h� que civilizar o mundo, h� que 'sevilhizar' o mundo", afirma o poeta.

A Arte e suas v�rias manifesta��es: a pintura de Mir�, de Picasso e do pernambucano Vicente do Rego Monteiro; a literatura de Paul Val�ry, Ces�rio Verde, Augusto dos Anjos, Graciliano Ramos e Drummond; o futebol de Ademir Meneses e Ademir da Guia; a pr�pria arte po�tica

Jo�o Cabral apresenta em toda a sua obra uma preocupa��o com a est�tica, com a arquitetura da poesia, construindo palavra sobre palavra, como o engenheiro coloca pedra sobre pedra. � o "poeta-engenheiro"; que constr�i uma poesia calculada, racional, num evidente combate ao sentimentalismo choroso; para isso, utiliza-se de uma linguagem enxuta, concisa, el�ptica, que constitui o pr�prio falar do sertanejo:

1

"A fala a n�vel do sertanejo engana:
as palavras dele v�m, como rebu�adas
(palavras confeito, p�lula), na glace
de uma entona��o lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caro�o de pedra, a am�ndoa p�trea,
dessa �rvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de n�o se expressar em pedra.

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Da� porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso:
o natural desse idioma fala � for�a.
Da� tamb�m porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeit�-las na l�ngua, rebu��-las;
pois toma tempo todo esse trabalho." ("O sertanejo falando")

Para Jo�o Cabral, o ato de escrever consiste num trabalho de depura��o; as palavras s�o degustadas e selecionadas pelo seu sabor e peso, n�o podem boiar � toa:

"Catar feij�o se limita com escrever:
joga-se os gr�os na �gua do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiar� no papel,
�gua congelada, por chumbo seu verbo
pois para catar esse feij�o, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco."
("Catar feij�o")

Como se observa nos trechos citados, um aspecto fundamental na obra de Jo�o Cabral � seu constante refletir sobre a pr�pria poesia, seguindo um caminho j� trilhado por Drummond, Murilo Mendes e outros poetas surgidos nos anos 30. Em sua famosa Antiode (Contra a poesia dita profunda), o poeta repensa sua poesia:

"Poesia, te escrevia:
flor! conhecendo
que �s fezes. (Fezes
como qualquer,

gerando cogumelos
raros, fr�geis, cogumelos)
no �mido
calor de nossa boca

Delicado, escrevia:
flor! (Cogumelos
ser�o flor? Esp�cie
estranha, esp�cie

extinta de flor,
flor n�o de todo flor,
mas flor, bolha
aberta no maduro).

Delicado, evitava
o estrume do poema,
seu caule, seu ov�rio
suas intestina��es.

Esperava as puras,
transparentes flora��es,
nascidas do ar, no ar,
como as brisas."

Em 1982, Jo�o Cabral de Melo Neto lan�ou, pela Editora Jos� Olympio, um volume intitulado Poesia cr�tica, em que reuniu poemas cujo tema � a cria��o po�tica e a obra ou a personalidade de criadores, poetas ou n�o. � o artista refletindo sobre a Arte e sobre seu pr�prio trabalho, consciente de seu of�cio. No pref�cio, o poeta assim se manifesta:

"Talvez possa parecer estranho que passados tantos anos de seus primeiros poemas, o autor continue se interrogando e discutindo consigo mesmo sobre um of�cio que j� deveria ter aprendido e dominado. Mas o autor deve confessar que, infelizmente, n�o pertence a essa fam�lia espiritual para quem a cria��o � um dom, dom que por sua gratuidade elimina qualquer inquieta��o sobre sua validade, e qualquer curiosidade sobre suas origens e suas formas de dar-se."

A partir de 1950, o poeta pernambucano apresenta uma poesia ,cada vez mais engajada, aprofundando assim a tem�tica social. E o caso de O c�o sem plumas, ou seja, o pr�prio rio Capibaribe, que recolhe os detritos do Recife:

"Aquele rio
era como um c�o sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da �gua do copo de �gua ,
da �gua de c�ntaro,
dos peixes de �gua ,
da brisa na �gua.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras."

0 rio Capibaribe voltaria a ser tema - e personagem - de outro poema: "O rio ou rela��o da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente � cidade do Recife". Entretanto, a poesia participante s� traria o reconheci, mento popular a Jo�o Cabral a partir do poema dram�tico Morte e vida severina (Auto de Natal pernambucano) musicado por Chico Buarque de Holanda e encenado no TUCA (Teatro da Universidade Cat�lica de S�o Paulo) na d�cada de 60. O espet�culo percorreu v�rias capitais europ�ias e brasileiras, ganhou in�meros pr�mios e aproximou, pela primeira vez, do grande p�blico a obra de Jo�o Cabral de Melo Neto.

Fonte:
NICOLA, Jos� de. Literatura Brasileira das origens dos nossos dias. Ed.15. S�o Paulo. Scipione.

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Colaborou: Verônica d'Ávila.

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