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CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS
texto do Trabalho Machado de Assis

1) Quanto a visão de mundo

a) Pessimismo: a concepção de mundo que transparece na obra Machadiana marca-se por um acentuado pessimismo, uma visão trágica e amarga da existência humana.

Tédio por dentro e por fora. Nada que espraiasse a vista e descansasse a alma.

(Quincas Borba)

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

(Memórias póstumas de Brás Cubas)

Nessa visão pessimista de mundo, a natureza aparece como mãe e inimiga, mantendo-se impassível diante do sofrimento humano. Trazendo em si a vida e a morte, a natureza mata quando não precisa mais do indivíduo. Num dos capítulos de Memórias póstumas de Brás Cubas , a natureza aparece personificada em uma figura feminina que diz ao moribundo Brás Cubas:

- Chama-me Natureza ou Pandora; sou mãe e tua inimiga.
- ...eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a me devolver o que te emprestei.

Ao caracterizar a figura da natureza, Brás Cubas afirma:

Só então pude ver-lhe o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da volante imóvel.

O sofrimento é visto como coisa inerente à própria condição humana mas, apesar disso, o homem ama a vida e apega-se a ela.

- Que mais queres tu, sublime idiota?
- Viver somente, não te peço mais nada.

b) Humor: é uma espécie de válvula de escape diante da constatação da miséria do homem. Esse humor, às vezes bastante irreverente, pode transformar-se em ironia e tem função crítica, pois conduz o leitor a refletir sobre a condição humana.

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.

(Memórias póstumas de Brás Cubas)

c) Denúncia da hipocrisia e do egoísmo: no universo criado por Machado de Assis, os bons sentimentos, quando surgem, escondem sempre uma outra face, egoísta e hipócrita.

Quem não sabe que ao pé de cada bandeira pública, ostensiva, há muitas vezes outras bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não raras vezes sobrevivem?

(Memórias póstumas de Brás Cubas)

d) Ironia: é também uma maneira de fazer o leitor refletir sobre a vida. Um episódio que exprime esta característica claramente pode ser exemplificado por este a seguir, de Quincas Borba.

- Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição de sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz neste caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor, as batatas.

 

2) Quanto às personagens

As personagens criadas por Machado de Assis não são seres extraordinários, mas homens comuns, que apresentam uma mistura de sentimentos, às vezes contraditórios. Tendo a complexidade de qualquer ser humano, torna-se difícil classificar tais personagens em boas ou más, como acontece, por exemplo, com a maioria das personagens dos romances naturalistas.

Em Machado, o que interessa não é a descrição do exterior. O autor penetra na consciência de cada personagem, descrevendo seu mundo interior, onde encontra, com freqüência:

a) Paixão pelo dinheiro:

... negociava com o único fim de acudir a paixão pelo lucro, que era o verme roedor daquela existência.

(Memórias póstumas de Brás Cubas)

b) Egoísmo:

Seria singular que esta mulher, que não tinha amor àquele homem, não quisesse dá-lo de noivo a prima, mas a natureza é capaz de tudo...

(Quincas Borba)

c) Medo da opinião alheia:

Teme a obscuridade, Brás; foge do que é ínfimo. Olha que os homens valem por diferentes modos, e que o mais seguro de todos é valeres pela opinião de outros homens.

(Memórias póstumas de Brás Cubas)

d) Dissimulação, principalmente nas personagens femininas:

Capitu não se dominava só na presença da mãe; o pai não lhe metia mais medo. No meio de uma situação que me atava a língua, usava palavra com a maior ingenuidade desse mundo... Alegou susto e deu à cara um ar meio enfiado; mas eu, que sabia tudo, vi que era mentira e fiquei com inveja.

(Dom Casmurro)

e) Vaidade:

Por que é que uma mulher bonita olha muitas vezes para o espelho, senão porque se acha bonita, e porque isso lhe dá certa superioridade sobre uma multidão de outras mulheres menos bonitas ou absolutamente feias?

(Quincas Borba)

3) Quanto à temática

Nos contos, crônicas e romances de Machado de Assis certos temas aparecem com bastante freqüência:

  1. a relatividade dos conceitos morais;
  2. a transitoriedade da vida;
  3. o tédio;
  4. a loucura (Tema do conto O Alienista )
  5. a predominância do mal sobre o bem;
  6. a vaidade;
  7. o adultério (Tema suposto de Dom Casmurro)
  8. a inconstância do ser humano;
  9. a contradição entre a aparência e a essência.

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