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OBRAS Machado de Assis destacou-se principalmente no romance e no conto, embora tenha escrito ainda poesias Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), Ocidentais (1901) -, crônicas e peças de teatro. Exerceu também a crítica literária, tendo escrito alguns trabalhos importantes, que revelam um intelectual consciente do valor da crítica numa literatura nascente, mostrando-se aberto à compreensão das transformações que cada geração deve trazer a arte. Além de numerosos prefácios e ensaios, destacam-se, de sua produção crítica, três estudos: Instinto de nacionalidade, A nova geração e O primo Basílo (este último a respeito do famoso romance de Eça de Queirós). Os Romances Com Ressurreição, publicado em 1872, Machado de Assis inicia sua carreira de romancista. Entre esse primeiro livro e o último, Memorial de Aires (1908), percebe-se uma lenta evolução, que faz de sua obra uma das mais importantes de nossa literatura. Seus quatro primeiros romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) representam, por assim dizer, a primeira fase da produção de Machado de Assis. Embora estejam presentes traços românticos na representação das personagens e na estruturação do enredo, essas obras já revelam, ainda que timidamente, as características que marcarão a fase realista e madura do autor, como o interesse na análise psicológicas das personagens, certo humorismo, os monólogos interiores e os cortes na ordem linear das narrativas. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), que é uma espécie de divisor de águas da obra machadiana, e nos livros posteriores Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1889), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908) essas característica predominarão, revelando o interesse cada vez maior de Machado de Assis em aprofundar a análise o comportamento humano. Nessa análise, Machado vai além das aparências e procura atingir os motivos essenciais da conduta do homem, descobrindo neles o egoísmo, a luxúria, a vaidade. Por trás dos atos aparentemente bons e honestos, ele surpreende as intenções verdadeiras, o orgulho e a cobiça, desmascarando a hipocrisia humana. Seu humor tinge-se, então, de pessimismo, de uma ironia amarga e cruel. A vida surge como campo de batalha, onde os homens lutam e procuram destruir-se para gozar poucos momentos de prazer e satisfazer seus desejos de riqueza e ostentação. A natureza assiste ao drama humano com indiferença, e a religião não é senão uma máscara para encobrir o egoísmo dos indivíduos. O enredo, a ação e o tempo da narrativa não têm uma seqüência linear, ficando subordinados ao interesse da análise. Os fatos só têm sentido em função do exame da consciência humana. A lógica da narrativa é predominantemente interna. Os contos Em termos de valor literário, o conto brasileiro, no século XIX, atingiu seu ponto mais alto com Machado de Assis. Dotado de grande talento para a história curta, Machado descreveu um grande número de contos, e alguns deles são verdadeiramente obras-primas de análise do comportamento humano, tais como "O enfermeiro", "A cartomante", "A igreja do Diabo", "O alienista", "Pai contra mãe", "A causa secreta", "Conto de escola", "Noite do almirante", "O espelho", "Missa do galo", entre outros. Machado deixou publicados os seguintes livros de contos: Contos fluminenses (1870), Histórias da meia-noite (1873), Histórias sem data (1884), Várias histórias (1896), Páginas recolhidas (1899), Relíquias de casa velha (1906). Mais tarde, muitos outros textos esparsos foram relidos e incorporados a sua obra completa.
ESTUDOS Memórias Póstumas de Brás Cubas Devido a sua grande importância para nossa literatura, tanto por ser um dos principais livros de Machado de Assis como também por ser considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio Azevedo (ambos de 1881, como já foi mencionado), marco inaugurador do Naturalismo e do Realismo, faremos um estudo desta obra. Para maior assimilação, destacaremos um breve enredo do livro e em seguida, serão expostos alguns trechos que utilizaremos como exemplo para o estudo. Enredo De seus amores juvenis por Marcela, prostituta de luxo, a viagem à Europa a fim de esquecê-la, de sua relação com Eugênia, moça pobre e defeituosa de uma perna ao malogrado noivado com Virgília, cujo pai poderia favorecer-lhe a carreira política, Brás Cubas se caracteriza como perdedor. Dilapida a fortuna da família, torna-se amante de Virgília após esta se casar com Lobo Neves separando-se dela entretanto, quando perdem um filho que não chega a nascer. Finalmente a irmã de Brás Cubas arranja-lhe uma noiva que no entanto morre vítima de uma epidemia. Entediado e sem objetivo na vida, Brás Cubas encontra um colega de infância, Quincas Borba, interessando-se pelo humanitismo que esse último cria, ao mesmo tempo em que vai enlouquecendo e abandonando o amigo. A última tentativa de "dar certo" de Brás Cubas é a conquista da celebridade através da criação de um emplastro anti-hipocondria (mania de doença), denominado emplastro Brás Cubas. Ao tentar viabilizar este projeto, Brás Cubas apanha uma chuva, pega pneumonia e vem a falecer.
Narrando a vida de um homem que nada realizou, este livro tem Brás Cubas como personagem narrador. A situação fantástica através do qual foi escrito um "autor defundo", ou melhor, um "defunto autor" permite-lhe ironizar, ao mesmo tempo em que conta, o ato de contar (trecho 2) e também o que é contado. Veja, por exemplo, a comparação presente no primeiro trecho entre o livro e o Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia). Através de tal comparação fica subentendida ironicamente a superioridade do primeiro em relação ao segundo. Um outro exemplo da ironia machadiana ocorre quando Brás Cubas interessa-se pelo humanitismo, "teoria filosófica" criada por Quincas Borba, e que constitui, na verdade, uma crítica irônica de Machado de Assis às doutrinas positivistas e deterministas em voga na época. Quincas Borba enlouquece, e a personagem é retomada por Machado, assim como o humanitismo (onde então é melhor desenvolvido), em outra obra que pertence à chamada "fase realista". Trata-se de uma obra cujo título corresponde ao nome do filósofo-maluco Quincas Borba e cujo protagonista Rubião herdeiro do "filósofo", é um novo rico, a quem todos enganam, assemelhando-se, portanto, nos insucessos de sua vida, a Brás Cubas. Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro realista em sentido profundo na medida em que subverte as técnicas narrativas românticas, ironizando-as; assim como ironiza impiedosa e ceticamente os valores burgueses. Veja, por exemplo, suas personagens, Brás Cubas e Quincas Borba: ambos invertem a trajetória típica dos "heróis" do mundo burguês, uma vez que fracassam, demolindo o tema da ascensão social e do preço pago por ela geralmente no plano afetivo tão caro aos romances realistas franceses, como os de Stendhal e Balzac. Em outras palavras, Machado de Assis questionou os modelos ideológicos e literários importados pelo Brasil, e mostrou através de uma literatura vulgarmente chamada de pessimista, os avessos de nossas matrizes culturais impróprias; seja ridicularizando as correntes de pensamento deterministas e positivistas (exemplo: o humanitismo de Quincas Borba), seja substituindo o self-made-man (o homem que se faz por si mesmo) pelos derrotados que ironicamente "se vingam da vida" (Brás Cubas), seja através de uma personagem modelar como o agregado José Dias que sugere os procedimentos através dos quais a "política a favor", o "uma mão lava a outra" anunciado por Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um Sargento de Milícias) ocorre entre nós... (Dom Casmurro)
Esaú e Jacó Publicado em 1904, Esaú e Jacó é o penúltimo romance de Machado. O livro conta a história de Pedro e Paulo, filhos gêmeos de Natividade e Agostinho Santos. A vida dos gêmeos pauta-se pela rivalidade entre eles que, brigando desde o ventre materno continuaram a se desentender pela vida afora. Ambos se apaixonam por Flora, que também não consegue optar por um deles. A morte da moça une temporariamente os gêmeos, numa concórdia passageira. Mais tarde, também a morte de Natividade cria uma trégua entre ambos, mas novamente são pazes efêmeras. Para apaziguar a discórdia fraterna, de nada valem os conselhos de Aires, amigo de Natividade (e personagem narrador de outro romance de Machado, Memorial de Aires), nem as previsões de discórdia e grandeza feitas por uma adivinha (a Cabocla do Castelo), quando os gêmeos tinham um ano. O livro se encerra com a eleição de cada um dos irmãos a deputado, por dois partidos políticos, absolutamente irreconciliáveis: cumpre-se, assim, a previsão da adivinha: ambos seriam grandes, mas inimigos. Fonte do estudo Esaú e Jacó: Literatura Comentada Estudo de outras obras em: Críticas Literárias -
Profa. Lorena Bezerra |
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