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CRÍTICA LITERÁRIA - O ALIENISTA - MACHADO DE ASSIS
de: Profa. Lorena Bezerra

"De médico e Louco todos nós temos um pouco."
( Artigo Publicado pelo Jornal Diário de Pernambuco - Recife -PE)

Segundo o mestre Aurélio Buarque de Holanda: louco é aquele que perdeu a razão; alienado; extravagante; demente; que perdeu o bom senso e está dominado por intensa paixão... e a loucura seria a falta de discernimento, a insensatez, a imprudência ou simplesmente tudo o que foge às normas, que é fora do comum.

De acordo com definições tão amplas paremos a nos questionar: o que é a loucura? Quem são os loucos dos nossos dias? Como identificá-los? Quais são os comportamentos considerados normais pelas convenções sociais??? É normal se convencionar comportamentos e classificá-los em compartimentos estanques da mesma forma que convencionamos o nome das coisas? O que justificaria dizer que você está lendo um jornal e não um livro???

O alienista é o especialista em doenças mentais, atualmente mais conhecido como psiquiatra. Mas como delimitar a tênue linha que separa o sensato do insensato? Seria loucura apresentar deformidades físicas e debates histéricos em programas de televisão. O que as pessoas fazem hoje em nome do entretenimento? Queimam um semelhante vivo; assistem a programas de televisão onde outros se digladiam para ganhar um mísero cachê ou por pura inocência. O que é mais assustador é o índice de audiência de tais programas.

É normal um aluno passar o ano inteiro estudando na turma específica de saúde e ao final do ano prestar vestibular na UNICAP para direito, só porque é um curso concorrido?

Essas e outras pequenas nuances da loucura são recorrente na obra de grandes autores como Machado de Assis. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas as personagens frequentemente se desviam dos padrões normais de conduta; Quincas Borba é completamente doido e Bentinho (D. Casmurro) é obsessivo em seus ciúmes por Capitu.

A loucura é personificada em O Alienista por Simão Bacamarte, médico renomado da pequena vila de Itaguaí. Depois de criar a "Casa de Orates", manicômio, ele passa a aplicar suas teorias, inicialmente afirmando: "a razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia, só insânia". Posteriormente ao notar que a maioria das pessoas apresentavam algum traço de anormalidade, ele passa a admitir como "normal e exemplar o desequilíbrio das faculdades e como hipóteses patológicas todos os casos em que aquele equilíbrio fosse ininterrupto."

Justificando assim sua colocação que "a loucura, objeto de meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão começo a suspeitar que é um continente".

A Casa Verde  é esse continente que continua a receber mais e mais pacientes a serem curados pelo cérebro privilegiado de Simão Bacamarte que conclui: "- não havia loucos em Itaguaí; Itaguaí não possuía um só mentecapto. Mas tão depressa essa idéia lhe refrescara a alma, outra apareceu que neutralizou o primeiro efeito; foi a idéia da dúvida. Pois quê! Itaguaí não possuía um cérebro concertado ????????"

Confesse que é você quem está doido para desvendar essa loucura toda. Não demore, pois nunca é tarde demais para se descobrir loucamente apaixonado pela leitura e em particular por Machado de Assis.

 

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