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CRÍTICA LITERÁRIA - MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - MACHADO DE ASSIS
de: Profa. Lorena Bezerra

As memórias de um defunto autor
( Artigo Publicado pelo Jornal Diário de Pernambuco - Recife -PE)

Joaquim Maria MACHADO de Assis.  Segundo o dicionário MACHADO é um instrumento CORTANTE que se usa, encabado, para rachar lenha, aparar madeira, QUEBRAR amarras; nenhum nome mais propício para um homem que  ROMPEU com a tradição da linearidade narrativa do Romantismo e exigiu leitores seletos, inteligentes e críticos, para sua obra. MACHADO é ferino, mordaz, cortante como o próprio instrumento.

Faz de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, um livro divisor de águas na Literatura Brasileira, antes se trabalhava dentro de um esquema de começo/meio/fim; a partir dele observamos a fragmentação, na qual a ação e o tempo cronológico tornam-se secundários. O importante seria a análise profunda da personalidade das personagens.

Observe que a obra inicia pela dedicatória do defunto autor:

"AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS"

E qual seria o porquê de um defunto autor? Para atingir a total e completa LIBERDADE para ANALISAR, para ser sincero, para dizer as coisas que por educação ou por hipocrisia as pessoas evitam declarar; para retirar as máscaras sociais e mostrar o lado mais recôndito dos seres humanos, ou seja, a sujeira debaixo do tapete.

Por exemplo, na adolescência havia se apaixonado por uma dama espanhola, Marcela, e ao recordar tal fato conclui: "... Marcela amou-me durante quinze meses e onze conto de reis, nada menos." Ele usa a digressão aumentando a ironia corrosiva que permeia a obra, seus comentários são geniais, levando o leitor à percepção crítica das reais intenções das atitudes das personagens.

    "... Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. ... Daqui inferi que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas."

O pessimismo em Machado de Assis advém da constatação da sordidez da sociedade e da vileza humana, afastando-se completamente do tom penumbrista e meloso do pessimismo romântico. Ele conclui o livro com o capítulo das NEGATIVAS, no qual mostra que BRÁS CUBAS não conseguiu realizar praticamente nenhuma de suas metas em vida:  "Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento." No entanto ele ainda se acha vitorioso, um verdadeiro vencedor; "porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas:

- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

Vocês ainda estão aí ou já correram às bancas para comprar o livro???

 

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