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CRÍTICA LITERÁRIA - HELENA - MACHADO DE ASSIS
de: Profa. Lorena BezerraMachado de Assis no Romantismo: Nasce uma estrela
( Artigo Publicado pelo Jornal Diário de Pernambuco - Recife -PE)A formação do grande escritor realista Machado de Assis ocorreu ainda sob o signo do Romantismo enquanto ele lia Joaquim Manuel de Almeida (Memórias de um Sargento de Milícias) e escritores portugueses como Camilo Castelo Branco (Amor de Perdição).
O seu "romantismo" é menos derramado e mais bem elaborado que o dos outros escritores. Com pontos estéticos definidos, revela a consciência dos processos de elaboração e dos recursos a serem utilizados. Sua concepção é que o texto deve ser tecido metodicamente, sem pressa e sem erro e não apenas fruto de uma inspiração.
Mesmo em sua fase romântica Machado impôs a Literatura novos rumos: suas personagens não são tão previsíveis e lineares como as alencarinas; elas elaboram tramas, fazem maquinações, não são transparentes e com frequência mostram seus interesses pecuniários.
Machado "não obedeceu ao preconceito, então em rigor, de filiar à natureza tropical o feitio das criaturas, nem ao de fazer personagens exclusivamente boas ou más, tão caro ao Romantismo" (Lúcia Miguel Pereira). Embora usando os mesmos temas românticos ele o fez de modo peculiar, enfocando-os pelo lado psicológico enquanto a ação servia de pretexto para a elaboração de caracteres dos perfis das personagens. Por outro lado a estrutura narrativa ainda se conserva um tanto linear: com começo, meio e fim apesar de já vir permeada de comentários irônicos sobre as atitudes das personagens e sobre os costumes cariocas da época do Segundo Império.
A produção machadiana até 1881, quando será publicado o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, é considerada romântica. HELENA (1876) é o terceiro livro de sua primeira fase. Feito para satisfazer o público leitor de então, nos traz a história melodramática de um amor impossível entre Helena e Estácio, supostamente irmãos.
Há outros elementos românticos como: a estrutura folhetinesca; o mistério em torno da personagem central; o esboço do herói (Estácio); o suspense; a surpresa e o final trágico. Mas não existe apenas um núcleo de conflito, o autor faz questão ir além da narrativa da fatalidade de amor frustrado; ele revela a decadência dos hábitos e valores sociais daquela época, como por exemplo o casamento por interesse; o oportunismo político; o falso moralismo; e a ausência de conceitos religiosos sólidos. Estes pontos já prenunciam o Machado De Assis de DOM CASMURRO na denúncia da hipocrisia e das máscaras sociais e humanas. O leitor deve ficar atento para certos sutilezas irônicas para perceber os detalhes e o aprofundamento da obra machadiana.
Helena, filha natural de Salvador, que é pobre, e filha adotiva do rico conselheiro Vale, ama Estácio seu "irmão". Como numa novela de televisão a trama vai se desdobrando com a aparecimento de outras personagens: O Dr. Camargo tem todo interesse em casar sua filha Eugênia com Estácio; Dona Úrsula, "tia" de Helena, não a aceita no início da obra por julgá-la fruto de uma amor proibido. Ao final a redenção de Helena através da morte nos faz lembrar o desfecho de Lucíola de José de Alencar, quando ao mesmo tempo nos remete drasticamente para a teoria do HUMANISMO DE QUINCAS BORBA: AO VENCEDOR AS BATATAS. Helena foi fraca não aceitando as regras do jogo, sendo sensível, escrupulosa e pertencendo a uma condição social desprivilegiada. Sua morte é conveniente pois soluciona o problema do amor impossível e mostra uma crítica do autor a uma sociedade que favorece os inescrupulosos.
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